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Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

Homens, Mulheres e Filhos é um daqueles filmes que você lê o título e não bota muita fé, depois olha para a capa e acaba desistindo. Como assim um filme com esse título e um capa desse jeito pode agradar alguém? Eu sei que muita gente pensa assim, mas se você ignorar estes fatos e der uma chance para ele, o filme acaba surpreendendo por sua trama e críticas feitas à sociedade moderna e como a tecnologia tem influenciado em nossos hábitos e comportamentos.

Homens, Mulheres e Filhos é dirigido por Jason Reitman, que também comandou “Juno” e “Amor sem Escalas” este é mais uma das suas obras que focam nas questões sociais que possam passar uma mensagem para os adolescentes e consequentemente para seus pais. Este filme foi adaptado do livro homônimo, escrito por Chad Kultgen e como qualquer adaptação ela tem suas qualidades e defeitos, mas segundo o que pesquisei o diretor tentou ao máximo trazer as questões que o autor aborda em seu livro para as telas de cinema de todo o mundo.

Neste filme nós vamos acompanhar a história de cinco famílias e seus problemas com a vida moderna, o uso de celular, as redes sociais, a exposição na internet, infidelidade, tédio, traição, bulimia, depressão, sexualidade, a busca por fama e a proliferação de material ilícito na rede, bullying e etc.

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O filme é narrado por um satélite (Emma Thompson), que foi enviado para o espaço com o objetivo de outras formas de vida tomarem conhecimento da nossa. Neste satélite contém várias peculiaridades da Terra, como o som de batidas do coração, som de um beijo, musica e etc. Logo no inicio temos o primeiro questionamento feito pelo próprio satélite, que mostra uma imagem da perspectiva da Terra em relação ao universo, o de sermos um ponto insignificante se comparado ao seu tamanho. Ou seja, todos os problemas, vivências, gostos, paixões, dinheiro, poder, ganância e etc. Não são nada se olharmos a partir desta perspectiva.

Depois disso, somos remetidos aos conflitos duma sociedade moderna e seu padrão de vida atual, as pessoas escravas de seus smartphones, conectadas a todo momento e não conseguindo ao menos sentar e ver televisão como antigamente ou almoçar e jantar sem estar atado às redes sociais e aos aplicativos de mensagens instantâneas.

Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

A trama em si, gira em torno dos problemas de cinco famílias e seus conflitos com o padrão de vida atual. Um casamento em meio a crise sexual, onde vemos um Adam Sandler de um jeito que não estamos acostumados, totalmente abatido, sem vida e num Tédio que pode ser com um “T” bem grande para você, assim como na música da Legião Urbana. Em busca de satisfazer as necessidades da carne, ele passa a se masturbar usando o computador do filho, pois o seu, a sua esposa encheu de Malware e ele não consegue acessar nada sem que milhares de pop-ups pulem na sua cara sem qualquer esforço. Ambos tentam se enganar e acabam encontrando a solução nos sites de encontros adultos, como o Ashley Madison, por exemplo.

Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

A personagem “Patrícia” interpretada por Jennifer Garner chega a ser ridícula de tão protetora em relação a vida digital da filha, “Bandry Beltmeyer” (Kaitlyn Dever). A garota não pode dar um peido na internet que tudo é registrado. A filha se sente um lixo e sem vida que busca no “Tumblr” uma saída para ser ela mesma, pois pelo menos lá não existe o controle da sua mãe, ainda! A neura da mulher é tão grande que ela promove encontro semanais, no maior estilo “Alcoólicos Anônimos” para ajudar os pais a protegerem seus filhos dos malefícios da internet.

Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

Reitman sempre apresenta um ponto e um contraponto em Homens, Mulheres e Filhos, ou seja, temos a mãe super protetora e o inverso disso. Que é o caso de “Joan Clint” interpretada por Judy Greer, a mãe que vê na filha um produto que pode ser vendido em busca do “sucesso” que a garota pode vir a ter na TV ou no Cinema. Ela fotografa a filha em poses sensuais e publica em um site na internet, mesmo a menina sendo menor de idade. Uma série de pessoas passam a querer fotos da filha mais ousadas ou “showzinhos” particulares, mãe e a filha encaram isso como naturalidade e chamam essas pessoas de “fãs”. A garota é totalmente sexualizada e inventa várias histórias para mostrar às amigas da escola que ela é emancipada, que já viveu várias experiências sexuais e que não vai chegar na faculdade virgem, aquela mesma coisa de sempre do jovem americano.

Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

Tim Mooeny (Ansel Elgort ) é o garoto que desistiu de jogar futebol americano depois que a mãe saiu de casa abandonando filho e marido, para refazer sua vida amorosa com outro homem na Flórida. Ele sempre jogou por obrigação, é a tipica história do pai que faz do filho o espelho do que ele queria ser e não conseguiu. Tim resolve se dedicar ao jogo de MMORPG, onde ele passa a maior parte do seu tempo depois que sua mãe se foi,  seu pai não aceita o fato da troca do futebol americano pelo jogo online e fica aquele climão entre a frustração do garoto e o ódio pelo pai não reconhecer o talento que ele tem diante do jogo online.

Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

Por fim, temos Allinson Doss (Elena Kampouris), uma garota que sofre de bulimia, é apaixonada por um cara desde a sétima série e espera uma oportunidade de contar isso para ele um dia. Seus pais não percebem o que está acontecendo com ela, parece que está tudo bem e que a filha tem esse biotipo por se tratar de uma normalidade e mesmo quando o pior acontece com ela, a preocupação deles passam bem longe da sua saúde e bem estar.

São esses Homens, essas mulheres e esses filhos que norteiam os conflitos da vida moderna, é através destes exemplos que mais uma vez Reitman quer ensinar alguma coisa para a sociedade, ele fez isso com Juno ao tratar de gravides na adolescência e o processo de adoção. Já neste longa, ele tratou de assuntos que não só possam alertar os pais, sobre a vida de seus filhos, mas também sobre a educação que dão para eles e como estes mesmos pais administram seus relacionamentos e os seus momentos de crise.

Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

Homens, Mulheres e Filhos (2014) | Os conflitos de uma sociedade moderna

Uma coisa bacana que vemos desde o inicio é o trabalho gráfico quando alguém está usando o computador, celular ou tablet. Eles usam um efeito de mostrar a tela sendo usada pelos personagens e também ocorre com as pessoas aleatórias conversando por mensageiros instantâneos. Algo que tentaram fazer também na novela “Geração Brasil”, mas que não caiu no gosto do telespectador brasileiro e acabou sendo retirado de cena. Mas nesse caso foi um ponto positivo, não chegou a poluir a tela e você consegue ver perfeitamente o que o personagem está fazendo, com quem está interagindo e etc. Porém, não sei por qual motivo os efeitos somem na metade do filme e voltam a aparecer apenas no final.

A parte ruim fica para o papel de Travis Tope, Chris Truby, o garoto que é filho do personagem de Adam Sandler. É mais um daqueles garotos viciados em pornografia, que sonha um dia em fazer sexo com uma garota, mas quando esse grande dia chega ele simplesmente não consegue. Mas o motivo é bem diferente de estar nervoso pelo fato de ser sua primeira vez, é algo bem estranho que não fica muito claro no filme. Se ele não existisse na trama, não faria falta.

No mais, Homens, Mulheres e Filhos tem um roteiro bem costurado, cada família e seus conflitos são apresentados de forma transparente e sem atropelar um ao outro. Em dado momento, todos eles se cruzam e daí sai o desfecho para o final. O Satélite que narra toda a história termina fazendo o mesmo questionamento do inicio.

Da perspectiva que ele tem todos os problemas aqui apresentados não são nada se comparado ao tamanho do universo. Somos um ponto numa imensidão e ninguém deste outro lado está preocupado com o que vivemos, passamos, enfrentamos, sentimos ou deixamos de fazer. Somos apenas um ponto, um ponto azul e mais nada!


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Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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