HQ do Dia | Primavera em Tchernóbil
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HQ do Dia | Primavera em Tchernóbil

Um olhar diferente sobre a região de exclusão do maior acidente nuclear da história da humanidade

Eu já li quadrinhos de diversos gêneros e alguns como o jornalismo em quadrinhos, por exemplo, me chama mais a atenção. Não sei explicar o motivo, talvez possa ser por ver um pouco da minha profissão sendo retratado de outra forma ou por mostrar que há verdade por trás de traços artísticos, balões e recordatórios também.

“Primavera em Tchernóbil” carrega esse gênero em suas páginas e não tinha como ser diferente. Olhar para o maior desastre nuclear da história não pode ser ficcional. O dia 26 de abril de 1986 ficou conhecido como o início do fim para os habitantes que viviam ao redor da usina ucraniana. A região era moderna, cheio de vida, respirava prosperidade e tecnologia, mas tudo que é sólido pode derreter e foi assim que praticamente o mundo acabou. Quer dizer, não o meu e o seu que está lendo esta resenha, mas de mais de cinco milhões de inocentes quando um dos reatores nuclear derreteu.

HQ do Dia | Primavera em Tchernóbil

Enquanto eu que tinha apenas alguns dias de vida – nasci em 10 de abril do mesmo ano -, e outras pessoas do mundo que estavam a milhão vivendo a adolescência, a fase adulta ou a velhice dormiam, uma nuvem de radiação saía do leste europeu e viajava por milhares de quilômetros em várias direções impregnando tudo que via pela frente.

20 anos depois, em abril de 2008, um grupo de ativistas e artistas resolvem voltar a Chernobyl a fim de documentar a vida dos sobreviventes da tragédia, que vivem nas terras contaminadas. O francês Emmanuel Lepage é um deles, e tudo que ele viu nos dias que passou colocando sua vida em risco ao lado de seus parceiros é o resultado de “Primavera em Tchernóbil”.

A edição brasileira publicada pelo selo Geektopia do Grupo Novo Século, surpreende pelo tamanho, formato e acabamento. São 168 páginas que dariam vários quadros, mas você fica se perguntando como é que a visão crua sobre uma tragédia pôde ser considera por mim como uma obra de arte? Bom, é o que a abordagem de Lepage fez de tudo que faz você se surpreender com o andamento da leitura. Não se trata de histórias simples com narrativas pré-formatadas, mas sim de um sentimento puro que deu outro significado pra vida do jornalista e ilustrador francês.

HQ do Dia | Primavera em Tchernóbil

Antes de embarcar na missão, Lepage estava sofrendo bastante com dores nas mãos e isso o impedia de desenhar como sempre soube. Ele ficou tão mal com tudo, que cogitou em vários momentos desistir do projeto. Com a força de seus parceiros e todo o esforço de entidades da classe artística e ongs que estavam apoiando o projeto, ele embarcou pro vale da morte mesmo limitado.

Ao chegar lá ele se deslumbrou com tudo o que viu e sua surpresa é o que surpreende também quem lê. Em um lugar onde ele achou que haveria morte, ruínas e seres humanos deformados ou que tivessem sofrido algum tipo de mutação, Lepage encontra vida. Vida vivendo neles, vida vivendo em meio aos apitos de aparelhos que detectam radiação e vida que começa a pulsar também dentro do autor. Enquanto o mundo girava, Chernobyl parou, mas não pra alguns e muito menos para o autor.

HQ do Dia | Primavera em Tchernóbil

Nas páginas de “Primavera em Tchernóbil”, Lepage questiona por muitas vezes a sua missão, ele foi mandado direto para a reprodução do inferno na Terra para registrar o legado do desastre, mas tudo que encontrava era vida e essa sensação se confunde até mesmo com o momento dele na missão. Ele se renova, se motiva, esquece das dores e encontra a vida, a vida que faltava nele.

Eu falei muito sobre vida e “Primavera em Tchernóbil” deveria ser sobre morte, mas não foi o que eu também encontrei. Aliás, enquanto as lágrimas corria, eu vi poesia, sentimentos e arte, muita arte. Arte que eu nem sabia que dava pra expressar nas páginas de um gibi.

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Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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