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O Doutrinador (2018) | Um ótimo filme apesar de suas limitações

Finalmente a industria do audiovisual brasileira está começando a olhar para os quadrinhos como fonte de conteúdo. Não é de hoje que o que se fala sobre produções de filmes de ação no Brasil, é que seja quase impossível de fazer pela falta de verba ou de incentivo. Eu mesmo já cansei de ouvir de gente da indústria – até mesmo de diretores de cinema -, que optar pelo gênero de ação por aqui é embarcar em uma epopeia.

O bom é quando alguém tem coragem de embarcar numa aventura pela ação com a intenção de levar ao espectador um cheiro novo. O Doutrinador, filme dirigido por Gustavo Bonafé (Legalize Já – Amizade Nunca Morre, Chocante) e adaptado do quadrinho de mesmo nome do autor Luciano Cunha, é um desses filmes que se joga em um universo ainda pouco explorado por aqui e chama atenção pela qualidade da produção e pela seriedade do trabalho.

 

© Aline Arruda

Miguel Montesanti (Kiko Pissolato) é um policial federal que está participando de uma ação especial chamada Linfoma, que tem como objetivo prender o Governador de São Paulo, Sandro Correa (Eduardo Moscovis), por corrupção ativa e outros crimes. Mas assim como na vida real e após o exito da ação, o politico não fica muito tempo na cadeia. Ele é solto por meio de um habeas corpus. Após realizar uma ação especial como esta, o agente é designado para missões que ele julga não fazer jus a altura de todo o time pela qual ele pertence e começa a se desiludir com a carreira. Miguel tem uma filha com Isabela (Natalia Lage), ambos vivem separadamente, ele mora em um pequeno apartamento no centro da cidade e compartilha a guarda da garota com a mãe.

 

© Aline Arruda

Um belo dia, pai e filha vão passar um momento juntos e resolvem ir ao jogo da seleção brasileira, mas em meio a toda a agitação do pré-jogo nos arredores do estádio, sua filha é atingida por uma bala perdida e acaba morrendo no hospital pela negligência do atendimento. Revoltado da vida e “pistolado” pela injustiça que lhe acometeu, sua vida mudará completamente após a sua participação em um dos protestos contra a soltura do governador. Ele colocará em pratica um grande e ambicioso plano de varrer os políticos corruptos do país. Sua identidade está protegida por uma máscara de gás e suas mãos estão carregadas de sangue, ódio e desejo de justiça.

Apesar de toda a expectativa gerada, O Doutrinador é um filme que, acima de tudo, funciona como cinema. Ele traz elementos em tela que são característicos dos filmes de ação de anti-herói, tem uma narrativa que te deixa interessado do começo ao fim e que de modo geral te surpreende pela ousadia.

Ele possui diálogos robóticos e frases feitas e alguns planos que beiram a tosquice, alguns  momentos de tão ruins que são, chegam a te fazer rir, mas entende-se que isso faz parte da proposta que o filme impõe desde o inicio. Vende-se entretenimento, não como num blockbuster, mas como um show dentro das limitações que a industria nacional consegue entregar com o dinheiro que se tem.

© Aline Arruda

Se você consegue contar uma boa história, o resto é detalhe. O Doutrinador funciona assim! Apesar de todos os clichês, apesar das influências oriundas do Justiceiro norte-americano mais famoso da Marvel, Frank Castle, Gustavo Bonafé entrega uma produção corajosa e digna de elogios. Afonso Poyart foi um cara que teve coragem de fazer esse tipo de cinema no Brasil quando lançou 2 Coelhos (2012) e correspondeu muito bem as expectativas. Bonafé acreditou que poderia transformar a HQ de Luciano Cunha em um grande espetáculo cinematográfico – e conseguiu.

© Aline Arruda

As cenas de ação são bem alimentadas pela violência gráfica e pelo bom trabalho de edição e, claro, da atuação de Kiko Pissolato. Tainá Medina que vive a personagem Nina, também dá um gostinho especial ao filme e lembra bem a Oráculo de Bárbara Gordon.

 

Ao final, O Doutrinador nos remete ao discurso já propagado por José Padilha em Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite 2: o Inimigo agora É Outro (2010). A corrupção é a engrenagem que move o país, mas tirar uma ou duas peças dessa máquina não vai fazer com que ela pare. Porém, deixa uma mensagem de esperança muito bacana antes do subir dos créditos, encerrando o filme com mais um ponto de reflexão em tudo que foi mostrado.

O Doutrinador estreia em 01 de novembro de 2018.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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