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Anos 90 (2019) | Ser aceito é um caminho longo e doloroso

Começar cedo a busca pela aceitação não faz bem pra ninguém. Não importa a idade, é doloroso você tentar se enquadrar em um grupo, ser amigo de seu irmão, ter a mínima atenção e carinho de seus pais. Em certos casos não há “pais”, mas apenas uma pessoa fazendo o papel de família e geralmente esse cargo sobra para uma mulher.

É assim a vida de Stevie (Sunny Suljic) em “Anos 90” (2019) – primeiro filme do ator Jonah Hill (“Super Bad – É Hoje, O Lobo de Wall Street) como diretor. Um tímido garoto de 13 anos, cheio de sonhos e de vida pela frente, mas que vive em um lar sem estrutura alguma pra chamar o que tem de família.

A mãe (Katherine Waterston) apesar do esforço e de toda luta, não consegue dar continuidade na vida do jeito que gostaria, se relaciona de forma casual com vários homens desde que o pai de seus filhos partiu e nunca mais voltou, além de sofrer com a depressão.

Ian (Lucas Hedges), o irmão mais velho de Stevie, carrega uma porção de traumas por conta da criação que teve e da ausência do pai. Por vezes, ele desconta toda a sua ira e amargura em Stevie e o longa já começa com uma dessas cenas, algo pesado e difícil de engolir.

Diante de todos os problemas que encontra em casa, Stevie procura na rua um lugar para se encaixar, ser aceito, ter atenção e ser reconhecido pelo que é e pelas coisas legais que faz.

É numa loja de artigos pra skatistas que ele encontra o lugar para “morar”. Lá estão Ray (Na-kel Smith), uma espécie de “líder” do grupo e quem Stevie mais admira; Fuckshit (Olan Prenatt), melhor amigo de Ray, um jovem que perde a linha fácil e tem um comportamento mais exagerado do grupo; Fourth Grade (Ryder McLaughlin), o típico cara que registra tudo o que a galera faz com uma câmera de vídeo; e Ruben (Gio Galicia), um pouco mais velho que Stevie, porém mais imaturo que ele.

Ray, Fuckshit, Fourth Grade, Ruben e Stevie

Esse grupo é uma perfeita representação de como eram os adolescentes dos anos 90 lá dos Estados Unidos. Eles se reúnem pra fazer o que gosta e falar merda, muita merda, além de tentar emular um comportamento mais adulto. Isso inclui o consumo de álcool, bebidas e outras drogas. Esse tipo de comportamento já foi mostrado por Larry Clark em “Kids”(1995), por exemplo, mas que aqui tem um grau muito menor de realidade e contraste.

Stevie e Ray

Para ser aceito entre os skatistas, Stevie percorre caminhos que não condizem com a sua natureza como fumar, beber, chegar tarde em casa, desrespeitar a mãe e falar palavrão. Além disso, ele faz tarefas que Ruben não gosta de fazer para agradar os mais velhos da “crew”, e mostra uma coragem absurda ao encarar desafios que seu rival direto não é capaz de enfrentar. Tudo isso com o simples objetivo: ser aceito! Um desses desafios, foi saltar de forma irresponsável e perigosa com um skate de um telhado a outro, e se estatelar no chão.

Ao longo da narrativa, Jonah Hill mostra que Stevie é garoto duro na queda e suas atitudes são reflexos do controle que foi perdido dentro de casa, mas que resolveu tomar um caminho diferente do irmão. Enquanto Ian internou a crise, Stevie jogou pro mundo e resolveu encará-la de outra forma. E assim, ele mostra que mesmo apanhando, caindo ou sendo ignorado por um garoto apenas poucos anos mais velho, é possível levar a vida adiante e conquistar aquilo que deseja ao seu redor com doçura e ousadia.

Lucas Hedges, Sunny Suljic e Jonah Hill no set de filmagem de “Anos 90”

Em “Anos 90” você compreende e se identifica com o comportamento do protagonista, acredita que suas atitudes são críveis e são uma resposta direta às motivações impostas pela narrativa. Ser aceito em qualquer tribo, grupo, meio, etc. é longo, doloroso e por vezes faz a gente se perder para só depois se (re)encontrar.

Hill conseguiu apresentar em seu primeiro trabalho como diretor um filme simples, mas cheio de nuances que inspiram reflexões sobre atitudes que tomamos quando estamos em posições semelhantes a do protagonista.

“Anos 90” estreia dia 30 de maio nos cinemas. 

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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