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Capitão Fantástico (2016) | Um filme leve, emocionante e com uma lição social incrível

Você se lembra qual foi a última vez que viu um filme com Viggo Mortensen tão interessante quanto a trilogia de “O Senhor dos Anéis”? Eu me lembro de ter visto Mar de Fogo (2004), mas depois dali, nunca mais tinha assistido um outro filme com o eterno Aragorn. Talvez por falta de conhecimento mesmo ou por outro motivo qualquer que eu não lembro. Isso não tem nada a ver com o desempenho do ator em seus filmes posteriores a esse.

Eis que me surge Capitão Fantástico um filme que, a priori, ou ao julgar pela capa, possa lembrar Pequena Miss Sunshine (2006), mas o que vem além dela é surpreendente. E esqueça quem fala que entra um viés de Na Natureza Selvagem (2007) – é totalmente outra pegada.

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Capitão Fantástico conta a história de uma família muito diferente do que estamos acostumados a ver. Eles moram em uma comunidade isolada, ecológica e autossustentável em Oregon, Estados Unidos. O professor Ben Cash (Vigo Mortensen) cria seus seis filhos, Bodevan (George MacKay), Kielyr (Samantha Isler), Vespyr (Annalise Basso), Rellian (Nicholas Hamilton), Zaja (Shree Crooks) e Nai (Charlie Shotwell), para que eles possam se tornar pessoas únicas e extraordinárias na vida. Essa criação não fica apenas no quesito educação e como eles vão lidar com o mundo que não para de girar do lado de fora, isso inclui também, aprender a caçar, pescar, treinamentos físicos, saber falar seis idiomas e também a ter um pensamento crítico sobre tudo na vida. É um estilo totalmente alternativo de educação e isso acaba influindo em como eles são vistos pela sociedade.

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Não existe qualquer tabu entre eles, seja para falar de sexo, seja para falar de política, de religião ou de outros assuntos que muitos acabam deixando para um período, onde você tenha mentalidade suficiente para compreender todos os dogmas da sociedade. Em Capitão Fantástico tudo sobre tabus é muito cru e mesmo que alguns filhos, principalmente os mais novos, não entendam diretamente o que aquilo significa naquele momento, eles terão as respostas desde pequeno para tudo e sobre tudo. Nem comemorar o Natal eles comemoram, Ben e sua família, ao melhor estilo Robson Crusoé, preferem comemorar o “Dia de Noam Chomsky”, um filósofo e ativista político.

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Mas todo o tom claro e alegre do começo da película, muda drasticamente quando o enredo passa a falar da esposa de Ben e da mãe dos seis filhos. Ela passou um bom tempo lutando contra a depressão, mas perdeu a guerra e acabou cometendo o suicídio. Em seu testamento, por ser Budista, seu último desejo é ser cremada. Para honrar o último desejo da mãe e da esposa, todos saem em um ônibus estrada a fora para encontrar o corpo dela e finalmente dar o destino que ela sempre desejou. Porém, seus pais vão fazer de tudo para não atender o desejo da própria filha e para colocar em prática a sementinha da dúvida na cabeça de todos eles. Será que nosso estilo de vida realmente é o correto? A partir daí, o filme embarca no melhor estilo “roadmovie” e mescla o humor, aventura e sutileza. Alternando em momentos desconcertantes e momentos constrangedores também. E, claro, o momento mais emocionante – o final.

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O filme escrito e dirigido por Matt Ross trata de forma muito inteligente a dualidade das coisas e seu relativismo. É nítido ver que principalmente a forma como você educa seus filhos entra muito na questão relativa da coisa. O que você julga indispensável pode ser totalmente dispensável pelo outro. Os valores e ideais da sociedade moderna podem ser totalmente substituídos por outros e isso só vai fazer diferença na vida daquele que escolheu seguir um caminho diferente. Pois quem segue o padrão, vai continuar sendo igual a todo mundo. E isso não está só ligado a valores e a educação, mas também aos milhares de assuntos que são tabus. Mas por qual motivos eles são tabus? Você já parou para pensar nisso? No caso da criação que Ben dá aos seus filhos, não existe diferença e nem pudor em falar de nada. Tudo bem que eles falam, em sua maioria, numa abordagem mais cientifica, ainda assim, é um uma forma de não impor barreiras em coisas que ele sabe que se depender da educação, crianças e jovens vão lidar com isso numa boa.

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O longa carrega a todo tempo essa premissa de mostrar o ponto e o contraponto de um pensamento, atitude, ideal ou de um costume, por exemplo. Mas ao mesmo tempo mostra as consequências que tudo isso pode impactar na vida deles e ao redor dela. Isso fica nítido, por exemplo, quando Bodevan (o filho mais velho) conhece uma garota em um estacionamento para Motorhomes. Ele não sabe lidar com sensações que nunca teve que treinar na vida. Ou quando eles estão na casa de sua cunhada, e Ben confronta a sabedoria de sua filha mais nova (Zaja), com a sabedoria de um dos seus sobrinhos e a menina dá um banho de sabedoria neles sem nunca ter ido ao colégio.

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Mas toda a genialidade dos seis filhos de Ben e seu estilo de vida pode ser taxado puramente como utopia quando são confrontados pelo avô Jack (Frank Langella). Ou seja, você pode ser o hippie que for, quando você mexe com alguém que tem poder e influência seus valores pouco importam.

Ross consegue a todo momento permear entre o clima descontraído, o tocante e da crítica social, sem forçar a barra, sem ser brega e sem mostrar qual lado é o correto. Esse julgamento fica para o espectador. Ao final, nós temos um filme completo tanto narrativamente falando, quanto de direção, de elenco,  fotografia, de motivações e, claro, da mensagem a ser passada. Essa é a mais importante de todas, e como ele deixou o julgamento para o espectador – essa é uma leitura totalmente minha.

Não existe o certo ou errado, não existe um padrão que você tenha que seguir obrigatoriamente. O campo das opções são vastos, o problema é que você terá que lidar com as suas escolhas, e isso vai dos seus valores, ideais, princípios – até a forma como você decidiu conviver em sociedade e fora dela. Sob o ponto de vista mostrado por Ross, o mundo é um poço de dualidade e relativismo. Cabe a você saber onde deseja ir e do que abdicar.

Capitão Fantástico estreou dia 22 de dezembro nos cinemas.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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