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O Grande Hotel Budapeste (2014) | A extravagância de uma comédia trágica

Oitavo filme do mestre da simetria e do bom gosto Wes Anderson, escrito em parceria com Hugo Guinness, com cores extravagantes e imagens fabulosas do cine fotógrafo Robert Yeoman.

“O Grande Hotel Budapeste” esconde a tragédia em sua trama perfeccionista de cores gritantes e bom humor. O filme é um liquidificador de emoções, dos cenários quase inabitados aos personagens caricatos.

A Inspiração: Wes Anderson faz uma menção ao autor Stefan Zweig, um escritor judeu nascido no Império Autro-Húngaro que escrevia sobre como a cultura europeia quase sendo destruída pelo nazismo, e que teve que se refugiar em outros países, inclusive aqui no Brasil, onde se estabeleceu. A influência de Zweig parece estar em todo o filme, e a ironia com que ele escrevia está em todas as cenas e diálogos de Grande Hotel Budapeste.

O Grande Hotel Budapeste concorre às seguintes categorias no Oscar 2015: Melhor Filme; Melhor Direção; Melhor Roteiro Original; Melhor Figurino; Melhor Maquiagem e Penteado; Melhor Fotografia; Melhor Edição; Melhor Trilha Sonora; Melhor Design de Produção.

O enredo passa por vilões, heróis, doces, traições, problemas familiares, romances, nazistas, tudo isso com as duas Guerras Mundiais como background. Uma história com fatos históricos, fictícios e obscuros que assombram o velho continente europeu. Por mais exóticas que sejam as habitações você sente vontade de se hospedar no Grande Hotel Budapeste, assim que conhece melhor sua história e seus personagens. A comédia trágica fisga o espectador do começo ao fim, apesar da forma não linear como é conduzida.

O Grande Hotel Budapeste | A extravagância de uma comédia trágica

Em primeiro momento, surge a figura dramática central com dimensões genuínas, conhecida como “O Grande Hotel Budapeste”, influenciado pelo período rico da cultura europeia. O hotel é ambientado na República da Zubrowka (um país fictício da Europa) no ano de 1932. O lugar onde cada figura tem detalhes únicos, facilmente reconhecíveis, e a proposital proximidade à melancolia de seus funcionários, mostra que o ambiente é só pano de fundo para uma história sendo contada com a maestria das cores e do bom humor.

Um filme feito da lealdade.

Em 1985 um escritor conta como quando em 1968 visitou o Grande Hotel Budapeste e conversou com seu proprietário, Sr. Moustafa. Esse por sua vez, contou a história de como veio a se tornar o proprietário do hotel, na década de 30, após uma série de acontecimentos inimagináveis com o concierge do hotel, quando ainda era conhecido como Zero Moustafa.

O Grande Hotel Budapeste | A extravagância de uma comédia trágica

Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes) é um concierge extremamente caricato, amável e exigente, que é responsável pela administração do hotel e do bem-estar de seus hóspedes, sobretudo das senhoras ricas. Zero Moustafa (Tony Revolori) é um mensageiro dedicado do hotel, com uma dolorosa vida de imigrante, que se torna grande amigo de M. Gustave e encontra seu grande amor.

Nessa amizade e confiança mutua, o filme desenvolve um laço fraternal e dramático, desencadeando também um lado bem humorado e cativante da vida dos dois. Um ode à nostalgia.

O Grande Hotel Budapeste | A extravagância de uma comédia trágica

Entre os hóspedes do hotel, destaca-se Madame D. (Tilda Swinton), uma octogenária, amante de M. Gustave. Ela é assassinada, e a história desenrola quando M. Gustave furta um quadro que vale milhões e que foi deixado para ele em testamento por ela. Agora o concierge e seu mensageiro são acusados de sua morte, perseguidos pela polícia e pela família da vítima.

A partir daí o filme vira uma mistura engraçada de estilos de filmagem e de roteiro, tudo contado da maneira mais exagerada e circense possível. O exagero do filme é obviamente de propósito, mas nem todo mundo consegue entender o que ele quer dizer. Sabe aquela coisa de muita informação? Essa foi a maior reclamação da crítica e do público, informação demais em uma história só.

O Grande Hotel Budapeste | A extravagância de uma comédia trágica

Integram o elenco muitos nomes renomados: Edward Norton, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jude Law, Jeff Goldblum, personagens com um timing que corteja o absurdo.

Se os companheiros de outras viagens de Anderson admiram seu universo particular, os novatos nessa história e outros que só haviam feito pontas nelas não fazem por menos e vestem muito bem a carapuça, como Willem Dafoe, o horrendo Jopling, que surge aprontando poucas e boas contra Gustave, ele detém o posto de vilão da história.

Destaca-se também Harvey Kietel defendendo o papel de Ludwig, um presidiário, desenhista de mapas que tem um plano perfeito para deixar a cadeia. Bill Murray e Owen Wilson, que já tiveram status de protagonistas em obras pregressas do diretor, dão as caras em aparições rápidas, mas não destituídas de importância. O primeiro ajuda Gustave e Zero em uma situação decisiva, ao passo que o segundo se torna peça importantíssima no hotel a partir de certa altura.

O Grande Hotel Budapeste | A extravagância de uma comédia trágica

Todos juntos cooperam para a beleza imperfeita do conjunto da obra que, a exemplo das demais assinadas por Anderson, racha público e crítica. Com grandes nomes em cena, é brilhante ver que a trama não gira só em torno de um personagem caricato. Embora todos sejam competentes em seus papéis, Ralph Fiennes realmente merece toda a atenção que teve.

Um filme cômico sem ser engraçado.

A comédia está aplicada diretamente nos figurinos extravagantes, nos cenários irregulares e em alguns personagens. A história tem referências absurdas e conta com cenas memoráveis, incluindo um tiroteio nazista. Quem não prestar atenção com certeza ficará boiando. Wes Anderson é mestre em construir filmes fora do padrão, comédias que te fazem chorar e dramas que te fazem sorrir. O Grande Hotel Budapeste é basicamente os dois, uma comédia dentro de um drama. Uma tragédia genialmente engraçada.

O Grande Hotel Budapeste | A extravagância de uma comédia trágica

Todos os cenários são pinturas, uma verdadeira obra de arte. Você não sabe se está assistindo um filme ou uma peça de teatro, as atuações e o cenário são exageradamente teatrais. A medida que os personagens vão sendo apresentados, as cores nos deixam um tanto que perdidos na intenção de não nos afogarmos na tragédia da história. Uma comédia feita do que não é engraçado.

Uma artimanha genial que você deve apreciar ou odiar, sem meio termo. O que para uns pode ser um filme muito extravagante para o Oscar, para outros pode ser uma experiência devastadora do que é a realidade escondida atrás das cores, das portas e das histórias do Grande Hotel Budapeste. Wes Anderson tentou abordar com leveza e bom humor uma história triste, e conseguiu o feito.

O filme é o exemplo perfeito de que uma história bem contada faz toda a diferença. O Grande Hotel Budapeste é o tipo de filme que merece ser visto mais de uma vez, pois o produto final é tão rico que você descobrirá novos detalhes a cada hospedagem.


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Escrito por Juliane Rodrigues (Exuliane)

Serial killer não praticante, produtora audiovisual de formação e redatora por vocação. Falo sério mas tô brincando no twitter @exuliane

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