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O nerd e o complexo estético de lobo do Pica-Pau

Semana passada tivemos o anuncio da nova Graphic Novel da Mauricio de Sousa Produções (MSP) intitulada “Tina – Respeito“, que será escrita e desenhada pela artista Fefê Torquato. Um gibi muito esperada pelos fãs da Turma da Mônica pois traria uma visão nova e modernizada de uma personagem bastante importante criada por Mauricio de Sousa.

Tudo estaria bem dentro desse lançamento se não fosse o momento em que os nerds e “leitores” que viram a capa do gibi não tivesse seu complexo estético de lobo do Pica-Pau atacado por causa da Tina não ser a personagem gostosona, e sim representada por uma mulher sem estar vestindo pouca roupa ou exibindo os peitos na capa do quadrinho.

Uma preocupação besta e percebendo o quanto esse gibi é importante para a representatividade, principalmente para uma monte de crianças que estão lendo pela primeira vez as histórias da personagem. A internet novamente está julgando as coisas antes de se quer abrir o quadrinho pra ler.

Se você estava perdido no espaço tempo, as Graphic MSP são uma série de quadrinhos, onde alguns dos grandes quadrinistas dos País criam uma visão particular dos personagens criados por Mauricio de Sousa, dentre elas temos destaques como “Turma da Mônica Laços”, feita por Vitor e Lu Caffagi, que recentemente inspirou o filme de Daniel Rezende, e “Astronauta” feita por Danilo Beyruth e Cris Peter, que vai ser adaptada em uma animação para HBO Brasil. “Tina – Respeito” é a 24ª publicação dessa coleção que conta com muitos best sellers.

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O caso da Tina é só mais um na verdade dentro da Internet. Seja aqui especificamente no Brasil ou em outros países, recentemente vemos nos deparando com esse tipo de linchamento virtual de artistas de quadrinhos ou de outras mídias da cultura pop. Um sentimento nostálgico vazio de que o mundo gira em torno dos homens que objetificavam as mulheres em todas as mídias. Algo que chamo de “complexo de Lobo do Pica-Pau”, aquele personagem que vivia atacando todas as mulheres ao seu redor, sempre achando que iria se dar bem e acabava chupando o dedo porque não sabia respeitar nenhuma delas.

Recentemente, vimos o caso da chuva de reclamações quando a estética adotada pelo Noelle Stevenson em She-Ra, animação que faz bastante sucesso com público infantil da Netflix. Assim como vimos a chuva de comentários machistas durante a mudança do uniforme da Estelar durante o DC You, ou quando a Miss Marvel Carol Danvers mudou seu uniforme para um todo fechado quando se tornou a Capitã Marvel, ou pior, quando a Valiant lançou “Faith” e quando alguns homens diziam que não leriam a personagem porque ela era obesa.

A verdade é que vivemos em um tempo em que as pessoas tornam como pessoais as mudanças que ocorrem nos quadrinhos, quando na verdade isso tudo é a mídia se tornando mais acessível e mais amigável com qualquer um que tenha acesso ao gibi. Esse é o caminho mais inclusivo. Além de não entenderem que existem várias formas dos mesmo personagem serem retratados e não apenas o que algumas pessoas têm como “certo”.

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Ano passado entrevistei a Fefê Torquato durante a CCXP e ela explicou que sua ideia para a personagem era mostrar o quanto a Tina era historicamente empoderada e queria mostrar isso na aventura que estava escrevendo. Além disso, os “fãs” da personagem reclamaram das listras da camiseta e não sabem qual era a roupa original da personagem, como a artista bem pontuou no seu twitter dias antes dos ataques.

O grande tribunal da internet, julga, lincha e ataca… Sem pensar em como as pessoas lidam com críticas ou se estão fazendo isso da forma correta. Hoje estamos em uma sociedade que acha que não é necessário estudar e quer opinar em tudo porque pode se esconder atrás de telas. O grande problema é cada vez mais relativizar e criminalizar quem pensa diferente, e pior ainda é quando você for a vítima e não tiver para quem gritar pedindo ajuda. Então seu Lobo do Pica-Pau, está na hora de pensar até quando vai tentar morder a gostosona da história e acabar ficando sozinho.

Escrito por Pablo Sarmento

Oi! Eu sou Pablo Sarmento, inventei de escrevi sobre gibis e acabei me tornando meu pior inimigo dentro de um multiverso de versões de eu(s) mesmo(s).

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