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Desalma | A morte está longe de ser o fim

O folclore eslavo e o medo do desconhecido são as peças usadas em “Desalma”

“Desalma” é uma das novas série originais da Globoplay e traz algo de diferente à mesa. O cinema de gênero, nesse caso o terror, sempre foi ativo mesmo que ignorado pela grande mídia, mas produções televisivas de terror em território nacional sempre foram raras. Temos aqui algo diferente em mãos.

A história se passa em uma comunidade ucraniana no interior de Santa Catarina, a cidade de Brígida. Comunidade essa cheia de superstições e tradições de sua pátria de origem. Sim, é uma história que envolve a mitologia e crenças dos povos eslavos. Isso está sendo visto por algumas pessoas como um problema, já que conseguem fazer comparações com produções europeias que também se passam em cidades pequenas na Netflix. Não vou entrar em detalhes sobre o quanto é ignorante e vazio fazer essas comparações.

A série utiliza sim de vários clichês de séries parecidas, afinal o clichê vem de um lugar comum, não é mesmo? A série parece querer emular a atmosfera do leste europeu, mas não é válido o argumento de que está copiando séries da região. Se fosse assim, nenhuma outra série poderia ser produzida e nenhuma nova história com um plano de fundo igual a esse seria escrita.

Mas vamos partir para o que “Desalma” tem. Dentro de uma direção que parece saber o que quer atingir, vemos uma montagem voltada a nos fazer ficar tensos. Tudo na história parece tenso, rígido, envolto de segredos. Você pode ver até mesmo pelas atuações, que por vezes parecem robóticas, mas se colocadas numa perspectiva geral e pensar na unidade do filme, faz sentido com o que os personagens estão passando. São personagens presos em suas próprias cabeças e passados.

Desalma | A morte está longe de ser o fim

Dentro do aspecto de atuação nós temos um trabalho magistral entregue pela veterana Cássia Kis como a bruxa Haia. Os grandes monólogos da série são feitos todos por ela, assim como a maior parte da atmosfera pagã que a série tem também está envolta na personagem e na atuação calibrada de Kis. Do outro lado da história, também temos uma Cláudia Abreu completamente entregue ao papel de uma mãe que vai fazer de tudo para proteger seu filho. Anatoli, o dito filho, é interpretado pelo jovem João Pedro Azevedo que traz um que de Damien e até mesmo Danny. O garotinho faz mais que bem seu papel de criança atormentada por espíritos e que talvez também seja um tormento por si só. As cenas mais assustadoras da série envolvem ele.

É importante dizer aqui que temos dois momentos da história sendo contados: o presente em 2018 e o passado em 1988, na qual um crime horrível aconteceu e os eventos desse passado são o que movem a história do presente. Dito isso, os momentos no passado são saborosos de assistir, seja pela curiosidade de ir descobrindo aos poucos o que de fato aconteceu, seja pela história realmente interessante que é apresentada. Todo o passado tem o tom de cores diferentes para localizar o espectador em que década estamos, o que em alguns momentos pode ser expositivo demais, mas nada que incomoda quem já está envolvido com a história.

Desalma | A morte está longe de ser o fim

A história por si própria poderia ser contada de forma mais rápida. “Desalma” tem 10 episódios com alguns momentos que poderiam facilmente ser ignorados, mas acreditem, a maior parte das cenas vai se revelar alguma coisa em um futuro próximo ou te trazer mais questões. O roteiro é bem amarrado. Claro que, com a esperança de uma segunda temporada, temos algumas questões sem respostas e um final que levanta ainda mais questões, mas num geral temos uma primeira temporada bem redonda em sua proposta e mistérios.

Alegorias sobre vida e morte estão distribuídas por toda a série. Uma vida acaba realmente quando a morte chega? Se somos a morada de uma alma, para onde essa alma vai quando o corpo não pode mais carregá-la? Qual a moralidade do ser humano diante de seu egoísmo? Somos assombrados por essas questões o tempo todo, eu diria até que aqui pode ser visto o terror da série. O terror envolto no luto, na perda. Os demônios que carregamos dentro de nós mesmos com nossos desejos e temores. É de um prazer ímpar se afogar nessa história.

Desalma | A morte está longe de ser o fim

A fotografia é brilhante em alguns momentos e em conjunto com a escolha da montagem trazem os momentos mais sublimes e tensos da narrativa. A ambientação onde a floresta tem vida própria diante dos nossos olhos enquanto empurra a história é muito bem trabalhada. São cenários belíssimos de calmaria em contra partida das cenas rápidas sendo jogadas para nos causar aflição nos momentos certos. Tudo isso em trabalho conjunto com a trilha sonora, que chega a momentos te causar incomodo de tão incomoda, no bom sentido, que consegue se tornar faz dá série um suspense como poucos na TV brasileira.

“Desalma” é uma série mais de suspense do que terror em si, tendo elementos assustadores e uso de mitologia para criar monstros em nossas cabeças, mas não há realmente um terror, enquanto quem tiver medo pode ver tranquilamente e quem estiver em busca de noites sem dormir não vai encontrar o que procura aqui. Aqui temos uma história envolvente com um suspense atraente e criativo com personagens cheios de mistérios e um ar místico que ronda toda série.

“Desalma” está disponível no Globoplay.

Escrito por Charlie Grandchamp

Devoradora de cultura pop que não se importa em levar spoiler. Sonha em ser o cara da locadora. Carteira assinada na comunidade LGBTQ+. Realmente acredita que é a Garota Esquilo.

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