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O Justiceiro é um serial killer

O Justiceiro é um dos personagens de quadrinhos que carrega muitos fãs. Nascido nas páginas do Homem-Aranha, depois de alguns anos acabou ganhando mais espaço nos quadrinhos, um passado trágico e aterrorizante e se transformou no personagem que executa seus alvos. Um carrasco de vilões, criminosos e mal elementos das HQs. Entretanto, no último fim de semana acenderam uma discussão que atestava que o Frank Castle é na verdade um serial killer.

Explicando em miúdos, Kurt Busiek que escreveu Marvels, o crossover entre DC Comics e Marvel Comics e trabalha em uma que homenageia os quadrinhos de heróis chamada Astro City, estava conversando com seus leitores via Twitter sobre o Justiceiro. Entre trocas de mensagens no aplicativo do pássaro azul o roteirista afirmou que Frank Castle era um serial killer que estava do outro lado da linha e por isso os leitores e fãs relevavam seus atos de atrocidade. Imediatamente após essa afirmativa, o artista passou a ser atacado por seus seguidores e ele pacientemente explicou toda sua base de conhecimento.

Vale ressaltar que se você está lendo até aqui, certamente está querendo entender porque Busiek chama o Justiceiro de serial killer, a resposta é porque ele é mesmo! O personagem mata pessoas a sangue frio, sem pensar nas consequências dos seus atos. Muitas vezes em missões planejadas e muito bem executadas passando o visão que ele faz isso em nome de um bem maior ou se escondendo atrás da vingança que por muito tempo foi sua força motriz nos quadrinhos.

Busiek escreveu o Justiceiro diversas vezes nos quadrinhos. Ele afirmou em seus tuítes que sempre se inspira em serial killers para escrever o Justiceiro. Ele compara o personagem à Ted Bundy e Jeffrey Dahmer por conta das várias similaridades entre as personas. O seu embasamento é que ele é um vigilante, assassino e mais outras coisas, porém a melhor forma de enquadrá-lo seria de um assassino em série.

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Se pararmos para pensar, nos últimos anos o personagem se tornou bastante popular, por conta de algumas políticas autoritárias e em nome do “liberalismo bélico”. O fazer a justiça com as próprias mãos, o atirar e depois perguntar, matar o vagabundo são falas que ouvimos normalmente vinda de pessoas que se dizem “de bem”. O interessante é perceber que esse pessoal acabou adotando como sua bandeira o símbolo da caveira de Frank Castle. O que leva a entender é que esse grupo não está olhando para raiz do problema.

Em uma entrevista ao site Sy Fy, o criador do personagem Gerry Conway falou sobre como se sente incomodado com policiais usando a caveira do Justiceiro.

“Eu falei sobre isso em outras entrevistas. Para mim, é perturbador sempre que vejo figuras de autoridade abraçando a iconografia do Justiceiro, porque o Justiceiro representa uma falha do sistema de Justiça. Ele deve acusar o colapso da autoridade moral social e a realidade de que algumas pessoas não podem depender de instituições como a polícia ou os militares para agir de maneira justa e capaz.

O vigilante anti-herói é fundamentalmente uma crítica do sistema de justiça, um exemplo de fracasso social, então quando policiais colocam crânios do Justiceiro em seus carros ou membros do exército vestem símbolo, eles são basicamente lados com um inimigo do sistema. Eles estão abraçando uma mentalidade fora da lei. Se você acha que o Justiceiro é justificado ou não, se você admira seu código de ética, ele é um fora da lei. Ele é um criminoso. A polícia não deveria estar abraçando um criminoso como seu símbolo.”

Recentemente o personagem ganhou uma série na Netflix. Onde ela acaba debatendo os transtornos do personagem, abrindo vários questionamentos sobre o que é e o que não errado de acordo com as situações em que Frank Castle é colocado. Abrindo lacunas para os problemas psicológicos do personagem e expondo seus medos. Castle foi para guerra e se tornou um assassino altamente treinado que acabou perdendo a família em uma história cheia de traições. Mesmo com toda esse profundidade dada em uma série de TV, ainda existiram comentários de gente dizendo “ele mata a sangue frio e isso é foda”, “não respeitaram os quadrinhos, ele não sofre essas coisas de bicha” e coisas do gênero. Frases de efeito e mais efeito como é comum na internet.

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Esse efeito midiático parece ter ainda mais força em um lugar como o Brasil, o país que tem como super-herói basicamente gibis que defendem personagens que matam e executam pessoas. Temos o fenômeno “Tropa de Elite” (2007) e sua “faca na caveira” e, agora, temos o quadrinhos e adaptações do Doutrinador. Que basicamente é um assassino de políticos. Estamos vivendo em um tempo sangrentos, em que o julgamento social se torna ainda mais poderoso e esquecemos que pode existir outras formas de se “punir”. Pois não se pode deixar que esse sentimento de incapacidade gerado pelo sistema seja a resposta para o aumento de homicídios.

Eu consigo ver o Justiceiro como um serial killer dentro da patologia estudada. Podemos chamar de serial killer se prestarmos atenção em mais elementos dentro das histórias dele dos quadrinhos. Porque sua vingança já foi finalizada e mesmo assim ele continuou. Porque ele matou, torturou e esquartejou pessoas com alto nível de planejamento. São inúmeras histórias e fases que podem confirmar isso, só não vê quem não quer. 

Escrito por Pablo Sarmento

Oi! Eu sou Pablo Sarmento, inventei de escrevi sobre gibis e acabei me tornando meu pior inimigo dentro de um multiverso de versões de eu(s) mesmo(s).

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