Bruno Fonseca Minha relação com Finding Carter aconteceu muito por acaso. Estava procurando legenda para uma série que agora eu nem me lembro mais qual era, e me deparei com o cartaz da série que trazia a atriz Kathryn Prescott muito conhecida pelo papel de “Emily Fitch” na série Skins. Pensei comigo: essa série parece ser boa. Sim, eu julguei o livro pela capa, no caso a série pela capa, e dali em diante eu passei a analisá-la episódio a episódio e acabei me encantando com a forma que a série aborda os problemas, a rebeldia, as relações e o comportamento da geração atual de adolescentes.
Finding Carter é uma série criada por Emily Silver (Bones) e Terri Minsky (Sex and the City) e exibida pela MTV americana. A série estreou no dia 8 de julho de 2014 e teve em sua primeira temporada um total de 12 episódios. A recepção do publico alvo e da audiência, em tese, foi muito favorável, tanto que chegou a bater um percentual 71% em avaliações positivas feita por profissionais no Metacritic (site muito semelhante ao Rotten Tomatoes) e teve uma nota de 6,9 votada pelos usuários do site. O drama adolescente atualmente, encontra-se na reta final da segunda temporada que contará com um total de 24 episódios.
Vamos supor que você chamou uma mulher de mãe durante sua vida inteira, certo? Ai, num belo dia, você acorda vive a vida normalmente, mais tarde vai curtir um role com os amigos, a noite acaba ficando insana, você invade um parque de diversões e acaba na delegacia por causa disso. Todos os pais de seus amigos vão ao local para resgatar seus respectivos filhos, mas sua mãe, por algum motivo não aparece. As horas passam, e você fica intrigado tentando entender por qual motivo sua mãe está demorando tanto para aparecer. O tempo passa e nenhum vestígio da sua responsável. O dia amanhece e você é levado para uma sala com alguns policiais que contam que a pessoa que você chamou de mãe até aquele momento, te sequestrou quando você era apenas um bebê indefeso. Qual seria a sua reação? No caso de Carter, ou melhor – de Linden Wilson – seu mundo desmorona, mas tudo piora quando quem vai te receber na delegacia são seus país biológicos. Duas pessoas que ela jamais viu na vida serão seus pais a partir de agora. Conseguiu pensar nessa situação toda? Pois bem, essa é o inicio da história de Carter Stevens.
Em sua primeira temporada, a série vai abordar a vida de Carter lidando com o fato de ter sido sequestrada por Lori Stevens (Milena Govich), a mulher que chamou de mãe a vida inteira, e a adaptação com a nova família além de David Wilson (Alexis Denisof) e Elizabeth Wilson (Cynthia Watros) seus pais biológicos. Tem também a surpresa com o conhecimento de que possui dois irmãos: Taylor Wilson (Anna Jacoby-Heron) e Grant Wilson (Zac Pullam) e a vida em uma nova cidade, nova escola, novas regras e muitas outras coisas que podem fazer parte da vida de uma adolescente de 17 anos. A segunda temporada tem uma pegada diferente, outra enredo, outra trama e novos acontecimentos. Para saber mais recomendo que você assista a série, a intenção deste artigo, além de falar sobre a forma com que a adolescência é retratada pela mídia, é também despertar seu interesse por ela.
Ao que parece as emissoras nacionais não tem grande interesse nesse público ou provavelmente tem um certo receio de conversar com ele. A única produção nacional que está sendo exibida no momento, e que de fato tenta abordar esta fase da vida, é a Malhação. De resto, eu não me lembro de ter outra série de produção nacional sendo exibida pela TV aberta atualmente. Mas nós já tivemos grandes produções que falou do assunto, porém se tratavam de um outro tempo, mas são elas: Confissões de Adolescente, Pedro & Bianca, Cidade dos Homens e Tudo que é Solido pode Derreter.
Enquanto a única produção nacional que tenta retratar o mundo dos adolescentes tenta se reinventar com o passar dos anos, a gringa está cada vez mais recheada de produções que chamam a atenção dessa galera ao tratar a realidade que vivem no momento, e esta fase da vida que é tão importante para um ser humano, de forma despretensiosa, interessante e, claro, sem nenhum tipo de TABÚ! É exatamente o que Finding Carter faz, e faz muito bem!
A produção americana não deixa a desejar em nenhum momento quando o assunto é a relação, comportamento e a vida dos adolescentes. Eles mostram de forma madura e sensata a relação entre pais e filhos, por exemplo, como os adolescentes lidam com álcool, drogas, sexo e futuro profissional tanto na carreira acadêmica quanto àqueles que não optam por esse caminho, sem qualquer tipo de receio. Eles demonstram na lata, não de forma nua e crua, mas de uma forma que possa ser compreendido pela maioria tudo que os jovem podem ou vão passar um dia. Isso tudo, sem manipular ou tentar mostrar uma realidade que muitos deles nem vivenciam. Em Finding Carter ninguém festeja no bar mais próximo do colégio tomando suco, enquanto fingem ser adolescentes felizes que tem uma vida super agitada e que são totalmente antenados com a tecnologia e a tudo que acontece ao redor do mundo, ao mesmo tempo que transmitem a mensagem de que nessa fase o único desafio é somente vestibular ou o peguete da escola.
