Moscou, 1945. Abram Adams é um bebê negro abandonado convenientemente às portas da residência do ministro de relações exteriores da Rússia. Seus pais adotivos eventualmente morrem e Abram é adotado pelo Estado. Seu potencial para a ciência é reconhecido e o jovem é educado com o melhor que a “pátria mãe” pode oferecer a seus filhos em termos de formação acadêmica.
Durante o período pré-Guerra Fria, o jovem (juntamente com outros dois candidatos) é selecionado para o programa espacial secreto mais ousado da União Soviética – levar três cosmonautas aos limites da universo conhecido. Em um veículo espacial capaz de atravessar grandes distâncias e através de uma série de etapas de hibernação criogênica a equipe embarca em uma missão de 30 anos para explorar os limites da realidade.
Divinity é uma série em quatro partes lançada este ano pela Valiant Comics. A HQ escrita por Matt Kindt (The Valiant, Mind MGMT) e ilustrada por Trevor Hairsine (X-Men: Gênese Mortal, Harbinger) conta o que aconteceu na missão de vinte e sete anos de Abram pelo espaço, como esta jornada cósmica o transformou no messias com poderes de alteração de realidade chamado Divinity e o que acontece quando um ser com este nível de poder, conhecimento e iluminação cósmica chega ao Universo Valiant atual.

Não fica claro para o leitor se isso é somente uma ferramenta narrativa ou se Abram realmente tem o poder de alterar sua própria história. Isso gera um misto de curiosidade e desconforto que permeia a história inteira e estimula a leitura. O texto de Kindt é classudo, belíssimo e tem aquele aroma clássico de histórias cósmicas de origem.
De volta ao planeta Terra, o protagonista se depara com a equipe oficial da Valiant, conhecida como “Unity”, e composta por Guerreiro Eterno, Ninjak, Livewire e XO-Manowar. A partir da metade da saga, o roteiro ganha tons de ação sci-fi enquanto o time tenta conter o que consideram uma ameaça grande demais para nosso planeta.
O confronto entre a equipe de super seres e Divinity é um misto de batalha por auto conhecimento e luta de super-heróis. O time depende muito de concentração para enfrentar um inimigo que pode alterar sua própria percepção de realidade e isso torna o embate um pouco diferente das batalhas com socos, raios e pontapés com as quais estamos acostumados neste tipo de quadrinhos.
Alternando entre estas cenas, os flashbacks cósmicos e pessoais de Abram e o impacto desta nova divindade em uma comunidade de seguidores no Outback Autraliano, Kindt dá movimento e dinâmica ao roteiro que poderia facilmente se tornar entediante à partir da terceira edição. A conclusão introduz um personagem extremamente complexo e contraditório na Valiant além de abrir precedentes para várias tramas narrativas envolvendo este elenco.
As ilustrações de Trevor Haisine em Divinity seguem seu estilo clássico de arte sequencial já conhecido dos leitores de Harbinger: design de personagens sóbrio e consistente, fluxo narrativo inteligível, lindas expressões faciais emotivas, cenários cuidadosamente fotografados e cenas de ação impactantes e eficazes. Tudo muito caprichado e ideal para os amantes de traço clássico de quadrinhos. A colorização nas passagens mais “cósmicas” é de extremo bom gosto e, francamente, não há o que destacar em uma apresentação gráfica com esse grau de consistência.
Divinity, assim como muita coisa publicada pela Valiant, muito provavelmente passou despercebido do radar de grande parte dos leitores de quadrinhos atuais. Mas em um mercado saturado de reciclagem de ideias e a adaptações étnicas de franquias para atender as necessidades de uma realidade mais inclusiva, um protagonista negro, inteiramente novo e com este grau de poder e iluminação em um dos universos mais coesos da atualidade é de fato louvável. Matt Kindt e Trevor Hairsine introduzem um conceito forte e um personagem marcante se valendo de uma premissa simples, mas original e suportado por um roteiro sólido e sensível com uma apresentação gráfica de alto nível.
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