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The Last of Us Parte 2 | Uma jornada de vingança e luto

O mundo apocalíptico é precário. Bom, eu sei que não vivemos isso, pelo menos não ainda, mas entendemos bem como deve ser quando jogamos algo do tema, assistimos à filmes e séries. Perder sua liberdade, viver sempre com medo e batalhar todos os dias para permanecer viva em meio ao grande caos não é para os fracos. É necessária muita vontade e sangue frio, já que muitas vezes ser bonzinho nesse meio pode te deixar ferrado – vamos usar o português correto aqui para deixar tudo bem claro.

Quando pensamos em “The Last of Us” sempre lembramos do velho Joel que atravessou um pedaço do solo americano para levar a jovem Ellie, a promessa de uma cura sendo imune ao virus, ao grupo rebelde dos Vagalumes. Os riscos eram óbvios e sua morte era certa, mas com Joel ao seu lado isso não iria ocorrer e uma vacina não seria pensada. Muitos acham que pode ser egoísmo de sua parte ter feito o que fez, enquanto muitos – tipo eu – fariam o mesmo, afinal não deve ser uma decisão fácil de se tomar: “devo dar uma esperança de talvez salvar muitas vidas, mesmo sem total certeza, arriscando a vida de uma garota que atravessei o estado e acabei me apegando e tornando-a minha filha?”. Mesmo que você não faça com a intenção de deixar ninguém triste com a situação e escolha feita, infelizmente no apocalipse a lei não existe e o que chamamos de “karma” pode se tornar real por pessoas com uma cabeça quente.

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Em “The Last Of Us Parte 2” temos a passagem de quatro anos após os ocorridos do primeiro game, nos apresentando uma Ellie mais madura e independente, mas que aos olhos de Joel ainda é sua “garotinha”. Entendemos como está a cabeça dele após salvar Ellie dos Vaga-Lumes, como também a dela sabendo por Joel que sua imunidade não era o suficiente para salvar o mundo da grande pandemia apocalíptica – lembrando que Joel não contou a completa verdade dos ocorridos para a jovem.

Mas vamos começar esse texto pela história. Todos lembramos dos ocorridos e que sua finalização dava muitas aberturas, o que levou Ellie e Joel a se juntar com o grupo de Tommy e Maria, em Jackson. A cidade que conta com jovens, crianças e principalmente todos sobreviventes que só querem um lugar para se sentir a salvo daquele mundo perigoso. Tentarei ao máximo evitar qualquer tipo de spoiler, afinal não queremos estragar a jogatina de ninguém, então caso ocorra algo fiquem tranquilos que será avisado antes.

O desenvolvimento da continuação contém bastante base e peso emocional em cima de Ellie, procurando sua vingança através de um grupo chamado WLF, ou melhor Wolfs (lobos). Após sua chegada a Seattle atrás de respostas e ajudar Tommy, precisamos sobreviver a novos desafios, infectados mais evoluídos e grupos que vivem por lá – que já se encontram em guerra. Tudo caminha de forma fluida e natural, na qual momentos que podemos tocar uma musica no violão, fazer uma anotação em nosso caderno e ler algumas cartas encontradas são de extrema importância, que até mesmo podem levar o jogador para um flashback significativo para a trama e entender ainda mais o que se passa na cabeça de Ellie para estar naquela situação.

Os Wolfs – como já diz bem o nome – é um grupo liderado por Issac que apenas deseja sobreviver com todos e fará de tudo para conseguir, mesmo que seja necessário matar um amigo ou alguém de seu grupo. O bando para se proteger apenas carrega armas pesadas, mas também utiliza cães que farejam pessoas e outras criaturas durante suas caças e recolhimento de suprimentos.

Admito que foi bem divertido fazer a maior parte do tempo furtivo nesses momentos com o grupo, já que não queremos ser atacados pelos cães e também não queremos matar nenhum se forma alguma – só de lembrar que ataquei um sem querer na hora de fugir já me sinto a pior pessoa do mundo, mas enfim. A exploração acaba sendo mais complicada, na qual devemos nos virar nos 30’ para conseguir fazer tudo o que é desejado, mas se conseguir pelo menos eliminar os humanos já é algo que facilita, nem que seja um pouco.

