Jefferson Venancius Varginha, janeiro de 1996. Três meninas avistam um ser estranho, de olhos vermelhos, no meio da noite. A história foi crescendo, mais e mais relatos, operações militares, movimentações estranhas e mortes misteriosas. Tudo apontava para uma absurda coincidência aumentada pelo desespero popular.
Mas não se engane, é isso que eles querem que você pense.
A cidade, que não tinha nenhum atrativo em especial, aproveitou a fama e deitou na cama. Agora a prefeitura da cidade quer tornar o dossiê patrimônio imaterial. Só esqueceram de perguntar para alguém o que ele acha disso tudo… Mas não tema, pois eis-me aqui, com esta… e
Entrevista exclusiva com “ET de Varginha”
Senhor ET…
Senhor ET não, por favor. Eu tenho nome!
Desculpe, qual o seu nome?
Meu nome? Aldemiro Marrone.
Senhor Aldemiro Marrone… Então, queria primeiro agradecer ao senhor por nos deixar entrar na sua casa. É um lugarzinho humilde, mas muito ajeitado, viu pessoal?
Ta me chamando de pobre?
Pobre não, humilde.
Ah, então ta bom.
Então tá ótimo! Mas voltando, me diz: o que aconteceu com o senhor que deu uma sumida assim sem mais nem menos?
Eu fui sequestrado.
O quê? E a polícia?
Eles memo.
Mas o senhor não foi a… Mas e os seus direitos, seu ET?
Eu não sou registrado aqui na terra, daí eu não tenho direito nenhum, infelizmente.
O senhor é imigrante ilegal?
Sim, mas é porque não inventaram a lei, se tivessem inventado, eu juro que fazia o visto.
Faz sentido, mas o que aconteceu, afinal? Pensei que você estaria vivendo bem, com tanta camiseta, caneca e tudo o mais.
Não me pagam, isso que acontece. Usam minha imagem ai e eu fico como? Chupando dedo.
Complicado. Mas e a época em que você apareceu no Fantástico?
Olha, eu tive problema com jogo e com bebida… Quando eu jogava, queria beber, quando bebia, queria jogar. Mas isso foi antes, depois que eu fiquei sem nada e acabei fazendo reabilitação. Eu não tinha dinheiro pra beber nem pra jogar, e teve também o sequestro, enfim… hoje sou um novo trem.
Que bom, que bom, mas e aí? Ninguém mais quis saber do senhor?
Eu cheguei a me inscrever naquele programa A Fazenda, sabe? Por ser subcelebridade e tudo, o problema é que eu tive muito imitador, gente querendo tirar uma casquinha, daí viciou, uma coisa é você ser um ET, outra coisa é ser só mais um.
O senhor achou que a sua vida seria melhor aqui na terra?
Achei, foi meu erro! A vida no meu planeta é dura, mas pelo menos lá me chamam pelo meu nome. Eu tenho mãe, pai, casa… O foda é que você tá fodido num lugar, você vai pra outro e continua fodido, sabe por quê?
Sei não.
É porque às vezes o fodido não é o lugar, o fodido é você.
Complicado.
Complicado.
Mas então, como você sobrevive?
Faço bico. Esses dias eu quase morri, tava batendo uma laje, sabe? Só que eu cai.
E ai?
Deu nada não, eu sou borrachudo, to acostumado a apanhar da vida.
Mas então, você falou da Fazenda… E o Big Brother?
Ah, eu fiquei desanimado depois que não me escolheram na Fazenda, sabe? A gente desanima, num dia você aparece no Fantástico, o País inteiro para pra te ver, até gringo quer falar contigo. No outro nem acreditam que você existe.
Senhor ET de Varginha, você existe?
Mais ou menos, tem dia que a gente existe mais, tem dia que a gente existe menos.
Como assim?
Ah, é que eu acho que a gente só existe quando é lembrado, sabe?
Essa é uma maneira muito triste de se viver.
Mas e se for verdade?
Se for verdade estamos mal. Faz dois dias que eu mandei mensagem no zap e ela nem tchum. Será que eu morri?
Acontece.
Mas eu não desanimo não, a vida continua, só que a vida com ela é melhor…
Sei como é, a minha esposa é o brilho dos meus zóios.
O amor é uma coisa bonita, né seu ET? Difícil é acontecer com a gente.
Mas tenha fé, amigo, uma hora vai.
Se Deus quiser, seu ET.
Se Deus quiser, amigo.
Que que eu tava falando mesmo?
Do Big Brother.
Ah, então, se o senhor passou no Fantástico… sabe como é, TV Globo também, às vezes eles se animam.
O senhor acha?
Acho sim, e outra, a sua história me lembra a da Ju.
Será que eu consigo uma carreira musical tbm?
Vamos torcer. Quem sabe uma dupla Sertaneja com ET Bilu?
Com ele nem pensar.
Por quê?
Muito sabidinho.
Mas e os seus jogos? Esses dias fiquei sabendo que a Nintendo lançou um jogo seu, onde você tem que fugir do governo, o que você acha disso?
O que eu acho disso é que se eu ganhasse um puto dava pra pagar o leite das criança.
Mas você fugiu mesmo?
Fugi, fugi sim, aliás to fugindo, é por isso que ninguém pode saber que eu to aqui.
Aqui onde?
Não vou falar né porra, eu sou ET mas não sou doido.
Verdade, erro meu, desculpa.
O senhor ta perdoado.
Apesar de que se te acharem te deportam, não é não?
Não dá pra voltar pro meu planeta, me deportam sim só que pra lugar nenhum. Que é a cadeia.
Mas e o seu disco voador?
A gasolina ta muito cara ainda, seu reporter, eu to sempre esperando ela abaixar mais.
E já aconteceu dela abaixar o bastante?
Já, o ruim é que eu quis esperar mais um pouquinho, daí subiu.
Complicado. Vamo encerrar então?
Bate bola, jogo rápido!
Um herói?
Etevaldo.
Um vilão?
Os bombeiro.
Um sonho?
Voltar pra minha terra.
Varginha?
Bando de filho da puta!
É… Vamo parar por aqui, que que o senhor acha?
Acho ótimo.
Muito obrigado pelo seu tempo, senhor Aldemiro Marrone, também conhecido como ET de Varginha.
De Varginha não, por favor. Eu não quero mais ser propriedade deles que eu também sou ser humano.
Desculpe, espero que consiga seus direitos na justiça.
Eu já desisti, mas continuo tentando.
Entendo bem. Boa sorte pro senhor.
Obrigado, pro senhor tbm!
Aviso Importante: Essa entrevista é puramente fictícia e criada apenas para fins de entretenimento. Não representa eventos ou pessoas reais. Divirta-se com a brincadeira!
