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Coringa (2019) | Da loucura ao caos

Desde seu anúncio, o filme do “Coringa” (2019) trouxe um suspense que pairava no ar,  justamente porque o futuro longa não funcionaria com o universo cinematográfico já criado pela DC, este título funcionara como um projeto solo, autoral e até sobre um novo selo. A atração pelo filme só cresceu quando Joaquin Phoenix foi anunciado como protagonista, e depois de quase três anos venho lhes dizer que este filme é inconfundível em sua magnitude.

Escrito e dirigido por Todd Phillips (Se Beber Não Case), o longa metragem é uma experiência imersiva na mente de um dos personagens mais simbólicos da cultura pop, seu universo aqui é passado em um ambiente crível e com total liberdade, essa tal que chega a trazer uma humanidade nunca antes vistas, razões para seus caminhos e sua sanidade executados de uma maneira concisa.

Coringa (2019) | Da loucura ao caos
Joaquin Phoenix como Arthur Fleck

Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço, diverte crianças em hospitais e atrai pessoas para negócios locais, mas ele esconde problemas mentais que já o mantiveram no sanatório, vive tentando se encaixar como normal na sociedade, ainda que seus impulsos emocionais e sua mente despertem em si uma risada nada amigável. Mas como todos nós, Arthur quer realizar um sonho de crescer como comediante de Stand Up e ser entrevistado por Murray Franklin (Robert De Niro) em seu programa.

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Sua vida não é nada fácil, pobre e extremamente precária. Arthur Fleck tenta cuidar da mãe doente, enquanto a cidade de Gotham entra em um colapso pelos novos poderes do governo, essa atual situação deixou toda população insatisfeita criando uma violência imensa, que favorece Arthur no sentido de deixar seu mal interno crescer em sua mente. Cedo ou tarde, seu demônio sairia da jaula e a culpa não foi apenas do governo ou sociedade, mas dele também.

Coringa (2019) | Da loucura ao caos
O Príncipe Palhaço do Crime

A narrativa se desenvolve através da evolução do personagem, tudo é visto sobre sua perspectiva, o que não dá muita abertura para personagens secundários. A loucura rouba a cena e o caos serve de combustível para Arthur fazer dela sua maior arma.

Coringa (2019) | Da loucura ao caos
Cena do filme do “Coringa” (2019)

Nessa construção de personalidade, a violência prevalece, o que antes era retraído agora abre as portas para o brutal e sanguinário nos olhos do personagem. Porém, essa violência no filme não é glorificada o que faz em muitos momentos sentirmos remorsos e medo de Arthur. Mas seus atos são uma válvula de escapa para soltar o demônio que vive preso dentro dele. Toda essa composição é filmada perfeitamente com cortes bruscos e dinâmicos.

Convenhamos que o olhar da direção não quis apenas criar uma origem nova para o personagem, ele também toca em como a sociedade lida com as doenças mentais, o afastamento e descuido sempre estão presentes. Aqui não apenas o protagonista libera a loucura de si, como também a própria população da cidade que vive a beira do abismo emocional. No final, nada justifica seus atos insanos mas o controle que poderia ser trabalhado sobre ele e sua doença.

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Outro Oscar cada vez mais perto das mãos de Joaquin Phoenix, sua atuação é de uma particularidade, criatividade e brilho, o personagem criado por ele aqui não trabalhou pautado a nada visto nos quadrinhos. Sua liberdade em esculpir um novo Coringa são imensuráveis, até mesmo sua risada patológica causa arrepios quando justificada pelo mesmo com um cartão de visitas que explica que não é intencional. O incremento vem dos trejeitos em caminhar, dançar e gesticular.

Coringa (2019) | Da loucura ao caos
A risada de Arthur Fleck é patológica 

Vamos destacar como a trilha sonora tem o mesmo crescimento que o personagem, por mais que abuse de tons melancólicos em suas composições ela sempre cresce, batidas começam leves e depois se tornam graves e estrondosas como se deixasse em analogia o próprio demônio sair de sua cadeia interior.

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Estranharia dizer que um diretor que trabalhava com comédias faria uma obra tão significativa, Todd Phillips demonstra uma visão autoral e sem amarras, justamente porque cria um universo paralelo, onde tem todo o controle. Sua condução através da cidade suja e esquecida e o atual momento, deixa a história crível. Uma homenagem talvez aos filmes de Martin Scorsese. O destaque está sempre em focar na face de Joaquin Phoenix e suas mudanças extremas.

Coringa (2019) | Da loucura ao caos
Momentos antes de uma das melhores cenas do filme do Coringa

Coringa é uma quebra de barreira em como construir um filme baseado em um personagem dos quadrinhos, justamente porque é um filme autoral e cheio de personalidade, a liberdade da demonstração dos olhares críveis e realistas são o bolo e a cereja inteira. Em sua experiência é inegável que não será imersiva e muitos falaram por tempos sobre ele e dele, sem esquecer sua perfeição em cada detalha, no futuro vale apostar que muitos seguirão seus caminhos de qualidade criando talvez um novo padrão.

Assista ao trailer de “Coringa” (2019)

“Coringa” estreia em 3 de outubro de 2019.

Escrito por Rafael Tanaka

Publicitário, amante de cinema, quadrinhos, filmes e séries. Sempre existe coisas para se descobrir nesse mundo da cultura pop.

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