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Captura do game “The Last of Us Parte 2” – Ellie e Dina

Outro grupo, e que sinceramente é o que desperta mais medo, são os Serafins – ou como todos chamam “Cicatrizes” -, por terem um corte em seu rosto. O grupo se comunica através de assobios para identificar se estão bem e quando intrusos são avistados. Eles sempre evitam conflitos com estaladores e todos que estiverem por ali, principalmente por usarem armas que são mais silenciosas na maior parte do tempo, como arco e flecha, martelos e facas.

Liderados pela fé em uma crença absurda, temos o grande grupo que é comandado por uma figura que representa a fé na humanidade e que tudo ficara bem se fizermos do jeito certo, aos olhos deles apenas. Com certeza, o grupo mais brutal que é enfrentado durante a campanha, dando até nervoso quando encontramos pelo caminho, mas que contém personagens bem interessantes dentro e como a possibilidade de algo assim ocorrer em um apocalipse é sempre gigante e possível.

Os personagens, sejam eles novos – como é o caso de Jessie e Dina – ou já conhecidos – Tommy e Maria – ganham uma atenção diferente nessa trama. Começando pelos conhecidos: acompanhar a forma que Maria cresceu e continua no comando de tudo sendo a chefe de uma comunidade, é algo incrivelmente bonito de se ver não deixando nenhum homem tomar seu posto; ganhamos uma proximidade diferente com Tommy dessa vez, entendo mais histórias e pelo que ele passou em fotos ou histórias contadas por outros, nada muito longo mas que vale a pena não deixar passar. Já quando falamos de novos personagens vamos focar apenas em dois no momento: Jessie é um dos guardas de patrulha de Jackson, sendo responsável por comandar o pessoal; já Dina, que por acaso é ex de Jessie, não só é incrível mas também o interesse amoroso de Ellie, mostrando o relacionamento das duas de forma muito natural e que dá gosto de acompanhar. Então, não acreditem nos preconceituosos por aí que andam jogando e reclamando que é forçado, já que eles simplesmente não aceitam o fato de que uma protagonista feminina e LGBTQ pode ser melhor que uma pessoa do sexo masculino e hétero. #maisamorgalera

Algo que é muito interessante no mundo de The Last of Us é essa questão de incluir aqueles que muitas vezes não tem voz nesse meio e merecem ser ouvidas, o que também serve de ensinamento para o publico quebrando todos os tabus de forma magnifica. Não só no caso de Ellie e Dina, mas também com Lev, membro do grupo dos cicatrizes e que também é transsexual mostrando toda a questão de aceitação dentro de uma comunidade religiosa, mas que mesmo que eles não aceitem muitos por ai entendem e aceitam da forma que ele é, sem nenhum tipo de preconceito, como é o caso de sua irmã Yara que foge com ele após decidir se libertar das amarras da sociedade raspando a cabeça – algo que é extremamente proibido dentro do grupo.

Agora pensando do lado de fora, o casting de atores dentro do projeto é incrível, contando com o retorno de Troy Baker (Joel) e Ashley Johnson (Ellie), temos Shannon Woodward (Dina), Laura Bailey (Abby) e Jeffrey Wright (Isaac). Não só a história é perfeito mas também seu elenco e vozes fazem aquilo tudo acontecer, ornando perfeitamente e sem erros. E talvez dentro dessa história personagens que mais chamaram minha atenção – obviamente que a Ellie nunca sairá de meu coração, mantendo o ranking do primeiro lugar – são: Dina, Abby e Lev, com menção honrosa para Jesse e Yara.

