in

HQ do Dia | The Boys – O Nome do Jogo

Garth Ennis não possui amarras quando escreve sua histórias, violência, humor negro e críticas sociais são as marcas registradas do autor. Olhe para Justiceiro, Preacher e outros dos seus trabalhos e enxergará muito bem isso. Com o anúncio que “The Boys” viraria série pela Amazon, a curiosidade tomou conta de mim e comecei a leitura para descobrir o mundo caótico que o roteirista poderia oferecer, nada heroico e muito deturpado definem o quadrinho.

A HQ teve sua primeira edição publicada por ninguém menos que a DC Comics em 2006, mas o apelo gráfico com violência e a maneira como eram tratados não agradaram a editora, sem pensar duas vezes cancelaram o título. Dynamite que não é boba nem nada, viu um grande potencial e abrigou o título durante suas 75 edições e minisséries que foram lançados no decorrer de 2006 a 2012. Aqui no Brasil, “The Boys” está sendo lançada pela editora Devir desde 2013 em alguns encadernados (corre atrás que está no nono volume).

Em sua história temos um mundo muito parecido com o nosso, a diferença que neles existem heróis, muitos são vistos como deuses, símbolos de salvação, dominam os céus e agradam a população, especialmente os políticos que ganham suas boas ações, mas entre rostinhos bonitos e uniforme brilhantes, escodem segredos obscuros e sádicos que muitos ficariam enojados. A maioria  acredita ser dona da verdade e que pode fazer o que bem entender, se sente superior com seus poderes, mas até que ponto os limites são extrapolados com isso prejudicam o mundo e sociedade em vez de ajudá-los?

Leia mais: HQ do Dia | Virgem Depois dos 30

Mais cedo ou mais tarde tais ações dos heróis seriam um problema. A CIA pensando nisso cria uma organização na surdina intitulada “The Boys” (Os Rapazes por assim dizer), um grupo de pessoas comuns que utilizam de meios imprudentes para dar um jeito nos heróis quando eles ultrapassam os limites, formada pelo líder Billy Carniceiro, Hughie Mijão, Leite Materno, Francês, e A Fêmea, todos partilham de um mesmo sentimento: odiar heróis.

No primeiro olhar duvidamos que os próprios heróis fossem capazes de tanta discórdias, mas o decorrer da história prova que eles acreditam estar acima da lei, apesar das mortes causadas pelos próprios, ele segue curtindo e aproveitando a vida como se vidas fossem apenas números, e demonstram isso das piores maneiras, com drogas, bebedeiras e orgias das mais impossíveis, tudo para nutrir o próprio ego inflado e desenfreado.

Garth Ennis explora o lado sádico e perturbador com uma pitada de humor negro tanto nos heróis como na própria equipe “The Boys”, nesse mundo criado não existe mocinhos e vilões, mas sim pessoas que querem atingir objetivos e passar por cima de tudo, o certo e errado é subjetivo, mesmo Billy Carniceiro usa do sexo para conseguir os contratos e autorizações para atingir os heróis através do seu contato da CIA. O próprio sexo é usado como uma válvula de escape, onde deixa de ser um prazer mundano para se tornar uma moeda de troca em meio a um vício necessário.

O autor usa do personagem Hughie Mijão para nos colocar na trama, pois todo o universo é vistos através de seus olhos inocentes como se fosse telespectador, o novato que ao entrar na equipe questiona tudo e a todos, aqui temos nossas próprias dúvidas se realmente não existe mais esperança e somos fantoches e causas para uma possível solução, para descontrair o clima tenso e cheio de violência, Ennis utiliza muito das piadas pesadas sem graças mas com aquele teor indireto sobrando até mesmo para um famoso teste do sofá.

Leia mais: Alan Moore se aposenta, mas seu legado é eterno

A arte de Darick Robertson ressalta bem o clima pesado, com sua arte suja ele traz o explícito na violência com órgãos desmembrados e sangue como uma torneira escorrendo, enquanto o sexo fica  escondido entre sombras e cortes, seus personagens têm traços realistas e são nas expressões de loucura e pudor que crescem ainda mais na narrativa.

“The Boys” não é simples, uma leitura que deve ser encarada de mente aberta, com suas artimanhas de usar a violência e humor para favorecer críticas sociais, onde o questionamento é o poder que damos em qualquer símbolos e celebridades, muitos fãs de super-heróis não ficaram gratos e odiaram a obra, mas isso é justamente o que Garth Ennis quis, demostrar que nem tudo é preto no branco quando criamos nossos heróis.

Escrito por Rafael Tanaka

Publicitário, amante de cinema, quadrinhos, filmes e séries. Sempre existe coisas para se descobrir nesse mundo da cultura pop.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Loading…

Um amor chamado Lizzo

HQ do Dia | Não tá Fácil pra Ninguém