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Armadilhas do Coringa, acertos de Watchmen e o tal do chato

Faz tempo que não sentia tanta necessidade de voltar a falar sobre como as interpretações do público têm causado alguns problemas. Certas coisas ficam subentendidas e passamos a observar uma sociedade que convulsiona e aplaude de pé o lema: “o fim justifica os meios”. O filme do Coringa, por exemplo, mesmo passando uma visão sobre o nascimento de um psicopata, encontrou pessoas que se identificaram com suas motivações. Ao mesmo tempo que preciso falar sobre a série “Watchmen”, da HBO,  que está colocando o dedo na ferida e deixando muita gente incomodada.

Vamos por partes

Coringa, de Todd Philips, era um assunto que eu estava enrolando para escrever. Eu queria entender melhor como as pessoas estavam interpretando o filme. Diversas vezes autores de quadrinhos e diretores de cinema mostraram o personagem como um psicopata sem coleira e uma roleta russa de escolhas. Podendo manter vivo gente que você não espera e tomando decisões que iriam mudar a escala de vida das algumas pessoas. Isso é o Coringa. Ele não é um coitado. E não, ele não é um revolucionário e  não chega perto de ser admirável. Coringa é um personagem doente e um assassino sem escrúpulos que deve pagar pelos seus crimes. Ponto final! Porém o eu que vi foi algo totalmente diferente.

Armadilhas do Coringa, acertos de Watchmen e o tal do chato
“Coringa” (2019)

A comoção pós filme, foi de pessoas dizendo que o personagem era uma vítima da sociedade e da letargia de seus governantes. Mesmo que o longa lembre a maior parte do tempo que estamos observando um narrador não confiável, ao ponto de criar um romance na sua cabeça com uma pessoa que ele viu em um elevador apenas uma vez, passa a ser aterrorizante observar como eles acreditam que esse tipo de personagem é um mártir e um líder de resistência, quando na verdade os quadrinhos já mostraram algumas vezes que o Coringa estava cagando para pobres e a situação caótica de Gotham City.

Leia mais: Coringa (2019) | Da loucura ao caos

Pintar o rosto para usar esse símbolo como algo ligado à resistência, só mostra que não entenderam o filme e não prestaram atenção no momento que estamos vivendo. Não parece que estamos vendo um presidente que diz ser “antipolítico” e contra o sistema, usando TODAS as ferramentas desse sistema para continuar sentado na cadeira mais importante do País. Um revolucionário não nasce de um dia para o outro. Dizer que o Coringa tem a mesma relevância de “anarquista” (coisa que ele não é) é como cuspir no quadro de Alan Moore, quando o mago explicou como funcionava um mundo conservador e autoritário em “V de Vingança”.

Agora, vamos de “Watchmen”

Por que dei toda essa volta falando de Coringa? Exatamente para elucidar como o trabalho do Damon Lindelof está sendo corretíssimo na interpretação de Watchmen. E por que ele faz isso tão bem? Resposta simples. Lindelof não dá margens para múltiplas interpretações, ele mostra como cada personagem funciona e tira TODOS os esqueletos do armário para facilitar a compreensão de suas motivações e da narrativa.

Armadilhas do Coringa, acertos de Watchmen e o tal do chato
Cena da série “Watchmen”

A adaptação “Watchmen” para a TV fala sobre supremacistas brancos em uma sociedade quebrada que não consegue manter os seus defensores longe dos vilões, que acredita em teorias de conspirações, fazendo uma movimento extremamente simétrico a realidade que está cada vez mais divida. Um mundo que expõe grandes problemas, falta de respeito, escondem preconceitos e ódio atrás de opiniões. Em apenas três episódios, é possível perceber que a série de Lindelof vai explorar ainda mais como a liberdade pode ser relativa e como a frase “Quem vigia os Vigilantes”, é uma das frases mais atuais do mundo no século XXI.

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Sabe por que tanta gente está se sentido incomodada com o fator do Rorschach ser um símbolo dos supremacistas brancos? Porque muita gente acha que ele é um bastião de boas virtudes, mas esquecem que o personagem disse no próprio gibi ter simpatia por nazistas, e que era um personagem sexualmente reprimido ao ponto de nunca se aceitar. Para muitos “nerds”, ele era o bastião da masculinidade e testosterona, mas na verdade é um cachorro louco e com grandes problemas de autoconfiança 

Armadilhas do Coringa, acertos de Watchmen e o tal do chato
Cena da HQ “Superman – All Star”

Percebe como existe problemas na interpretação de personagens? Algumas pessoas se sentem mais atraídas por personagens corrompidos ou que se vendem como solução fácil, do que de entender como o Superman deveria ser um dos personagens de quadrinhos mais relevantes do mundo. Sempre com a frase: “Superman é muito chato, ele não faz nada de legal“. Aí que está, Superman é bondoso e o “S” que ele carrega no peito está lá para nos mostrar o caminho da esperança. O Superman não é chato.

Já você…

Escrito por Pablo Sarmento

Oi! Eu sou Pablo Sarmento, inventei de escrevi sobre gibis e acabei me tornando meu pior inimigo dentro de um multiverso de versões de eu(s) mesmo(s).

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