Enter the Gungeon, da Doge Roll é um o tipo de jogo indie que tem se visto cada vez mais nos últimos tempos: com cara de jogo AAA, mas com o carinho que só desenvolvedoras/es independentes conseguem incutir em suas produções. Estilizado e formulado com base na popularíssima construção pixelada, o jogo é uma mistura harmonizada de diversos estilos que absorve exatamente o que precisa para se manter enquanto algo novo, mas ao mesmo tempo antigo.
EtG é um bullet hell (balas por todos os lados), dungeon crawler (rastejar por calabouços como RPGs clássicos), top-down plataformer, 2D com profundidade em pixel, adventure, comedy e com elementos de ação e RPG dentro de uma formulação rogue-like. O que diabos é isso tudo? Um Binding of Isaac diferentão, com muita, muita, muita história e muitas microrreferências fantásticas à cultura pop dos anos 70/80/ e início dos 90.
Com base em duelos contínuos dentro de masmorras e calabouços labirínticos gerados aleatoriamente, seguimos a história de um grupo de pistoleiros desajustados compostos pela Condenada, a Caçadora, o Fuzileiro, o Piloto e o Cultista.
Cada um/a busca de andar a andar pelo maior e mais lendário tesouro da Gungeon: a arma que pode matar o passado.
Cada personagem tem um background específico que explica o porquê de quererem eliminar o passado seguindo os passos de um/a pistoleiro descrito em antigas histórias desse mundo.
Falando em mundo, estamos em um mundo fantástico povoado por criaturas advindas de partes de munições, armas e veículos de combate, animados por forças místicas que são reverenciadas pelo culto sombrio das balas (que são literalmente balas ambulantes e soldados construídos de partes de canhões – ou do fluído de armas velhas – com força vital de uma criatura misteriosa).
Extremamente responsivo, o jogo demanda o uso de teclado e mouse em conjunto, com WASD como direcionais, Q para disparar uma bala “vazia” (que causa um cancelamento de ataques dos inimigos), espaço para usar itens, botão esquerdo do mouse para atirar, direito para fazer rolamentos/pulos e a roda do meio para selecionar armas.
A passagem dos comandos a um joystick funciona, mas a melhor experiência por conta dos controles finos de mira é no uso combinado mouse + teclado (nada que um adaptador possa resolver no caso do PS4).
O som é perfeito, e impressiona pelo impacto e a profundidade no uso de armas e nas explosões.
Embora alguns ruídos sejam repetitivos e enjoados, no geral, o som é um dos pilares de sustentação do jogo (e se você acompanha minhas resenhas, sabe minha insistência do som enquanto elemento central de uma boa narrativa audiovisual).
Você consegue sentir o peso das ações, itens e armas graças à junção imagem e som.
As músicas são muito divertidas, e a trilha sonora consegue navegar entre diferentes estilos e humores de maneira imperceptível: parece um enorme álbum conceitual feito para o jogo (e foi mais ou menos isso que aconteceu).
O visual pixelado é original. Embora existam óbvias inspirações em visuais de jogos e animações, tudo foi usado como esboço em forma de ideias: a construção imagética é praticamente plena e adiciona profundidade e vida ao universo das balas e armas vivas, além de aumentar o grau de imersão e diversão.
Cada inimigo simples, arma, personagem jogável e não jogável, NPCs, chefe de andar, item, andar e até mesmo os quadros nas paredes (!) tem background e uma história muito bem construída que sustenta o mundo de Enter the Gungeon.
Os elementos de RPG envolvem obtenção de moedas (que são pequenas balas de cobre, prata, ouro ou diamante) para comprar itens e/ou armas, chaves e desbloquear certas regiões.
Você pode conseguir tudo isso durante as passagens pelas salas do labirinto em cada andar, mas o sistema de compra e desbloqueio faz parte da mecânica do jogo (que é mais ou menos permadeath.
Você morre morte morrida sem volta, mas as armas que você desbloqueia, os prisioneiros que você liberta e os elementos de história que você alcança são permanentes.
O sistema de compras funciona com uma sala dentro do labirinto, NPCs aleatórios e sacrifícios em altares (que envolvem saúde, munição, dinheiro ou uma arma).
Cada personagem tem seus pontos fortes, e seus pontos fracos.
A caçadora, por exemplo, que eu mais uso, tem uma besta que é mais forte que muitas armas, além de um cachorro que desenterra itens com certa regularidade, mas ela é mais lenta e desvia mais devagar.
Disponível para PC, Linux e PS4, Enter the Gungeon é uma das pérolas espaciais dos jogos independentes.
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