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Alan Moore se aposenta, mas seu legado é eterno

Alan Moore é um dos maiores quadrinistas que já pisou na face da terra. Dono de uma personalidade forte e opiniões polêmicas, ele nunca negou seus princípios e ideais levando tudo que sempre acreditou para as páginas dos quadrinhos. Um homem que nunca se deixou levar por dinheiro, fama e outras coisas, pois no fim de tudo o seu valor artístico era muito mais importante que todo o dinheiro do mundo.

Nascido na cidade de Northampton, Alan Moore começou bastante jovem a escrever seus quadrinhos, primeiro em tiras e depois pra renomada 2000AD até chegar no seu trabalho que fez ficar conhecido nos Estados Unidos. A obra chamada “Miracleman”, onde ele faz uma releitura do personagem de Mick Anglo e simplesmente desconstrói todo o trabalho do criador da série, criando um épico onde um jornalista se transforma em um semideus dando origem à uma sociedade utópica.

Alan Moore fez um trabalho tão impactante que após 16 edições, ele já mostrava que tinha força, voz e atitudes que poderiam mudar a forma de consumir quadrinhos no mundo. Um autor que gostava de tramas políticas, que fazia críticas ao seus governantes e a uma sociedade enrijecida por suas velhas tradições.

Esse autor era um grito de liberdade para uma nova geração de criativos, que encontraram na contracultura dos quadrinhos um lugar para mostrar que eles poderiam fazer arte acessível e com uma mensagem importante para a juventude da época.

Foi com esse intuito que o autor desembarca nos Estados Unidos e assina um contrato com a DC Comics para escrever sua fase mais longa em quadrinhos de heróis. Nesse momento nascia uma a saga do “Monstro do Pântano” e todo a revolução dos quadrinhos acabava de nascer. Nessa nova era de quadrinhos, os protagonistas eram muito mais que meros personagens bidimensionais, eram profundo e tinham objetivos bem estabelecidos. Uma nova forma nova de escrever HQs. Discutia-se temas importantes para sociedade. Progressista nato, sempre brigou por direitos iguais para todos e uma sociedade diversificada. Isso é objeto das suas histórias e muitas vezes críticas a sociedade americana. 

Com essa bagagem ele poderia transformar qualquer persona dos quadrinhos em algo mais interessante, as personalidades eram algo além dos seus poderes e dos clichês que normalmente eram a regra de alguns mitos dos gibis. Era uma evolução que mostrava que os gibis também poderiam se tornar objeto de estudo acadêmico e alçava o estilo à um tipo de arte que ainda não havíamos tido tanta compreensão. O mago de Northampton é a pedra angular de toda a mudança de uma indústria de quadrinhos.

Foram diversas obras que fizeram Alan Moore ser reconhecido dentro dos quadrinhos, porém nenhuma fez mais barulho quanto “Watchmen”. A história em que ele brinca com análogos dos personagens da Chaltom Comics e mostra o lado mais cru e sujo dos heróis. Um gibi que ainda é relevante por tudo que fez e ainda é um dos maiores objetos de estudo dos leitores de HQs. São 12 edições com a arte magnifica de Dave Gibbons e as cores de John Higgins em um dos projetos mais minuciosos já feitos para as HQs de heróis. Roteiros com mais de cem páginas para uma edição de 32 de quadros. O verdadeiro divisor de águas.

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“Wathcmen” é um dos maiores bens e dos maiores maus que já foram feitos aos quadrinhos, pois ele é um gibi muito fácil de ser apenas lido superficialmente. Ele é o que os estudantes da nona arte chamam de inauguração da “Era das Trevas das HQs”. Pois a partir desse trabalho, grande parte da indústria pega a estética sombria e transforma ela em algo regular em todas as histórias. Esquece-se o heroísmo e exploram a estética, sem entender que a todo tempo Alan Moore estava escrevendo naquelas páginas um dos maiores manifestos sobre o futuro sombrio que os quadrinhos teriam se não tivessem novidades e lembrassem sobre como heróis deveriam ser grandiosos e bondosos. O barbudo tinha um plano para conseguir contrapor sua história de maior sucesso, porém ela nunca veio a público por problemas de direitos autorais com a DC Comics.

Essa sua forma de escrever abriu os olhos das editoras para o que era produzido de quadrinhos no velho continente, e isso abriu portas para pessoas que hoje ditam muito do que lemos nos quadrinhos. Com o sucesso de Alan Moore, ele abriu portas para Neil Gaiman, Grant Morrison, Warren Ellis, Mark Millar, Garth Ennis, Peter Milligan, Dave McKean, Alan Davis e muitos outros que hoje são referências nos gibis que lemos mensalmente.

O grande autor resolveu buscar um exílio longe dos escritórios das grandes editoras, porém nunca parou de produzir quadrinhos, fez grandes trabalhos como “Top 10”, “Promethea”, “Liga Extraordinária”, “Supremo” e “Do Inferno” (essa última para mim o maior trabalho da vida do autor). Ele nunca parou de produzir seus quadrinhos e acabou criando um grande problema com Hollywood por conta disso. Ele acredita que seus gibis foram criados apenas para ser lidos, transpor boa parte dos seus trabalhos, faziam com que eles perdessem a essência. Cada cheque de roayltes de criação dos filmes que ele recebia,  era enviado diretamente para seu parceiro de arte nos títulos. Isso acontece até hoje. O caso mais conhecido é o do autor Dave Lloyd que recebeu todo o dinheiro advindo de “V de Vingança”. Obra que se tornou ainda mais conhecida depois do trabalho de Annonymus no EUA, já que todos usavam a máscara de “V” que foi popularizada após o filme de 2005.

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Tá na hora de falar da incrível forma de se aposentar desse gênio. Alan Moore na última quarta-feira (17) enviou uma carta durante a solicitação do seu último quadrinho da “Liga Extraordinária”. Ele agradeceu todos que acompanharam ele e Kevin O’Neil durante os vinte anos trabalhando no títulos que viaja pelas lendas da literatura. Um homem que aprendeu e ensinou muito os leitores de quadrinhos pode se aposentar, mas nunca vai deixar seu legado morrer. Alan Moore é um dos maiores e se junta a Jerry Siegel, Joe Shuster, Jack Kirby, Stan Lee, Bill Finger, Carmine Infantino e tantos outros no hall dos maiores de todos os tempos.

Escrito por Pablo Sarmento

Oi! Eu sou Pablo Sarmento, inventei de escrevi sobre gibis e acabei me tornando meu pior inimigo dentro de um multiverso de versões de eu(s) mesmo(s).

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