Da mesma maneira que a idade avançada de Drácula, suas adaptações foram se moldando durante o tempo como conhecemos. Seja pelas memoráveis como “Nosferatu” (1922) , o “Vampiro da Noite” (1958) e “Drácula de Bran Stoker” (1992), todas deixaram sua visão original do ser mais temido das sombras. O que nos traz para a minessérie “Drácula” criada pela Netflix em parceria com o canal BBC que novamente apresenta outra visão do personagem.
Criada por Mark Gatiss, Steven Moffat (idealizadores de Doctor Who e Sherlock), os dois atribuem em suas devidas maneiras uma nova abordagem do personagem, tanto para o antigo quanto para o novo público, com novas ideias na mitologia construída por Drácula que apesar de boas tendem a se perder durante seu caminho.
Com três episódios de uma hora e meia cada, temos praticamente um filme em cada narrativa da história, pois todos têm um início, meio e fim. Apresentada aqui desde dos primórdios do ano de 1857, Drácula (Claes Bang) vive isolado em seu castelo sombrio na pataca Transilvânia. Decido a explorar uma jornada de sangue, o personagem termina em nossos dias atuais.
Nesse caminho percorrido, ele conhecerá novos rostos que impactaram com sua visão de trazer o caos para a humanidade. Seja a irmã Agatha (Dolly Wells), a famosa Van Helsing, o jovem advogado Jonathan Harker (John Hefferman), até mesmo versões alternativas modernas de Lucy (Lydia West) e Jack (Matthew Beard) que enfrentaram sua ira do monstro sedento por sangue, que apesar de seguir certas ideologias acaba por se perder nelas.
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Não posso negar que desde seu começo, a narrativa pode nos prender de vez seja pelo seu tom, sua ambientação ou seus personagens. A maneira que é construída nos deixa questionáveis do que esperar da solidão, crueldade e particularidades que carregam o personagem. Apesar de derrapadas, todo o conjunto da obra esbanja qualidade.
Em seu primeiro episódio temos uma introdução digna de homenagens clássicas a mitologia de Drácula, com estilo sombrio e carrego de terror em sua condução, contido em semelhanças de outros filmes do personagem que beiram a euforia e sorrisos de quem adora este universo. Tudo é executado da maneira atrativa e condizente que logo se perdemos na boa trama.
Entretanto o segundo episódio traz uma desconstrução da narrativa, pois apresenta Drácula em outro ambiente, agora longe de seu castelo, o personagem deseja participar de uma viagem em um barco onde ao que tudo indica fará presas fáceis. Justamente temos um teor de suspense e investigação que lembra muito os olhares da série Sherlock dos mesmos criadores, nada que prejudique a experiência pois apresenta momentos satisfatórios.
O ponto negativo vem com a estrutura do terceiro e último episódio, Drácula aqui é colocado em nossos dias atuais, que apesar de trazer boas ideias para um olhar inovador da criatura e sua sobrevivência, tende por danificar e descaracterizar a visão do personagem em algo caricatura e falas que beiram piadas forçadas, pois o monstro perde o símbolo de ameaça a humanidade.
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O ator Claes Bang apresenta um Drácula cavalheiro e filosófico em seu olhar mas que logo é surpreendido por lado sanguinário e amedrontador. Deixa claro que o ego inflado e a necessidade provar sua masculinidade em certos momentos. Dolly Wells é nova releitura de Van Helsing que consegue se manter pelo controlo de seus olhares e a segurança em suas falas.
Com respeito a origens, Steven Moffat e Mark Gatiss trazem uma condução original, pois se mantém no gore e no visceral, isso é notável pois em momento algum eles ocultam o sangue e a ameaça iminente que Drácula representa. Apesar de ter controle nesse padrão que definiu o personagem, o erro está na forma que desejam seguir o caminho em apresentar novas ideias, pois é perceptível como perdem o controle em conseguir um desfecho significativo.
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Cheios de bons momentos que são segurados, é claro, pela atuação de Claes Barg, “Drácula” se apresenta como uma experiência em todo conjunto até gratificante, se você ignorar o terceiro episódio. É de se notar que a minissérie poderia alcançar muito mais, porém a necessidade em ser algo diferente perseguiu tanto seus criadores que no fim acabaram por se perder em sua própria essência.
Todos os episódios da minissérie “Drácula” estão disponíveis na Netflix.