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Captura do game “The Last of Us Parte 2” – Abby, Lev e Tommy

Quando pensamos no final de uma geração de games e consoles, já pensando na proximidade da próxima, é claro que queremos algo com uma qualidade impecável e o menos possível de bugs, mesmo que no começo do lançamento sempre exista um ou outro, algo super normal. Desde o primeiro teaser de “The Last of Us 2”, todos já ficavam imaginando como seria só de apreciar aquele vídeo de 1 minuto. Após fotos serem reveladas, trailer e gameplay, não tinha dúvidas de que seria algo lindo e que faria nossos olhos brilharem. Toda a ambientação, floresta dominando tudo, o pôr-do-sol batendo entre as arvores, o movimento da água e até as coisas simples como o movimento da roupa e dos cabelos, mostram o quanto eles tiveram carinho e cuidado pensando na qualidade gráfica que aquela história merecia e o trabalho que pode dar – afinal ficamos sete anos aguardando. Não só os gráficos estão mais nítidos e repleto de infinitos detalhes, mas também sua mecânica deu uma grande melhorada, algo que no primeiro game já era ótimo.

Sabemos bem que Uncharted 4 aprendeu muito com a mecânica do primeiro TLOU, criando algo ainda mais real e de peso quando pensamos em um personagem que precisa pular e fazer um parkour pelo mapa. E agora presenciamos “The Last of Us 2” fazendo a mesma coisa e melhorando ainda mais certos quesitos. Talvez meu único problema em torno disso, seja a questão de pulo que as vezes parece um pouco contido, mas jogando pela segunda vez vi que realmente faz sentido ser dessa forma. Por exemplo, Abby é uma personagem grande e com muita massa corporal, então quando ela precisa pular seu movimento acaba sendo um pouco mais reduzido; já Ellie consegue se movimentar de forma mais fácil por ser pequena e leve.

Algo que gostei muito também foi como a nossa árvore de habilidades ficou maior e mais detalhada, dando mais possibilidades para a personagem e escolhas para o jogador. Não só isso, mas também a criação de objetos e upgrade de armas, devo dizer que me divertia muito fazendo modificações nas armas assistindo Ellie tirando e colocando peças. Pode parecer algo bobo, mas é bem interessante de se observar esses momentos, tornando tudo real e como deveria ser e não apenas surgir uma peça nova e pronto.

Temos uma gama de possibilidades, seja colocar uma mira melhor, estabilizar a forma que seguramos a arma antes do tiro, quantidade de valas na arma e por aí vai. São essas pequenas coisas dentro do jogo que fazem uma grande diferença para quem ama esse tipo de detalhe, assim como eu, mas também nos faz entender o carinho que eles tiveram para produzir algo que transportasse o jogador para aquela história.

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Captura do game “The Last of Us Parte 2”

No primeiro game já tínhamos a oportunidade de fazer uma boa exploração, mas ainda assim era bem específico os lugares que poderíamos explorar e buscar suprimentos. Agora as oportunidades cresceram, em que até mapa vamos marcando logo que chegamos em Seattle e precisamos encontrar gasolina para abrir os portões de segurança. Entramos em prédios, uma sinagoga e descemos em caminhões da FEDRA que sofreram emboscadas de outros grupos. Entramos de tudo um pouco, chegando até mesmo em uma loja de música para tocar um violão e presenciar uma das cenas mais bonitas do game – que me proporcionou vários momentos incríveis, mas esse em específico da arrepio só de lembrar.

A movimentação de ataque e defesa se encontra muito melhor, nós dando uma diferença bem grande novamente do peso de um soco dado por Joel e Ellie. No primeiro game, quando dávamos um soco em alguém com Joel, dava pra sentir o peso quando apertávamos o botão. Agora apenas com Ellie no controle sentimos algo um pouco mais leve, valendo a pena muitas vezes utilizar armas ou se manter no modo furtivo, principalmente pelo fato da personagem já andar com uma faca em seu bolso, não tendo a necessidade de ficar fabricando uma para matar os estaladores, igual Joel precisava fazer. Isso torna tudo um pouco mais fácil e difícil ao mesmo tempo, sendo um bom desafio para o player explorar novas táticas para passar daquele ponto.

