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O Rei Leão (1994) | O suprassumo das animações Disney

Os estúdios Walt Disney são conhecidos por uma quantidade expressiva de longas-metragens animados – e mais, por sua qualidade irrefutável. Desde seu surgimento em 1937 com “Branca de Neve e os Sete Anões”, a companhia tornou-se pioneira nas mais diversas revoluções tecnológicas e provou que, quase cem anos depois, ainda tem muitas histórias para contar. E, nesse meio-tempo, aproveitou para nos entregar pequenas pérolas cinematográficas que se equiparam aos grandes dramas da indústria audiovisual e servem como inspiração para diversas narrativas contemporâneas.

Uma dessas joias é, sem dúvida alguma, o filme intitulado “O Rei Leão” (1994). Chegando às suas bodas de prata neste ano – e também ganhando uma aguardada versão em live-action­ –, a produção reside em um patamar inquestionável de beleza estética e competência prosaica. A trama principal é baseada livremente na peça “Hamlet”, escrita pelo dramaturgo William Shakespeare entre os anos de 1599 e 1601. Porém, conhecendo o modo como a companhia trata suas investidas fílmicas, nada seria entregue de bandeja ou tratado como uma simples recriação: em vez disso, os diretores Rob Minkoff e Roger Allers transformam a tragédia dinamarquesa em um coming-of-age para todas as idades, transformando-o em uma dramédia musical atemporal.

Mesmo quase três décadas mais tarde, a qualidade cênica não sofre as eventuais perdas da datação. Com um jovem protagonista aprendendo à força que a vida é muito mais cruel do que aparenta, a história permanece em um comovente dialogismo com as novas gerações, seja pelo dinamismo musical de Elton John e de Hans Zimmer, seja pelas reviravoltas necessárias e chocantes. Não é à toa que o longa abra com o jovem Simba (Jonathan Taylor Thomas) sendo reverenciado e aplaudido por todos os animais da misteriosa savana africana, ao som da épica “Circle of Life” nas vozes de Carmen Twillie e Lebo M. A partir daí o futuro rei passa por algumas transformações que o levam de um mimado filhote para um poderoso guerreiro (agora encarnado por Matthew Broderick).

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O pano de fundo é mais sombrio do que aparenta e faz um ótimo uso de ácidas sacadas para aprofundar a complexidade dessa animalesca epopeia. Simba é levado a acreditar que foi responsável pela morte de seu pai, Mufasa (James Earl Jones) por pura irresponsabilidade e infantilidade; ele é obrigado a crescer na companhia do adorável dueto formado por Timão e Pumba (Nathan Lane e Ernie Sabella, respectivamente), enterrando os fantasmas de seu passado até que eles retornam de forma inesperada; e, sem qualquer preparo, volta ao decadente reino que lhe pertence por direito para lutar contra uma horda de hienas famintas e seu cruel tio Scar (Jeremy Irons).

Minkoff e Allers fazem um ótimo trabalho ao permitir que cada um dos personagens seja de extrema importância – e até mesmo os breves deus ex machina são válidos no contexto de cada cena. Irons faz um trabalho esplendoroso ao dar vida a um dos vilões mais irônicos e envolventes do panteão Disney, além de carregar a arquetípica e simbólica sequência de “Be Prepared”, em que deixa claro para o público quais são suas reais intenções. Dono das falas mais irreverentes e bem elaboradas do filme, Scar ainda nos causa pesadelos e representa o ápice da maldade por diversas razões bastante explícitas; enquanto isso, Nala (Moira Kelly) é construída propositalmente como apoio ao protagonista, mas não é jogada para debaixo do tapete, unindo-se ao verdadeiro rei do orgulho para lutar contra as forças das trevas.

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Timão e Pumba funcionam como o escape cômico e também são donos da tropical e etérea “Hakuna Matata”, um dos hinos mais lembrados da animação. Carregando uma espécie de rebeldia que nos recorda de fiéis escudeiros importantes de obras predecessores – como o Gênio da Lâmpada em “Aladdin” (1992) ou Sebastião, de “A Pequena Sereia” (1989) -, eles também possuem seu arco dramático que culmina no convencional final feliz, em que o bem vence o mal e todas essas resoluções que conhecemos de cabo a rabo.

Além da qualidade imagética, que não é desconhecida para o público, a produção também excede no quesito musical. Zimmer ficaria anos depois ainda mais conhecido por seu trabalho na trilogia “O Cavaleiro das Trevas” ao lado de Christopher Nolan, mas já causava barulho há algum tempo e não fez diferente aqui. Em contraposição às canções, o compositor orquestra um crescente épico cujo principal objetivo é nos agonizar até os últimos momentos; John, por sua vez, opta por imprimir sua identidade em cada uma das tracks, seja em baladas como “Can You Feel the Love Tonight?”, que recebeu diversos prêmios à época de seu lançamento, seja na retumbante “I Just Can’t Wait to be King”, que se deixa levar pela potência dos tambores africanos.

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“O Rei Leão” carrega consigo esse título por um motivo: o longa representa o suprassumo das animações Disney ao lado de uma seleta lista. Sua mera existência já é gatilho para um legado diverso que inclui adaptações teatrais, sequências cinematográficas, spin-offs seriados e um dos remakes mais aguardados do ano. E mais: a animação é uma das poucas obras que, por não ceder a um confinamento superestimado, é revisitado por qualquer um, a qualquer hora, em qualquer lugar – e ainda causa as mesmas sensações deliciosas que causou quase trinta anos atrás.

Escrito por Equipe Proibido Ler

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