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Demolidor – 1ª Temporada | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

O Proibido Ler teve acesso aos 6 primeiros episódios da série Demolidor, da Netflix. Leia um review totalmente sem spoilers:

Embora Frank Miller não tenha participado dos bastidores da série, é sua obra que a Marvel e a Netflix apresentam ao público na série “Demolidor”. O estilo de linguagem sombria e desenhos marcados por alto-contraste lembrando filmes noir são tudo no universo do homem sem medo. A série é ambientada em Nova York, no bairro “Hell’s Kitchen” (Cozinha do Inferno), mas com o desenrolar da trama é perceptível que a Nova York apresentada pela Marvel nos cinemas e, até mesmo, na série Agentes da SHIELD, é completamente diferente desta. Não entenda mal – o seriado não se desvinculou do Universo Cinematográfico – o ponto de divergência está no bairro. Para quem não está familiarizado com os quadrinhos, basta ter em mente que Hell’s Kitchen é o submundo de NY. Máfia, drogas, armas, gângsters, miséria e corrupção são algumas das peças de decoração do lar de Matt Murdock.

Segundo o próprio Matt, ele não está tentando ser um herói. É apenas um cara que se cansou de ver toda a merda acontecendo e resolveu fazer alguma coisa. Ele só quer fazer de seu bairro um lugar melhor.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

Charlie Cox absorveu perfeitamente as características do personagem – tanto do vigilante, quanto de seu alter-ego. O sério, porém simpático advogado cego é detalhadamente bem construído. Seus olhos não são brancos como os de Ben Affleck, no filme de 2003. São olhos “normais”, porém parados e não respondem a luz ou movimentos. Cox disse, em entrevista, que fez laboratório com deficientes visuais para entender e aprender como são suas vidas, seus movimentos, expressões e afins. O ator fez um ótimo trabalho. A figurinista da série, Stephanie Maslansky, disse anteriormente que se preocupou com os detalhes das roupas de Murdock, por isso, seu guarda-roupa foi criado pelo tato. Uma camisa com o último botão desabotoado, uma gravata e um terno vestem o homem sem medo durante o dia. A infância e a relação com seu pai, Jack Murdock (John Patrick Hayden), são bem trabalhadas, pois a série intercala flashbacks do passado durante os episódios.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

O Demolidor de Charlie Cox é uma obra-prima. A série é absurdamente realista – diferente de tudo que a Marvel criou até agora – em todos os momentos. Seu uniforme preto com detalhes vermelhos é prático, simples e adequado para agir durante a noite, esgueirando-se pelos cantos escuros de Hell’s Kitchen. As cenas de luta são de perder o fôlego, mas não devido a efeitos especiais, trilha sonora ou ângulos favoráveis. As lutas são cruas e violentas. Durante as brigas, não existe nenhuma música de fundo para dar mais ação ou suspense ao momento. A trilha sonora das noites de Matt Murdock nas ruas são gritos, gemidos, ossos quebrando, roupas rasgando, corpos batendo contra as coisas, corpos caindo, partes humanas sendo esmagadas, passos, respiração ofegante, armas sendo engatilhadas, tiros… Não há nenhum “enfeite” nos embates corporais. O Demolidor é o homem sem medo, mas não é um homem indestrutível. Ele apanha, apanha muito, é derrubado, levanta, desmaia, acorda, perde o foco, recupera, faz barulho tentando ser silencioso, se machuca, sangra, enfraquece, sente dor, tropeça, é surpreendido e tudo mais que acontece com um homem “comum”. O que o diferencia de seus adversários são seus sentidos aguçados, que são mostrados para o público de forma espetacular.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

Os roteiristas não foram previsíveis em criar uma cena onde o herói explica seus sentidos aguçados. Nos quadrinhos, Matt sabe quando alguém mente ou diz a verdade porque sua audição acompanha as batidas do coração de quem fala. Na série não seria diferente. Embora seja um espectador, a produção faz com que você esteja na pele do protagonista em certos momentos. Quando ele identifica uma mentira, por exemplo, a câmera assume o ponto de vista do personagem e os efeitos sonoros se transformam no que ele escuta. Todos os sons da cidade desaparecem e você (assim como Murdock) escuta apenas a voz e as batidas do coração de quem fala. Neste momento, você está na cabeça do Demolidor e entende perfeitamente como ele identifica mentiras e verdades – sem monólogos explicativos desnecessários.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

