Igor Tavares Peter Allen David é considerado por grande parte dos fãs o autor mais competente a trabalhar nos títulos mensais do Incrível Hulk na década de 1990. Sua passagem seminal pelo gibi do Golias Esmeralda redefiniu (por diversas vezes, diga-se de passagem) a persona de Bruce Banner como a conhecemos atualmente, além de estabelecer um elenco de apoio marcante e uma mitologia muito rica para este núcleo narrativo da Marvel.
Um dos trabalhos mais lembrados do autor com o Hulk é a mini-série em duas partes publicada em 1992 chamada Futuro Imperfeito. Na história, o Hulk em sua versão “inteligente” também conhecida como “Professor” viaja a um distópico futuro do universo Marvel no qual ele mesmo aniquilou todos os heróis da editora e reina supremo como um ditador impiedoso. Esta versão mais velha e maligna do Hulk é conhecida como o Maestro e marcou época por mostrar um lado corrupto e invencível de Bruce Banner, além de um elenco de apoio bem característico.
Com a chegada da saga Guerras Secretas e o retorno de várias linhas temporais alternativas da Marvel ao confuso universo da editora (chamado Mundo de Batalha), viu-se a oportunidade perfeita de retornar a uma das sagas mais marcantes da história do Verdão pelas mãos de seu criador Peter David.
Futuro Imperfeito em 2015 é uma série tie in limitada em cinco partes que nos leva ao território do Mundo de 
Batalha conhecido como Dystopia. A região é governada com mão de ferro pelo Maestro e nestas cinco edições acompanhamos os esforços da força revolucionária liderada por Janis – neta de Rick Jones, a mutante Ruby Summers e um elenco de personagens conhecidos das páginas de Hulk. Ou, ao menos é o que a primeira edição dá a entender…
O curioso ao acompanhar o roteiro de David nesta nova Futuro Imperfeito é a naturalidade com a qual o autor inverte papéis e coloca seu elenco em situações nas quais você não consegue definir muito bem antagonistas e protagonistas. O roteiro de cada edição deste tie in forma uma história na qual não temos de fato “o bem contra o mal” e sim uma situação que une os protagonistas em uma jornada em prol de um objetivo comum, mesmo que muito relutantemente. O autor novamente nos presenteia com a versão mais “escrota” (no melhor sentido da palavra) do Lábios de Alface. O Maestro é um filho da puta em todas as edições e não se pode esperar menos deste personagem. Não há redenção para este sujeito. Ele é torto. Ele é arrogante. Ele é ganancioso. É assim que o personagem foi concebido e é assim que o escritor o apresenta desde sua primeira aparição até o final na quinta parte da história. Os fãs agradecem e quem curte de fato esta versão do Hulk, além de se deliciar com os diálogos e bravatas do personagem ainda leva de quebra um elenco de apoio enxuto, mas com participação até bem ativa no decorrer da história.
O final de Futuro Imperfeito pode sim ter um “que” de óbvio ou decepcionante. O recurso utilizado pelo autor para encerrar esta jornada não é uma coisa para lá de original e a participação do elenco de apoio nas últimas passagens é quase que nula. No entanto, a ideia do “desejo que se torna realidade” é um recurso válido, que pode não surpreender o leitor, mas amarra muito bem as pontas deste tie in.
A arte nas cinco edições de Futuro Imperfeito é do polêmico Greg Land. Sim. Quando falamos de Land os leitores mais atentos já pensam em expressões faciais inertes, reciclagem de quadros e personagens femininas com cara de comercial de perfume caro. E é isso mesmo. Avaliando friamente o trabalho do ilustrador nestas cinco partes da saga não temos nada muito diferente do que o mesmo apresentou em seu trabalho nos X-Men ou na sua recente passagem pelo título do Homem de Ferro. Um traço extremamente limpo e caprichado. Um uso abusivo (e muitas vezes bem vindo) de quadros grandes com uma pegada “Kirbyana” nas cenas de ação mais impactantes. E uma ausência gritante de personalidade na caracterização de seu elenco. É o velho Greg Land de sempre. Se voc6e não curte o trabalho do cara, ele não está fazendo nada para mudar sua opinião.
Apesar de muitos leitores torcerem o nariz para a parte gráfica deste tie in, Futuro Imperfeito é uma das melhores coisas protagonizadas pelo Hulk na Marvel nos últimos 10 anos (Pra você ver como a coisa anda feia pro lado do Verdão). Para os saudosistas, é uma oportunidade ímpar de retornar a um dos universos mais bacanas do personagem sob a batuta de seu criador. Para os leitores mais jovens, é uma bela introdução a esta versão do Hulk com um roteiro por muitas vezes imprevisível e muito bem amarrado. Um dos tie ins mais divertidos de Guerras Secretas e um verdadeiro presente para os fãs do Golias Esmeralda.
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