Bruno Fonseca Imagina você assistir TV e ver sempre a mesma coisa, ou tentar ler um livro novo e se deparar com as mesmas páginas que você leu no dia anterior. E dirigir vendo os mesmos carros atrás de você todos os dias, ou passar pelas mesmas pessoas enquanto caminha na rua?
Parece uma experiência assustadora digna dos programas “Além da Imaginação” ou “Black Mirror”, mas é a vida de pessoas que sofrem de uma condição extremamente rara chamada “déjà vécu” (não confundir com déjà vu). Acredita-se que seja uma complicação da doença de Alzheimer, em que as pessoas têm a impressão persistente de que todos os encontros são apenas repetições de experiências anteriores.
Lembra bastante o filme “Feitiço do Tempo” (1993), em que o cara (Bill Murray) fica preso no dia que vai rolar a celebração do “Dia da Marmota” o tempo todo? Pois é, esse senhor está vivendo algo parecido na vida real. É como se ele estivesse preso em um loop temporal, revivendo os mesmos eventos repetidamente.
Uma equipe de médicos em New South Wales, na Austrália, recentemente divulgou um relatório sobre um homem aposentado de 80 anos que sofria de “déjà vécu” e estava convencido de que vivia o mesmo dia repetidamente. Apesar dos esforços de sua família para convencê-lo de que era apenas imaginação, o homem estava confiante de que estava preso numa espécie de “Dia da Marmota”.
“Todo dia é uma repetição do dia anterior”, disse o paciente aos pesquisadores. “Não importa onde eu vá, as mesmas pessoas estão nas ruas, os mesmos carros estão atrás de mim com as mesmas pessoas dentro deles. As mesmas pessoas saem dos carros com as mesmas roupas, carregando as mesmas malas e dizendo as mesmas coisas… nada é novo.”
De acordo com o estudo de caso publicado na revista BMJ Case Reports, em determinado momento, o homem chegou a contatar um técnico de TV porque acreditava que sua televisão estava repetindo constantemente as mesmas notícias. Em outra ocasião, ele ficou convencido de que seu leitor eletrônico estava com defeito, pois exibia as mesmas páginas do livro. Apesar dos esforços de sua família, eles não conseguiram convencê-lo de que tudo aquilo era fruto da imaginação.
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Os cientistas ainda não têm certeza do que causa o “déjà vécu”, mas alguns acreditam que esteja relacionado a uma disfunção no hipocampo, uma parte do cérebro responsável por converter memórias de curto prazo em memórias de longo prazo. As pessoas afetadas geralmente não compreendem o que está acontecendo com elas e podem desenvolver crenças falsas semelhantes a delírios para justificar suas percepções.
Os autores do relatório observam que, dois anos após o início do “déjà vécu”, os “sintomas de confabulação rememorativa do homem persistem de forma generalizada e incômoda”, mas “ele continua morando em casa e mantendo sua independência no autocuidado”.
Após examinar o líquido cefalorraquidiano do homem, os médicos identificaram um nível reduzido da proteína beta-amiloide 42, mas níveis elevados da proteína tau, indicativos da doença de Alzheimer.