A audição, aliás, é o ponto mais importante para o trabalho do nosso herói (pelo menos nesses 6 episódios). O Demolidor escuta a cidade inteira e é assim que descobre o lugar onde pessoas precisam de ajuda. Gritos de socorro são facilmente abafados pelos barulhos de Nova York, mas não para os ouvidos de Matt Murdock – e você entende isso porque, novamente, entra na pele dele. O bom trabalho dos roteiristas faz com que, nos momentos exatos em que o herói está se concentrando, todos os sons da cidade aumentam e, lá no fundo, quase inaudível, estará o que você (e o Demolidor) precisam escutar. Você e ele focam naquele som, deixando para trás as buzinas, vozes, sirenes e músicas, até que escutam nitidamente o que precisam – e sabem que é hora de ir para a rua.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova YorkOs aliados do protagonista tem um bom tempo de tela, o que é ótimo já que a série é do Demolidor, mas ele não é a única pessoa que importa para a trama. Karen Page (Deborah Ann Woll) é uma mulher bonita, com boas intenções, porém envolvida em problemas maiores que ela, com um passado misterioso que deve ser trabalhado ainda nesta temporada e um novo emprego, de secretária, no escritório de dois jovens advogados. Foggy Nelson (Elden Henson) é o típico melhor amigo que conhece Matt como ninguém, o acompanha desde a faculdade e não divide apenas lembranças com seu sócio, como também sonhos. Nenhum dos dois sabe (ainda) sobre as atividades de seu amigo como vigilante, e passam mais tempo juntos do que com ele. Vale lembrar que, nos quadrinhos, Karen desperta o interesse amoroso dos dois, mas se envolve somente com Murdock e, é motivo de alguns desentendimentos entre os amigos. Até então, ela e Foggy demonstram estar cada vez mais ligados, enquanto nosso protagonista está focado na sua luta contra o crime – mas não perde a oportunidade de elogiar a bela secretária.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

A figura feminina que tem mais importância na vida do Demolidor (veja bem, estou falando do vigilante e não do civil) não é Karen. Ela se chama Claire Temple (Rosario Dawson) e é a única pessoa que sabe quem é o homem por trás da máscara. Isso não é por acaso – Claire é enfermeira, e se torna uma aliada fundamental para a missão do homem sem medo, já que ele se machuca muito (e frequentemente) e não pode aparecer em um hospital para receber o tratamento adequado. Para mim, Temple é a companheira perfeita para Matt/Demolidor, apesar de ter sido divulgado previamente que o interesse amoroso do herói seria Karen Page. É correto afirmar que Claire e Matt possuem uma conexão (e a química entre Charlie Cox e Rosario Dawson reforça isso). Infelizmente, se envolver com um vigilante mascarado não faz bem para a saúde, e os inimigos do Demolidor farão de tudo para descobrir sua identidade.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

Falando em inimigos…

A série tem seu herói, bem como seu vilão principal, mas não há apenas um vilão nessa história. Há uma galeria de vilões neste bairro, cada um com seu próprio negócio, que se unem numa espécie de “sociedade” do crime. Temos os irmãos russos Anatoly (Gideon Emery) e Vladimir (Nikolai Nikolaeff), que deixaram a Rússia para trás e estão na América para construir uma reputação. A misteriosa Madame Gao (Wai Ching Ho), que gerencia seu próprio negócio de manipulação de drogas. O japonês Nobu (Peter Shinkoda), que, em primeiro momento, pensei estar ligado a Madame Gao, mas na verdade ainda não revelou qual seu papel nessa “sociedade”. O homem que, segundo os russos, é a ponte entre eles e o Rei do Crime, Leland Owlsley (Bob Gunton). E, é claro, aquele cujo nome é proibido de ser mencionado – Wilson Fisk, o Rei do Crime (Vincent D’Onofrio). Essa mistura resulta em tráfico humano, tráfico de drogas e armas, assassinato por encomenda, corrupção política e policial, manipulação, tortura e muita, mas muita violência. O Rei do Crime quer “melhorar a cidade”, mas seus métodos são peculiares. Embora os outros antagonistas pensem que estão em posição de igualdade com Fisk, aos poucos se torna claro o motivo de lhe chamarem “Rei do Crime”.

Demolidor | Crime, sangue e mistério no submundo de Nova York

O Demolidor não sabe de todo esse crime organizado e (ponto para os roteiristas) à medida que ele descobre o que está acontecendo, nós também descobrimos – cada episódio revela uma faceta diferente da história. Não é fácil obter informações em um bairro tão afundado em crime e corrupção, mas Murdock não tem medo de sujar as mãos, o rosto, o chão e as paredes da cidade com sangue.

Os 6 primeiros episódios de Demolidor são intensos e tudo indica que os outros também serão. Há muito mistério acontecendo nos cantos sombrios de Hell’s Kitchen envolvendo pessoas que tem mais que dinheiro – tem poder. A conexão da série com o Universo Cinematográfico da Marvel é reforçada por pequenos detalhes, como citações à “Batalha de Nova York”, por exemplo. Entretanto, deste lado da cidade não há nenhum herói colorido, SHIELD ou asgardiano para ajudar. Há apenas um vigilante mascarado conhecido como “o homem de preto”, tentando fazer de sua cidade um lugar melhor.

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Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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