Jefferson Venancius E chegou a 4°parte da série sobre HQs nacionais! Dessa vez, pensei em separar HQs com um tom mais musical, aproveitando o dia do Rock essa semana e, afinal de contas, essa mistura sempre me fascinou e sempre trouxe algo a mais, e vocês irão ver aqui que nossos quadrinistas sabem muito bem ser geniais e que todo esse universo musical rico pode ser ainda melhor. Se você não viu as outras partes, confira aqui:
HQs Nacionais – Parte 1 | Graphic MSP – A Turma da Mônica em graphic novels
HQs nacionais – parte 2 | Webcomics
HQs Nacionais – Parte 3 | Títulos com a temática LGBT
– Blue Note
Autores: Biu e Shiko
Nosso protagonista tem um desejo insaciável de sair de onde mora, Rio Tinto, no interior da Paraiba, então ele decide viajar. Parece simples não? Não é.
Esta HQ foi feita para ser lida como uma música, com a mistura de instrumentos tocando em seus ouvidos ao ponto de você passar a não conseguir definir quais instrumentos estão lá mas no entanto os mesmos conseguem fazer você ter um feeling em que você se entrega.
Bem, explicando melhor, a forma narrativa não é muito comum, ela tem seu próprio ritmo, se montando de várias maneiras diferentes. Com referencias musicais, cinematográficas e literárias, é poética e filosófica, tratando de questões pelas quais todos nós passamos em algum momento na vida.
A arte aqui não é só palco, é muito mais, é, em conjunto com o roteiro, também maestro, tem seu próprio ritmo e melodia. O nome Blue Note é relacionado à uma nota triste, com tom de Blues/Jazz, e tem todo o sentido, pois sim, o feeling é exatamente esse, uma música com uma classe que toma forma e que você precisa escutar e escutar de novo.
– Aparecida Blues
Autores: Biu e Stêvz
O mundo é uma caixa de ressonância, E daí? E daí que tudo acontece ao mesmo tempo.
Essa é uma das idéias principais em Aparecida Blues, uma HQ cartunesca e rítmica que fala sobre encontros, amor e morte. Sim, rítmica, temos aqui momentos diferentes com emoções diferentes e portanto, ritmos diferentes. Desde o absurdo, o caos, o humor negro e até a tristeza profunda.
A poesia e a filosofia (que é ótima) é feita parafraseando música, os termos, a melodia e a harmonia. A HQ segue Alaor, um músico que se apaixona por Aparecida, surda.
As páginas não seguem algo muito linear, mas isso não quer dizer que não seja linear, quer dizer, acontece sim, ao mesmo tempo, é a vida, é o mundo, a caixa de ressonância.
O livro foi liberado para se ler online, como divulgação, você pode ler aqui e comprar aqui
– Música para antropomorfos
Autor: Fabio Zimbres
Um belo exemplo de trans mídia, esta HQ é vendida em conjunto com o álbum da banda MECHANICS, de Goiania. A forma com que ela foi desenvolvida é muito especial.
Primeiro, a banda criou todas as músicas do álbum, sem letra, e enviou para o autor da HQ.
Este, se inspirando no som dos caras, criou um roteiro para a HQ e enviou para eles. Eles fizeram as letras e enviaram para o autor e isso sucessivamente até ficar perfeito. A HQ, por mais que seja feita em conjunto com o álbum, consegue sim ser independente, mas foi feita para se ler enquanto ouve, cada capítulo representa uma faixa, mas você não precisa seguir essa lógica, tanto a HQ quanto o CD podem ser consumidos em Shuffle.
Totalmente surreal, esquisita, absurda, a trama da HQ e do CD se baseia nas andanças, guerras e tudo que houver em volta de duas cidades robôs, S.P e S.F. Cachorros sem cabeça, vacas tiranas, jacarés musculosos e muito mais, tudo é claro, com embates filosóficos. A arte tem muita experimentalização e grafite. O conjunto, livro e álbum, é com certeza uma experiencia muito interessante.
– Taxi
Autor: Gustavo Duarte
Um músico pega um táxi para ir a um show de Jazz, mas se lembra que deixou seu case em outro bar, então pega outro táxi, e é a partir daí que vemos que o que há por vir só tem um nome: Surreal.
Uma história divertida e interessante, sem falas, mas com balões representativos, esta HQ funciona em qualquer língua, e é claro, o desafio de contar uma história só com a arte é grande, o que deixa tudo mais genial.
É uma homenagem ao bar São Cristóvão em São Paulo, quando completou 10 anos, e é também uma homenagem do autor ao Jazz, um estilo de música que ele aprecia e que o remete a infância.
– Km Blues
Autores: Daniel Esteves, Wanderson de Souza e Wagner de Souza
Flávio é um homem recém-divorciado, totalmente perdido com uma bela crise existencial, ele resolve pegar a estrada para se encontrar. É então que ele cruza com Cartola, sim, o Cartola, sambista já falecido.
Revisitando lugares, revivendo momentos, em busca de si mesmo ou até mesmo fugindo, Flávio segue, e enquanto sua vida é todo um Blues, Cartola está ali para mostrar que sim, as coisas podem ser melhores.
Poética, filosófica e bem realista, é uma HQ bem brasileira, o público consegue se ver nela, trabalhando com os relacionamentos e todo o atrito que isso pode gerar. Com um traço muito profissional e as cores criando todo um ambiente por si só, dando um tom, um sentimento e uma diversidade a obra, esta é uma HQ que com toda a certeza vale a pena.
– Quaisqualingundum
Autores: Roger Cruz e Davi Calil
Temos aqui histórias baseadas nas canções do pai do Samba paulista, o grande Adoniran Barbosa.
São 4 histórias, mas não são só simples adaptações, são muito mais, o trabalho dos autores consegue muito bem engrandecer as músicas, contando além do que as músicas contam, sendo mais e ainda por cima, interligando-as.
As músicas de Adoniran são conhecidas por serem baseadas no povo humilde, que luta pra sobreviver todos os dias em uma sociedade onde nada é a seu favor. A arte é toda muito expressionista, com aquarelado e tinta guache, todo feito a mão. As histórias são baseadas nas músicas:
Saudosa Maloca
Apaga o fogo, Mané
Um samba no Bixiga
Samba do Arnesto
– Minha vida com criolo
Autor: Erick Carjes
Baseado em fatos reais e com um exagero que deixa tudo melhor, Minha vida com Criolo é sobre como foi para o autor ser vizinho do rapper, um relato bem humorado, quem conhece o Criolo sabe que ele é um cara genial, é como se ele vivesse dentro de poesia e como se tudo que sai da sua boca tivesse alma extrapolando.
Uma alma viajante que só sabe flutuar, meio “fora da caixinha” mesmo, mas que mesmo assim se preocupa, e tem um verdadeiro amor pelas pessoas, pelo povo. As histórias na HQ são mais ligadas ao cômico, e se você não conhece o rapper, não tem problema nenhum, muito pelo contrário, esta HQ vai te fazer querer conhece-lo.
Bem é isso, vale citar também a HQ Terapia, que só não coloco aqui por já ter colocado na segunda parte, espero que tenham gostado, e se tiverem algo a acrescentar fiquem a vontade para comentar!
