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‘Adam Sandler me fez ter um dia dos pais inesquecível’

A ideia do quadrinista mineiro Thiago era dar risada com o filme “Click”, mas o resultado foi uma aventura de cinema

Eu sei, você sabe, nós sabemos, que “Click” (2006) está no topo da lista dos melhores filmes do Adam Sandler. Mas esses dias eu encontrei uma história que vai muito além do filme e mostra como o cinema mexe com a gente. E às vezes é de um jeito tão especial que até parece ficção.

Em uma das postagens do meu perfil no Instagram (que por acaso é o mesmo deste site) que fiz sobre o filme “Click”, um seguidor comentou que por causa dele tinha vivido um Dia dos Pais inesquecível. Eu fiquei curioso com a história e resolvi chamá-lo pra trocar ideia e me contar tudo com o máximo de detalhes possível.

“Click” tem várias camadas, mas a principal é passar a mensagem do que acontece quando a gente vive no modo automático. O personagem dessa história se chama Thiago, tem 38 anos, mora em Ipatinga, é desenhista independente e também ganha a vida fazendo quadrinhos.

O que você vai ler agora é uma história verdadeira de Dia dos Pais. Um relato emocionante e que parece coisa de cinema.

Bom, eu morava em Belo Horizonte, estava trabalhando e estudando. Eu já tinha me formado em publicidade, mas sentia necessidade de aprender mais tecnicamente os programas usados na agência em que trabalhava. Entrava às 9:00 e saía às 18:00, mas de vez em quando eu pedia pra sair 17h30, comia um dogão na correria e chegava no curso técnico em cima da hora. O curso começava às 18h e ia até às 22h30. Eu pegava um ônibus às 22:45 e chegava em casa quase uma hora depois. No dia seguinte, eu precisava estar de pé às 6:00 e depois pegar dois ônibus para chegar ao trabalho.

Eu estava nessa há meses. Essa era minha realidade de vida. Eu morava sozinho, ou dividia o apê, não lembro direito. E meus pais moravam em Ipatinga, de onde eu saí pra ir estudar.

Bom, era o final de semana do Dia dos Pais e eu estava há meses sem vê-lo. Liguei e disse que não podia ir, porque estava muito cansado. Meu pai concordou, disse que eu tinha que descansar e entendeu… Mas eu sei que no fundo ele ficou triste. E completou dizendo pra fazer algo que me relaxasse. 

Desci a rua do apartamento em que morava e aluguei três filmes, todos supostamente de comédia. Escolhi assistir “Click” primeiro porque eu gosto do Adam Sandler. 😂. A ideia era ver o filme e dar umas risadas comendo pipoca e tomando guaraná. Tudo isso bem de boa no sofá!

Só que o filme vai ficando tenso, e quando tem aquela parte em que ele fica velho no hospital eu não aguentei mais. E comecei a chorar e a pensar em quanto tempo teria meu pai comigo.
Enquanto o filme ia chegando ao fim, fui fazendo o cálculo na minha cabeça do que eu precisava pra ver meu pai. Olhar a água e o óleo do carro, calibrar os pneus, colocar gasolina e partir. Era de madrugada e eu morava numa capital. Então batia um pouco de medo de acontecer algo ruim como ser assaltado, por exemplo. Mas criei coragem e resolvi ir assim mesmo.

Antes de pegar estrada, constatei um problema sério no carro: o limpador de parabrisa não estava funcionando e caminho de Belo Horizonte para Ipatinga é conhecido por chover do nada.

Lá estou eu na estrada, de madrugada, véspera do Dia dos Pais, não avisei eles nem nada. Mas comecei a me arrepender de ter feito isso. Começou a ficar com cerração e não dava pra usar o limpador, pois estava quebrado. Então abria a janela e enquanto dirigia lentamente, limpava a água do vidro com a mão esquerda. Naquela época, a estrada toda estava sendo recapeada e durante um bom trecho não tinha nem as faixas de mão e contramão.

Na metade da viagem começou a chover, não tinha como limpar o parabrisa, a não ser com minha mão, não enxergava nada, não tinha faixa nenhuma na BR. FODEU!

E foi assim até Ipatinga.

Cheguei na casa do meu pai todo molhado, era cedo, tinha acabado de amanhecer. Buzinei da forma que todos na família buzinavam, e meu pai logo apareceu. O velho ficou assustado achando que tinha acontecido algo grave. Foi quando eu disse que vim porque estava na madrugada acordado e não aguentei ficar longe dele nesse dia.

Ele deu um sorriso de lado. Eu o abracei beeeeeem forte!

Pensava comigo que: quando o inevitável dia de sua partida chegasse, eu estaria em paz em saber que aproveitei muito sua passagem por aqui. Sempre fui muito feliz ao lado dele. Em agosto de 2020 ele partiu.

Meu pai, minha esposa, eu e minha mãe. Esse foi o dia do meu casamento no cartório.

Ainda em luto, vi seu post e na brincadeira sobre o filme não ser uma comédia, lembrei desse dia que acabei de relatar e soltei o mesmo sorriso de quando o abracei.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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