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Happiest Season (2020) | Seja quem você é de verdade neste Natal

O Natal também pode ser gay nessa comédia romântica estrelando Kristen Stewart e Mackenzie Davis

A comunidade LGBTQ+ passa por quase toda a vida sem se ver representada nas telas da TV ou do cinema. É muito difícil descobrir e aceitar quem você é de verdade quando você não tem noção do que existe, do que pode ser.

A proporção de filmes com a temática Queer se comparada as outras chega a ser vergonhosa. Na grande mídia rola talvez pouco mais de cinco personagens com alguma relevância por ano. As vezes mais, as vezes menos. É mais difícil ainda encontrar filmes de gênero, sendo cercados apenas por dramas pesados cheios de morte e experiências ruins. Isso generalizando, é claro. Na comunidade sáfica (termo usado para se referir a qualquer mulher que tenha atração sexual ou romântica por outras mulheres) sempre tem a piada dolorosa de conseguirmos pensar em apenas uma comédia romântica de fácil acesso, sendo essa o filme “Imagine Eu e Você” (2005). Dito isso, “Happiest Season” é um sopro de felicidade e de amor em nossos corações.

“Happiest Season” é uma comédia romântica natalina que acompanha Abby (Kristen Stewart) e Harper (Mackenzie Davis), que vivem um belo casal que está morando junto há alguns meses e as coisas são só alegria. Abby é meio “Grinch” quando se trata do Natal e, no meio do calor do momento, juntas Harper acaba a convidando para ir passar o natal com sua família em sua cidade natal. Abby decide então que essa é a oportunidade perfeita para pedir a mão de sua amada em casamento, com todo o clichê de receber a benção da família.

O que ela sabia é que Harper ainda se assumiu para a família por medo deles não a aceitarem e pede que Abby se passe por sua colega de quarto hétero. Tudo armado para confusões de família e mal entendidos, certo? E aqui vem o acerto de “Happiest Season”.

O filme se afoga em todos os clichês possíveis do gênero “em casa para as festividades” e comédia romântica. Para alguns, isso pode soar péssimo e batido. Para a comunidade LGBTQ+, soa mais como um sorriso cúmplice. Todos esses clichês podem estar velhos e por ano saem dezenas de filmes do tipo no mercado norte-americano de filmes natalinos, mas dessa vez têm a cara da comunidade. Claro que ainda se trata de um filme majoritariamente branco, mas já é um passo sendo dado.

Clea DuVall, diretora e co-roteirista do filme, é uma mulher assumidamente lésbica e isso ajuda demais na maneira como o filme anda. Se a câmera é a caneta e o cineasta é o autor, é ótimo que quem esteja escrevendo essa história seja alguém que entende de alguma forma o que está acontecendo ali e o que aquilo representa. “Happiest Season” tem momentos muito sutis em como retratar o relacionamento das protagonistas, com muita doçura nos momentos de calmaria e com o peso da experiência nos momentos de tensão.

Clea Duvall com Kristen Stewart e Mackenzie Davis

Existe uma sutileza na forma em que “Happiest Season” lida com o drama da personagem Harper e o sentimento de não poder ser quem você é de verdade. Nós acompanhamos muito mais a história pelo olhar de Abby, talvez para manter mais a comédia e menos o drama, mas é nas entrelinhas dos olhares de Harper que fica todo o sofrimento que a maior parte das pessoas assumidas ou não passam. É como John, personagem de Daniel Levy que rouba a cena em vários momentos, diz em um momento emocionante da história: cada uma tem uma experiencia diferente, mas o que une todos é o medo antes da hora da verdade.

O medo de Harper de perder sua família e consequentemente o medo de perder Abby se não contar a verdade, é verdadeiro a muitas pessoas que precisam viver nessa situação. Muitos vão poder se enxergar nesta história.

Se em Harper temos o drama, em Abby nós temos os momentos mais cômicos do longa. É um tapa em quem ainda diz que Kristen Stewart não sabe sorrir e é engessada. Ela está divertida e perfeitamente encaixada no papel da descolada Abby. Ela é o charme do filme, o ponto seguro. Como citado antes, Daniel Levy aparece para entregar frases icônicas e ser o melhor amigo gay de Abby. Quase como a consciência dela. Além disso temos Aubrey Plaza em um de seus melhores papeis desde “Parks and Rec”, entregando com intensidade o papel de ex-namorada de Harper que já foi afetada pelo medo da outra.

Estou falando aqui de uma comédia romântica e ainda por cima natalina, então é claro que tudo dá certo no final e o filme nos deixa com o coração quentinho e cheio de esperança. A experiência de assistir esse filme em tempos tão difíceis foi de paz. E foi melhor ainda que a história é uma que eu me senti representada. Eu estou ali. Minhas experiências estão ali. Nós existimos. Nós também merecemos filmes cheios de clichês e bobagens piegas.

“Happiest Season” é tudo o que nós sáficas, e qualquer pessoa que precisa aprender a aceitar quem realmente é, podia pedir nesse natal.

“Happiest Season” está disponível no Hulu, serviço de streaming que ainda não atua no Brasil.

Escrito por Charlie Grandchamp

Devoradora de cultura pop que não se importa em levar spoiler. Sonha em ser o cara da locadora. Carteira assinada na comunidade LGBTQ+. Realmente acredita que é a Garota Esquilo.

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