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HQ do Dia | Dark Corridor

Rich Tommaso é um daqueles talentosos veteranos da indústria de quadrinhos que você provavelmente nunca ouviu falar. Com mais de 20 anos de experiência no mercado editorial o artista trabalhou como letrista, colorista, roteirista e ilustrador em quase todo buraco obscuro desta indústria, além de ter fundado seu próprio selo independente chamado Recoil Comics. Em 2015 Tommaso finalmente começa a publicar em uma editora proeminente (a Image Comics) sua antologia criminal chamada “Dark Corridor”.
“Dark Corridor” tem um formato que consiste em dois contos de gênero criminal. Histórias curtas, contínuas e levemente relacionadas entre si que se passam na cidade de Red Circle. A primeira parte do gibi chama-se “Red Circle” e conta a estranha saga de um cão ensanguentado que um belo dia aparece na casa de um policial corrupto. A medida que a história se desenvolve (em um impressionante ritmo para somente 16 páginas) acompanhamos de onde surgiu este animal e como os eventos relacionados a sua aparição afetam este pequeno núcleo de personagens. A segunda história chama-se “Seven Deadly Daughters” e se passa basicamente em um pronto socorro de um hospital no qual um mafioso gravemente ferido conta a dois policiais também corruptos sobre uma receptação de joias que deu muito errado.
hq-do-dia-dark-corridorO roteiro de Tommaso é ingenuamente simples, mas ao mesmo tempo cheio de camadas que vão sendo “descascadas” no decorrer das curtas histórias. Fortemente inspirado no formato noir criminal clássico, o autor usa e abusa dos clichês do gênero, mas de forma muito leve e natural, muito longe daquele ar mais carrancudo que vemos em séries similares como “Sin City” de Frank Miller ou “Fatale” de Ed Burbaker por exemplo. É um outro formato de quadrinho noir, lembrando brevemente filmes do gênero de Quentin Tarantino como “Cães de Aluguel” ou “Pulp Fiction”. O tom dos diálogos de Tommaso transpiram malandragem e são recheados de estereótipos raciais típicos de obras criminais antigas, mas tudo isso com uma roupagem “indie” de fácil compreensão para um leitor casual de quadrinhos. A simplicidade das duas tramas é evidente, mas de forma alguma desqualifica estes dois roteiros que são cheios de personalidade e extremamente envolventes.
Tanto a arte quanto colorização e letras em “Dark Corridor” são de responsabilidade do próprio Tommaso. O estilo do ilustrador é totalmente inspirado em tirinhas clássicas de humor e aventura de jornal de domingo. O contraste de um roteiro violento e com certa dose de temas adultos com uma parte gráfica que lembra Hergé é muito interessante. Mas se engana quem pensa que ilustrações deste tipo são sinônimo de minimalismo. A arte de Tommaso, mesmo neste formato, é extremamente detalhada. Não são em todos os quadros, mas existem passagens como as cenas internas nas quais o ilustrador desenha detalhes de cenário como se fosse uma fotografia. A caracterização do elenco não poderia deixar de ser caricata com seus traços faciais exagerados e feições bem distintas entre os protagonistas.
“Dark Corridor” talvez seja o novo título mais despretensioso de 2015. O autor não faz questão alguma de chocar ou deixar aquele gancho sem vergonha que vemos tão frequentemente nas primeiras edições que tem intuito de fazer você comprar a segunda edição da série. Ao ler esta estreia fica aquela impressão de que Tommaso só quer expor seus bons roteiros criminais no seu ritmo e sem se importar muito com quem vai acompanhar a publicação. Mas não confunda despretensão com descaso. Temos aqui uma publicação com dois roteiros inteligentes, simples e de fácil assimilação, uma arte muito característica e que contrasta com o tom da história e um embrião de um pequeno universo de ficção criminal que pode nos dar ótimas histórias futuras. Uma grata surpresa e uma ótima leitura.

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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