Rafael Tanaka O falecido Dreamcast é um dos consoles mais consagrados e inesquecíveis da SEGA, porém foram pouquíssimos que tiveram a oportunidade de ter uma experiência com seus jogos, mesmo com o tempo de vida curto, ele fez história no mundo dos games. Tudo isso se deve ao jogo que mudou a indústria e influenciou outros games na época. Muitos jogos que temos disponível nas prateleiras seja da sua casa ou do mercado, deve um pouco ao “Shenmue”. Mas a ambição em sua produção foi um dos fatores para o inicio do falecimento da SEGA no mercado.
Complicado falar de um game que aos olhos de hoje tem conceitos que não são nada exuberantes, mas que na sua época foram tão inovadores e promissores que influenciaram os games de mundo aberto em uma estética viva e fluída. Enquanto “Shenmue” nascia, GTA ainda era apenas uma faísca do que viria a se tornar anos mais tarde.
Criado pelo visionário Yu Suzuki (mesmo de Virtua Fighter), os primeiros rascunhos de “Shenmue” visavam muito um RPG de “Virtua Fighter”, um prequel para seu personagem principal, Akira Yuki, tantas mudanças começaram a ser incluídas durante a produção que optaram por um caminho totalmente original.
A princípio ia rolar também uma versão prevista para o SEGA Saturn, mas os testes não agradaram ninguém, pois o console sofria para renderizar os ambientes e os personagens. Seu processador não era potente e por isso, a SEGA teve que correr com a produção do Dreamcast e lançar o jogo em seu auge como exclusivo de peso em uma performance que vingaria seu demorado desenvolvimento.
“Shenmue” chegou às lojas japonesas em 29 de dezembro de 1999, seu custo ultrapassou os 47 milhões de dólares o equivalente a quase 70 milhões nos dias de hoje. Todo o dinheiro investido era a transparência para justificar cada mínimo detalhe. A SEGA queria ultrapassar barreiras e provar seu lugar no mercado. Mas todo esse carinho, atenção e dinheiro, não deram o retorno em vendas e eles não conseguiram atingir nem metade do orçamento que gastaram na produção.
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Muitos afirmam que o jogo não somente foi responsável por excluir a SEGA da briga de consoles, como também um dos responsáveis de sua futura falência. O Dreamcast sofreu muito no ocidente devido a chegada tardia em um ambiente onde a Sony já dominava grande parcela do mercado com o Playstation 2 e sua inúmera biblioteca de jogos.
Ambientada na cidade Yokosuka no interior do Japão no fim de 1986, vivemos o disciplinado e teimoso Ryo Hazuki, um jovem de 17 anos que cresceu no dojô de Karatê do pai e aprendeu todo seu estilo de luta. Um dia após seu retorno para casa, ele percebe estranhas pessoas ao redor do imóvel, uma delas é o enigmático Lan Di da máfia chinesa que em uma luta acaba matando o pai de Ryo. Seu objetivo era conseguir um espelho para fins pessoais que havia sido escondido, Ryo tenta combatê-lo, mas acaba facilmente derrotado. Seu oponente é superior em seu estilo de luta.
Cego pela vingança, o garoto entra na jornada para descobrir o paradeiro de Lan Di e poder matá-lo, nesses caminhos ele cruzará com amigos e inimigos, com descobertas que podem ligar seu pai a segredos obscuros entre a máfia chinesa e uma gangue de motoqueiros. Uma trama cheia de dramas, conspirações, lutas e a filosofia do caminho do guerreiro.
No primeiro contato, o jogo não lhe ensina nada e pode esquecer os famosos tutoriais. “Shenmue” não pega sua mão e mostra o caminho, ele espera que você descubra tudo sozinho e as direções para onde continuar fica por sua conta. As pessoas da cidade com conversas podem lhe mostrar a caminhos com dicas, os golpes também são passados através de outros personagens personagens que estão estão espalhados pelo mapa e dispostos a proporcionar novos conhecimentos de artes marciais. Essa experiência provém de viver a vida sem amarras e livremente.
