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Cara x Cara | A guerra da melhor versão do ‘Eu’

Já pensou que fácil seria se você tivesse uma outra versão de você por aí? Provavelmente sobraria mais tempo para aproveitar os lazeres e prazeres que a vida tem a oferecer, mé? A série “Cara x Cara”, mostra que não é tão simples assim. A própria cultura pop explorou clones em filmes, séries e quadrinhos e a nova série original do Netflix não é diferente. “Cara x Cara” rouba alguns conceitos de clonagem, porém com uma abordagem aprofundada.

Criada por Timothy Greenberg,  “Cara x Cara” foca na ficção científica sobre clonagem para explorar um lado existencial e conflituoso sobre a vida. À primeira vista pode parecer uma comédia, mas o humor aqui caminha pela tragédia. Vale refletir que o título original “Living with Yourself “(Vivendo Comigo Mesmo em tradução livre) passa mais a ideia de ser uma série de drama existencial.

Miles Elliot (Paul Rudd) está estagnado em uma fase nada fácil de sua vida, a paixão e o amor pelo gosto de viver abriu as portas para tristeza, depressão e conformismo. Essa falta de brilho trouxe zero empolgação em sua vida profissional e tudo piorou com a falta de amor e carinho de sua esposa Kate (Asling Bea). Um ponto da vida onde ele não consegue mais reconquistar nada e está preso em uma rotina precária.

Pra tentar lutar contra esse momento da vida, um colega de trabalho recomenda um spa que promete deixa-lo totalmente novo tanto fisicamente como mentalmente. Miles hesita no começo, mas como não tem mais nada a perder, ele resolve apostar nesse caminho. A clínica porém, usava esse tratamento para clonar pessoas, o que acarreta uma nova versão melhorada e muito melhor de si mesmo. O grande problema começa quando esse “novo eu” deseja roubar a sua vida por completo.

A dinâmica da narrativa se concentra em explorar em intercalar cada episódio com o ponto de vista dos dois Miles. A maneira como cada um enxerga os fatos e procuram lidar com os conflitos e limitações. Enquanto o real é todo decadente e perdido, o clone por não ter passado as amarguras de quem o originou, é harmonioso e tem a doce satisfação em tudo que realiza. A guerra entre os dois se mantém em decidir quais deles é o melhor.

Esses conflitos são uma analogia para nossas duas metades que perpetuam nossa mente, o real são as doenças mentais como ansiedade e depressão, e o clone é aquela parte que deseja encontrar o brilho e felicidade nas coisas. Engraçado como nenhuma tem êxito completo, pois cada uma necessita da outra para ter um equilíbrio. Não podemos ser tristes ou felizes o tempo todo. A realidade é que a impermanência existe e nesses momentos o significado de sua existência deve ser encontrado.

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O cuidado excepcional na atuação de Paul Rudd é incrível, o ator intercala em cada uma de suas contrapartes diferenças, físicas como o cabelo e expressões faciais e alterna o tom da voz nos momentos de felicidade ou tristeza. Aprendemos a gostar de seu humor nos filmes de comédia, mas aqui o ator demostra que drama também é sua praia.

Ficção científica em clonar pessoas não é nada novo, mas Timothy Greenberg quis propor algo diferente . Ele usou o conceito em algo existencial, em demonstrar a maneira que vivemos nossa vida e os ciclos que ela possuí em seu decorrer de passagens sejam exuberantes ou decadentes. Não há escapatória para felicidade e nem para tristeza. Essa demonstração está na maneira como cada episódio se desenrola, pecando apenas pela conclusão de temporada.

“Cara x Cara” é uma experiência gratificante que usa a ficção científica para abordar temas tão atuais sobre estilos de vida e como devemos lidar com o melhor de nós e a valorização por aceitar seus devidos ciclos nessa caminhada. Um dos melhores trabalhos de Paul Rudd e uma grande adição de qualidade para os títulos originais do Netflix.

Escrito por Rafael Tanaka

Publicitário, amante de cinema, quadrinhos, filmes e séries. Sempre existe coisas para se descobrir nesse mundo da cultura pop.

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