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Star Wars: Os Últimos Jedi (2017) | Velha roupa colorida

Chegamos ao oitavo da saga Star Wars. Desde Uma Nova Esperança até  Os Últimos Jedi, nós vimos muito, muito mesmo. Não dá pra dizer que já vimos de tudo, pois o universo da saga é imenso. Principalmente se levarmos em conta aquele conhecido por “expandido”.

Com mais de quatro décadas de idade, os personagens criados por George Lucas e que ao longo desse tempo todo foram nos conquistando, vivem novas aventuras. Mesmo aqueles que já se foram em um episódio o outro, sempre estará na memória afetiva de muita gente, seja fã número, seja fã numero 42, seja fã o número que for, quando se fala de Star Wars o que temos em mente é isso. Algo afetivo guardado dentro da gente como se fosse uma relíquia e que de certa forma, por gostarmos tanto, se torna quase intocável.

É notório que desde o momento que a Disney fez a compra a Lucasfilm nós sabíamos na potencia que Star Wars iria se transformar, nós sabíamos também que ela deixaria de ser uma franquia de filmes de um estúdio cinematográfico de Hollywood e se tornaria um produto universal. Acredito que não tenha uma pessoa no mundo, que não tenha ao menos ouvido falar essas duas palavras em inglês: “Star” e “Wars”, juntas para designar não só um filme, mas uma caralhada de coisas. E isso pra quem curte, é uma maravilha.

No dia 14 de dezembro de 2017, o mundo conheceu o oitavo episódio da saga. Dirigido por Rian Johnson, o novo filme de Guerra nas Estrelas nos transportas para logo depois dos acontecimentos de Star Wars: O Despertar da Força.

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A trama nos leva de volta ao conflito entre Primeira Ordem e Resistência. De um lado, a frota liderada pela general Leia Organa (Carrie Fisher) tenta escapar de um ataque à sua base, cuja localização foi descoberta pelos inimigos. De outro, temos Rey (Daisy Ridley), enfim, encontrando Luke Skywalker (Mark Hamill), com o âmbito de convencê-lo a voltar triunfalmente à Resistência, trazendo em seu retorno a fagulha de esperança de volta à galáxia – ao mesmo tempo que busca um mentor para ajudá-la em sua jornada heroica. Ambos os cenários se complicam ainda mais com as investidas de Kylo Ren (Adam Driver) e o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), que estão determinados em acabar com qualquer resquício dos Jedi e da República existentes.

Diferente do que foi Star Wars: O Despertar da Força (2015), onde tivemos em sua essência, uma reciclagem propriamente dita de Star Wars IV: Uma Nova Esperança, neste nós temos um filme onde todo mundo está tentando se encontrar. Obviamente se existe esse desejo em boa parte dos personagens, eles estão perdidos. Rey ainda clama pelo desejo de entender o seu passado para saber como seguir no futuro, e como a força age em seu corpo e também em sua vida. Kylo Ren está naquele conflito do característico de um vilão em formação. Ou seja, está entre o bem e o mal. Luke diante do fracasso que acha que cometeu num passado não muito distante, vive na amargura, apatia e incerteza de quão realmente útil ele pode ser para a Força que ele “abandonou” ou decidiu “desertar” pra “sempre”. Enquanto a Resistência vive um cerco muito forte da Primeira Ordem, o filme permeia nesse conflito de todo mundo querer encontrar um caminho, talvez um caminho para escrever algo novo. Algo que realmente a saga Star Wars precisa e muito!

Desde o inicio da nova trilogia e, principalmente em Star Wars: Os Últimos Jedi, tenho um sentimento que Star Wars perdeu a sua essência.  Por mais que ela traga em tela toda nostalgia do mundo, pra mim ela se foi.

Rian Johnson pode ser considerado o diretor mais autoral dos poucos diretores que já passaram pela franquia. Até ai ok. Como eu disse mais acima, é necessário mudar e ele ao menos fez isso. O problema é quando você se segura em dois pilares para não deixar um filme cair. São eles: memória afetiva e fan service. Enquanto Star Wars for visualmente lindo, colocar os personagens que tanto nos marcaram e que muitos amam de paixão em tela, e criar a cada perda de ritmo ou buraco no roteiro, algo épico que um fã da saga ainda não tenha visto ou que sente saudades em ver, tudo aquilo que tem de errado no filme como linguagem cinematográfica, ou seja, como cinema, passa despercebido.

Foi esse o sentimento que eu tive ao ficar mais de duas horas e meia sentado na cadeira da sala de cinema. Johnson se apegou onde ele sabe que o fã vai amar e não importa o que aconteça nas tomadas seguintes, se houver outro momento épico que fará com que todos batam palmas dentro da sala de projeção, o filme será perfeito. E, não, não é.

Quando você é devoto de algo, você não enxerga defeitos e muitos fãs de Star Wars são assim. E eu posso dizer que também sou assim com muitas coisas, não sou diferente de você ou de outrem, mas achei que era importante falar sobre. Me lembro da trilogia de O Senhor dos Anéis e de como ficamos anos sem nada relacionado à franquia até o surgimento de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012). Era o máximo que os fãs da franquia poderiam ter de mais próximo da obra de Tolkien – adaptada por Peter Jackson. E, talvez por isso, boa parte dos problemas que a trilogia de O Hobbit tem, passou batido. E isso aconteceu da mesma forma com Star Wars: Os Últimos Jedi.

Quando você usa a muleta de uma cena épica como uma nova forma de usar a Força, por exemplo, ou quando você mostra determinado personagem usando toda o poder máximo – referenciando Os Cavaleiros do Zodíaco-, fazendo ele elevar seu cosmo ao sétimo sentido para solucionar um conflito, tudo que está em volta disso não tem tanta importância. Se o espectador eliminar a perfumaria, ele vai conhecer realmente a essência de Star Wars: Os Últimos Jedi. E ela não é tão perfeita quanto parece.

Hoje, Star Wars não é mais franquia, é uma marca. Não é mais cinema, é fan film, não tem mais essência. Tem os pilares que vão fazer com que os fãs enxerguem na telona toda a memória afetiva que ele guarda dentro de si.

Ainda bem que Rian Johnson deu jeito de zerar tudo e agora é possível recomeçar do zero. Como dizia Belchior em uma das suas canções marcantes do álbum Alucinação, “Velha Roupa Colorida”, o passado é uma roupa que não nos serve mais. Para Star Wars seguir e, a fagulha de esperança na galáxia continuar existindo, é necessário deixar todo o passado pra trás. Deixar tudo aquilo que nós já vimos apenas como uma peça de acervo de um museu. Ela  vai continuar lá pra quando a gente quiser revisitá-la. Mas é algo que não cabe mais.

Tomara que daqui para a frente vejamos o novo e que os pilares que diretores, roteiristas e produtores se apeguem é a essência da obra criada por George Lucas e não a velha roupa colorida.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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