Vale lembrar também a evolução de alguns infectados nesse mundo. Contamos com os corredores, que são os menos evoluídos com a doença que costumam ser os infectados mais recentes; espreitadores, o segundo estágio da infecção em que se escondem e atacam no momento certo; e o terceiro estágio, que chega nesse ponto com um ano da infecção, são os estaladores que possuem uma força maior que qualquer humano e são cegos, se guiando apenas pelo som. Contamos também com o baiacu e o tropeço, sendo que um é a evolução do outro, em que ele são gigantes e jogam bombas de gás em seu inimigo afetando sua visão e ficando mais fácil de atacar. Contamos com mais dois bem especiais, mas não comentarei muito para não estragar a surpresa que eles vão lhe proporcionar.

Captura do game “The Last of Us Parte 2”

É engraçado como “The Last of Us 2” despertou uma gama de sentimentos dentro de mim, de uma forma boa, que imaginava que poderia acontecer, mas não nessa proporção. Senti raiva, alegria, chorei, ri e tive medo, tudo acontecia de forma tão fluida e ao mesmo tempo não sabíamos o que poderia rolar, trazendo sempre uma surpresa e um soco no estômago. Dentro dos games, os meus sentimentos ficam bem mais expostos do que quando assisto um filme, talvez pela possibilidade de não só acompanhar aquela narrativa mas estar na pele do protagonista, o que faz uma grande diferença.

Os últimos jogos apocalípticos que conseguiram mexer assim comigo foram The Walking Dead da Telltale, é impossível não sofrer com a morte de Lee e a jornada de Clementine; e Death Stranding que mostra uma jornada de ligação em um mundo extremamente ferrado por algo ainda desconhecido, graças ao mestre Kojima.

The Last of Us 2” superou ambos, não só no quesito de ser um dos meus jogos e história favorito, mas também pelo simples fato de não ser um fan service saindo da sua área de conforto e deixando as pessoas desconfortáveis pelo que está por vir, mas novamente de maneira positiva. Não consigo pensar em nada negativo sobre esse game de tão perfeito que ele conseguiu ser, sendo facilmente um #goty no meu coração.

Novamente, esses personagens mostraram o que é viver nesse mundo perdido, em que por um breve momento existiu uma salvação mas ela foi levada para longe. Por um motivo egoísta? Pode até ser que sim, mas é muito mais que isso. Quando se perde tudo e uma ponta de esperança quebra o campo em volta de você que foi criado por anos, não queremos que ele suba novamente, então com toda certeza acho melhor viver em um mundo ferrado e tendo que sobreviver na correria, do que conseguir uma cura sem certeza e viver novamente dentro desse muro de perna de emoções. A vingança pode ensinar uma lição e fazer com que fiquemos perdidos e cegos? Sim, isso não tem nem o que discutir.

Mas afinal quem não teria esse mesmo extinto, igual o de uma mãe querendo justiça quando perde um filho para uma bala perdida, no meio aos caos sem lei por meio de um assassinato sem motivos – ou ate mesmo com – nem sempre podemos perdoar com a raiva a flor da pele, sendo necessário sofrer e escolher qual modelo de luto você deseja passar.

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Captura do game “The Last of Us Parte 2”

The Last of Us 2” não é apenas uma jornada por vingança, mas sim uma jornada de luto. A perde de alguém especial perante ao caos nem sempre é fácil, mas devemos decidir qual é a melhor maneira de seguir e nossas prioridades, já que afeta todos ao nosso redor.

A violência e sensação de desconforto muitas vezes existe, principalmente por momentos que não estávamos esperando passar, mas tudo isso vai valer a pena. No final talvez você se pergunte se realmente valeu a pena e gostou, eu mesma senti isso assim que acabei, mas refletindo tudo o que aconteceu faz muito sentido o rumo tomado e foi o que me fez gostar ainda mais do que estava em minha frente, fazendo valer os sete anos de espera e ansiedade para esse momento. A morte vem para todos, seja ela lenta ou rápida, mas antes disso podemos decidir a forma que queremos viver, mesmo que seja no meio de um caos global.

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Escrito por Guta Cundari

Do cinema para o jornalismo. Amante de filmes e games, fã filmes de terror trash e joguitos que duram meses. As Premiações pelo mundo todo que me aguardem e os noobs que sofram.

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