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Tim Maia – Vale o Que Vier | Globo fumou baurete ao “produzir” a minissérie

O longa-metragem Tim Maia, dirigido por Mauro Lima, estreou em 30 de outubro de 2014. De lá para cá, obteve várias conquistas; figurou os primeiros lugares entre os filmes mais vistos em seu primeiro final de semana após a estreia, chegando a ficar em 3º lugar; faturou mais de 6 milhões em bilheteria até agora, e no dia 01 e 02 de janeiro de 2015, ganhou uma versão em minissérie exibida pela Rede Globo de Televisão.

Estrelado por Robson Antunes, que viveu Tim durante a juventude e Babu Santana na fase adulta, além de Alinne Moraes e Cauã Reymond, o filme é uma cinebiografia do cantor, baseado no livro de Nelson MottaVale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia.

Leia nossa resenha do filme: Tim Maia | A intensidade, a fúria e as canções de uma vida inteira!

Tim Maia - Vale o Que Vier | Globo fumou baurete ao "produzir" a minissérie
Os Sputniks da Tijuca

A minissérie, dividida em dois capítulos, foi uma “remontagem” do filme de Mauro Lima, com a inclusão de depoimentos de alguns artistas que fizeram parte da vida de Tim Maia e também de filhos, amigos e familiares. Até aqui, tudo ok, era o que se esperava que acontecesse: um filme enxugado para ser transmitido em outro formato. Mas o que eu assisti foi algo totalmente diferente – e se você assistiu ao filme, percebeu isso também. A Globo não enxugou, não fez uma “reconstrução”, tampouco uma “remontagem”, como eu citei acima. Foi, na verdade, uma desconstrução de todo trabalho que a produção, elenco, roteirista e diretor fizeram no filme Tim Maia (2014).

Tim Maia - Vale o Que Vier | Globo fumou baurete ao "produzir" a minissérie
Roberto e Eramos Carlos no filme e minissérie

Talvez para dar um ar mais leve ou para favorecer seu ponto de vista, a emissora contratou um diretor (Luis Felipe Sá) e uma roteirista (Patricia Andrade) cuja missão foi deixar tudo mastigado e redondo para o telespectador acreditar na versão que eu chamo de “heroica” da vida de Tim Maia. Isso significou – e muito – melhorar a reputação do “rei” Roberto Carlos. Além disso, a narração de Fábio, feita por Cauã Reymond, deu lugar a voz do próprio Tim Maia (Babu Santana) ainda mais caricato que o normal (e o normal que me refiro aqui, é o do filme).

No primeiro episódio tudo que eu reclamei na resenha em que fiz, foi consertado pela Globo. Roberto Carlos perdeu seu exagero caricato e deixou de ser o cara que ignorou as exaustivas tentativas de Tim Maia de se encontrar com ele. Também deixou de ser o cara que humilhava seu velho amigo “Tião da marmita” dando-lhe um sapato usado e dinheiro amassado jogado no chão, para ser o “cara” que deu o start na carreira do cantor. O Tremendão que foi meio esquecido no filme, ganhou voz na minissérie e chegou até justificar a questão do “ignorado”.

Erasmo disse que nunca esqueceu Tim e que a amizade que mantinham não entrava na lenda dele. Era algo mais íntimo para ambos, mas afirmou ter sido ele quem indicou o “Tião da Tijuca” para a gravadora, onde ele conseguiu gravar seu primeiro bootleg. O interessante foi que nenhum desses fatos foi retratado no filme, que curiosamente, foi baseado no mesmo livro que a minissérie. Me atrevo a dizer que, para favorecer o lado do “rei” e agradar a empresa onde ambos tem contrato, Nelson Motta teve que dar uma gato no que relatou na biografia do cantor, para justificar que Roberto Carlos “fez o que pode para ajudar a lenda”.

Tim Maia - Vale o Que Vier | Globo fumou baurete ao "produzir" a minissérie

Os momentos engraçados e espalhafatosos do rei do soul foram exaltados. As cenas utilizadas dos filmes foram costuradas com os depoimentos, justamente para afirmar e também ilustrar aquilo que era dito. Mas tirou o poder de reflexão do filme, aquele poder de deixar a coisa no ar para o espectador, sabe? Explicou pontos que geravam dúvida para quem é leigo na história – como a questão do filho adotivo – e também a origem de um de seus maiores sucessos, “Azul da Cor do Mar”. Ficou tudo mastigadinho, quase triturado para o espectador não ter dúvidas do que realmente aconteceu na vida dele, tampouco na cronologia dos fatos contados na versão da emissora. Lembro-me muito bem de uma vez em que Willian Bonner disse que o perfil do telespectador que asiste ao Jornal Nacional é como o do personagem “Homer Simpson“. Talvez isso tenha se estendido para o perfil de quem assistiria a minissérie.

Entretanto nem tudo é ruim. Algo assim faz a vida de um artista que a nova geração jamais ouviu falar ser  conhecida. Levar um filme para a televisão, mesmo que seja no formato de minissérie (aliás não foi a primeira vez que a Globo fez isso, o filme Serra Pelada dirigido por Heitor Dhalia também foi transformado em uma minissérie) traz muito mais público, e gera um interesse bem maior pela obra original. Infelizmente não é o bastante quando o resultado é igual ao de “Vale o que vier“!

Tim Maia - Vale o Que Vier | Globo fumou baurete ao "produzir" a minissérie

O grande pecado em si, foi que uma obra praticamente anulou a outra. Parafraseando Tim Maia – a Globo fumou um “baurete“(gíria que Tim Maia usava para maconha) dos bons, e sentiu a maresia. Pense numa situação: você é diretor de um filme, se esforça para que seu trabalho seja finalizado, realizado e aceito (em tese) pela maioria dos espectadores, e também por parte da crítica. Então chega outra pessoa, pega tudo que você fez, desconstrói, faz outra coisa e mostra isso para um número muito maior de pessoas que assistiram o seu filme no cinema. Como você reagiria? O Mauro Lima não reagiu muito bem e você pode ver tudo na íntegra em: Diretor de “Tim Maia” (2014) ironiza versão exibida pela Globo.

Quem não assistiu o filme, provavelmente amou o que viu nestes dois capítulos. Talvez se eu não tivesse assistido, também amaria. Se a sua pergunta agora é qual você deve assistir primeiro, não tenha dúvidas de que é o filme e depois a minissérie. Inclusive, depois de assisti-los, leia o livro e tire suas próprias conclusões sobre ambas as adaptações.

Tim Maia - Vale o Que Vier | Globo fumou baurete ao "produzir" a minissérie

Sebastião Maia teve uma história de vida sensacional e esse foi apenas mais um capítulo muito bonitinho, mas ordinário!


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Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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