O motivo principal de eu querer assistir Ex Machina (2015), a princípio, foi Alex Garland. Sendo um escritor experiente, Garland já trabalhou em vários projetos relacionados à ficção científica – incluindo filmes excelentes como A Praia (2000), Extermínio (2002) e Sunshine – Alerta Solar (2007).
Após assistir Ex Machina, contudo, cheguei à conclusão de que a alma do filme não é Alex Garland, mas sim, o ator Oscar Isaac.
A trama é focada em três personagens: Caleb (Domhnall Gleeson), um jovem programador que trabalha na maior empresa de buscas na internet (uma alegoria ao Google, acredito) do planeta. Nathan Bateman (Oscar Isaac), o presidente da empresa onde Caleb trabalha, que é um gênio brilhante, com um ar de Steve Jobs, que conseguiu criar um androide com uma potente inteligência artificial. E Ava (Alicia Vikander) a primeira inteligência artificial do mundo, incorporada no protótipo do corpo de uma mulher.
Caleb ganha um concurso da empresa cujo prêmio é passar uma semana na reclusa mansão de seu chefe, interagindo, aprendendo e trocando ideias com ele. O que ele não sabe é que, na verdade, não será uma semana tão simples assim.
Nathan propõe a ele que realize o papel de examinador em uma versão avançada do Teste de Turing, para comprovar se Ava consegue ultrapassar a barreira que diferencia uma máquina de um ser humano.
Ex Machina trata de muitos assuntos implícitos. Por trás de cada sessão de conversa com Ava, Nathan e Caleb comentam as sensações que a androide está transmitindo, enquanto bebem uma cerveja. Durante esses papos, surgem comentários sobre temas fundamentais da robótica e inteligência artificial, que deixariam até o próprio Isaac Asimov satisfeito.
Resultado de um belíssimo roteiro, que faz com que uma conversa de alto nível não seja cansativa e tampouco se modere ao ponto de se tornar volúvel.
Os diálogos surpreendentemente interessantes vão desde a sexualidade ser parte inerente do ser humano, e portanto, necessária para que um androide alcance tal nível de inteligência; até a maneira com que as grandes empresas utilizam nossas atividades na internet para estabelecer perfis e conseguir informações sobre as pessoas.
Não se trata apenas de reflexão, como também apresenta um bom suspense. A trama ajuda o público a manter a atenção na tela, colocando-o em dúvida sobre muito do que acontece dentro da casa, bem como dosando o mistério de forma inteligente.
Ex Machina não nega informações ao espectador leigo, usando diálogos rápidos para explicar certos termos, como o próprio Teste de Turing, mas também não entrega seus plot twists de mão beijada, fazendo com que o público se engane ao pensar que conseguirá prever o que irá acontecer a seguir.
Visualmente o filme traz aquele toque “Apple” que se faz presente em todas as produções contemporâneas de ficção científica. A fotografia é um deleite visual, muito brilhante e vistosa.
Os efeitos especiais de Ava são fantásticos, uma mescla perfeita entre o humano e o robótico – um resultado que certamente não foi fácil de conseguir. O design futurista e contemporâneo da casa de Nathan, onde a maioria das cenas acontece, é genial dando a ideia de ser uma pequena ilha de alta tecnologia em um mar de natureza.
Uma semana de experiências impressionantes se transforma rapidamente em uma competição, onde o homem mais esperto deverá se sobressair – mas será que mesmo o mais esperto dos homens conseguirá superar a inteligência da máquina?
Alicia Vikander apresenta uma atuação balanceada entre o humano e o robótico, que foi fundamental para Ava entregar o resultado satisfatório do começo ao fim. Mesmo com efeitos visuais fantásticos, é certo dizer que a androide perfeita não estaria na tela se não fosse pelo trabalho da atriz.
Domhnall Gleeson representa o público, assistindo, descobrindo e tentando influenciar os acontecimentos de alguma forma. Sua personalidade tímida esconde o grande potencial do programador, que se revela no momento certo.
E, finalmente, voltando ao ponto em que toquei no início, chegamos a Oscar Isaac. Sou suspeita para falar desse ator, por ser uma fã declarada de seu trabalho e acreditar que seu talento rouba a cena em todos os projetos que se envolve.
Seu personagem é distante e problemático como qualquer gênio, mas o gênio de Isaac também carrega um ar de sociopata, que mantém o espectador em alerta a cada passo seu. Sensível, porém calculista; Atraente, porém assustador; Humano, porém cruel;
Isaac é um dos atores que apresenta naturalidade quando está trabalhando, são poucos os que conseguem tal feito. De todas as resenhas que fiz aqui no site, lembro de ter mencionado o fator “naturalidade em frente às câmeras” apenas uma vez, no texto sobre O Jogo da Imitação (2014).
Assistir Oscar Isaac atuando é assistir um profissional mergulhar naquilo que faz, abusando do talento natural que carrega.
Ex Machina é um ótimo filme, mas nem todo mundo concordará comigo. Se você não é um fã ou não acompanha filmes/séries de ficção científica, não se familiarizará neste espaço.
Se você é um apreciador do gênero, como eu, se deliciará a cada diálogo e cena. Se você não é um fã, mas tem interesse nesse “lado b” da sétima arte, com certeza se sentirá satisfeito.
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