O ar de realidade pode ser presenciado em como a cidade é viva, seu clima seguia de acordo com o mês vigente e até mesmo com a realidade do clima como sol, chuva ou neve. Muitas missões precisam que seja executadas em um certo horário e você não pode avançar o tempo, muitas vezes é preciso ocupar seu tempo, para os ansiosos isso pode frustar como a própria vida real. Esse tempo ocioso pode ser divertido se você encontrar os fliperamas com jogos reais da SEGA.
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Durante a manhã, temos lojas e moradores ganhando a vida com seus trabalhos e compromissos, quando a noite chega até uma animação é executada, demonstrando que a vida continua com bares, karaokês e os becos com seus inferninhos. Ryo não leva uma vida de liberdade devido a sua idade tanto que quando o horário da matinê acaba é melhor retornar ou ouvirá muito no dia seguinte da governanta da casa.
Os NPCs não são máquinas, mas cada um possui sua própria história, isso é declarado por suas falas que mudam sempre destacando ainda sua personalidade e proporcionando uma profundidade para o enredo de todo o jogo. Na época nem dava para acreditar que esses personagens trariam esse tipo de background. Os gráficos ressaltam toda a demora e custo da produção com sua beleza bem transmissível, as cores são vivas e até os rostos dos personagens têm um detalhamento incrível com cicatrizes ou rugas.
Os famosos QTE (Quick Time Events) foram a marca registrada de “Shenmue”, um dos pioneiros a implementar essa jogabilidade. Hoje abusaram tanto dela que se tornou algo banal. Lutas, perseguições fazem o uso de tal jogabilidade, apertar os botões que aparecem na tela no momento certo, caso erre toda ação terá que recomeçar até acertar, o que o leva o jogador a decorar os comandos muitas vezes. É preciso ter paciência, mas a satisfação chega e chega bem forte!
O sistema de luta é o mesmo utilizado em “Virtua Fighter” (inovador para sua época), os golpes não parecem duros e robotizados, mas um conselho que o game propõe indiretamente é sempre buscar novos aprendizados com novos golpes, mestres, treino ou através da compra. Mesmo que o foco seja a narrativa no jogo, os momentos onde você precisa lutar podem se tornar desafiadores, mesmo sem treino e um conhecimento do sistema de luta.
A trilha sonora é um verdadeiro espetáculo, existe uma música para cada ambiente ou momento da história, natural e original, o tom orquestrado ajuda a deixar a narrativa fluida e bela. Com climas orientais e ocidentais, cada ambiente possui uma identidade musical. Porém a beleza de sua música não é o mesmo das vozes, especialmente as dubladas em inglês, amadora e totalmente abafada, optando o jogador a usar o idioma original em japonês.
A princípio com uma história datada e cheia de clichês, o verdadeiro carisma é a construção de personagem, o garoto que se torna um homem, a ingenuidade e o amadurecimento no decorrer da jornada de Ryo. A filosofia em trilhar um caminho sábio, plausível e reciproco dão a autoridade e o gosto de acompanhar o protagonista, quem era e o que viria a se tornar em seu caminho.
Seu ritmo lento com foco maior na história pode ter sido um agravante para as baixas vendas, porém os que souberam utilizar seu tempo puderam admirá-lo. A continuação recebeu ainda mais atenção, mas foi lançada apenas no Oriente uma estratégia que já ditava o fim do console. O Ocidente só viria a receber o game anos mais tarde como exclusivo do primeiro Xbox. Engavetado por mais de vinte anos, o terceiro título que pode ou não ser a conclusão apenas será lançado graças a ajuda de fãs que financiaram a produção via crowdfunding.
O maior erro de “Shenmue” foi ter uma enorme ambição em um período onde ninguém estava preparado para receber tal magnitude. Por mais que seu realismo tenha sido sua glória foi também seu sua negatividade. Apesar de tudo, o mundo dos games sempre será grato por ter tido a oportunidade de jogar “Shenmue”. Resta dizer que Yu Suzuki já criava uma obra-prima sem saber de que teria tal poder futuramente.