Em Finding Carter a coisa é realmente diferente, no vídeo abaixo existe a cena de uma festa onde eles estão jogando uma espécie de verdade ou desafio. Confira:
Esse tipo de cena e de abordagem, é um dos muitos exemplos que a série tem em relação a alguns assuntos da qual faz parte do universo do adolescente. Tudo bem que a MTV Americana tem total liberdade para tratar desses assuntos e que a cultura americana é, em tese, um pouco diferente da nossa. Mas existe a forma certa de conversar com um público e definitivamente o que temos por aqui não gera a relação representatividade que muitos adolescentes gostariam de ter e de ver. Assim como John Green, a direção, a produção e os roteiristas de Finding Carter sabem e conseguem conversar com seu púbico da forma que eu gostaria que tivesse conversado comigo na década passada.
Além do mais, a fórmula de sucesso de Finding Carter não está apenas na abordagem dos problemas enfrentados pelo adolescente, mas também na relação com o que ele consomem tudo. A forma como ele se veste, consome música, livros, jogos de videogames também é um grande diferencial do seriado. Um exemplo bem bacana de interação e aproximação da série com o fato do adolescente ouvir música, está na forma como eles apresentam a trilha sonora da série. Cada música tocada entra um GC com o nome do artista e o nome da música, ou seja, se o espectador se interessou em saber quem era que estava cantando e quiser procurar mais trabalhos do artista ou ouvir a música novamente fica muito mais fácil e eles disponibilizam tudo no site da MTV. Isso é transmídia, algo que os americanos sabem fazer muito bem, mas que aqui ainda é novidade (mas isso é assunto para outra hora). E sinceramente, a MTV sabe mais do que nunca preparar uma trilha sonora que realmente faz a cabeça da galera de lá.
Outro ponto importante é sobre a abertura de Finding Carter. O mundo de Carter é cheio de reviravoltas, ele sempre está de cabeça para baixo e uma das coisas bacanas que fizeram com ela, foi a forma com que criaram a abertura. É uma das aberturas mais legais e bem boladas que eu já vi nos últimos anos e a música casa totalmente com o que enxergamos em tela. Confira:
Por fim, Finding Carter é uma série que se você é adolescente vai se identificar e vai se sentir representado. Eu digo que se trata de uma Malhação que nós merecíamos (tanto a minha geração quanto a sua) e com toda a certeza, eu poderia justificar com vários motivos esse ponto, mas eu prefiro que você assista e descubra por si só.
Falar com o adolescente não é fazê-lo de bobo e também não é enchê-lo de informação ou de tendências para estimular o seu consumo, mas sim mostrar de forma simples e despretensiosa as diversas situações que eles vão encontrar nesta fase da vida. Por qual motivo John Green faz tanto sucesso por aqui? Por qual motivo John Green é um fenômeno na internet, na literatura e também no cinema? Porque ele sabe conversar com seu público, ele conhece a geração que o mantém como ninguém. Isso é exatamente o que os criadores de Finding Carter e a MTV americana souberam fazer. De uma temporada com 12 episódios conseguiram emplacar uma segunda e com o dobro de episódios da primeira. Ao que tudo indica, uma terceira temporada de Finding Carter vem aí e enquanto a confirmação não chega eu sigo na torcida.
No Brasil, Finding Carter ainda não é tão conhecida como muitos gostariam e para piorar a equipe que legendava os episódios abandonou a série quando ela retornou do “hiatus” este ano. Hoje existem duas pessoas que legendam a série atualmente: a @fuckngmess e a @hey_hugme. Porém um dos maiores agregadores de legendas do país, o LegendasTV, ainda não reconheceram as duas como a equipe que legenda a série oficialmente, fazendo com que a mesma não ganhe o devido destaque que tinha outrora. Vale lembrar, que antigamente demoravam uma semana para disponibilizar a legenda da série com a “equipe oficial” e a partir do momento que elas como fãs, entendendo a demorada que levava para a legenda de um episódio ficar pronto, resolveram todo o problema legendando tudo em dois dias após o lançamento de um novo episódio que vai ao ar nos EUA às segundas-feira. Ganhar um destaque de um dos maiores sites de subtitle do país, é uma forma de reconhecer o trabalho das duas e também de manter a série viva entre os fãs brasileiros.
No Brasil, a Finding Carter pode estrear na MTV (um canal pago de TV à cabo) somente em 2016, porém não existe mais detalhes sobre a estreia e se realmente a filial brasileira vai apostar em Finding Carter. Que deveria… deveria.
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Veja também: Cidades de Papel (2015) | Um filme sobre amizade, amor e autoconhecimento
