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Cobra Kai | Eli ‘Falcão’ Moskowitz, de oprimido a opressor

Quando o nerd que sofre bullying passa a ser o babaca que o propaga

O spin-off da franquia “Karatê Kid”, a série “Cobra Kai”, é uma das produções que mais chamaram a atenção em 2020. Com o tanto de coisa ruim acontecendo pelo mundo, a jornada de Johnny Lawrence (William Zabka) e seu eterno rival Daniel LaRusso (Ralph Macchio) é contagiante. “Cobra Kai” é aquele tipo de série que você desliga o cérebro e se diverte com uma trama simples e bem amarrada.

Esse artigo é pra quem já assistiu as duas temporadas de “Cobra Kai”, mas caso você não tenha feito isso ainda, recomendo não perder mais tempo. Assista tudinho e depois volte aqui, ok?

Eli Moskowitz (Jacob Bertrand) era um garoto tímido e que vivia sofrendo bullying por Kyle e seus amigos na primeira temporada. O motivo do bullying era por conta do lábio leporino. O garoto era quietão, fazia de tudo para não chamar atenção dos valentões e como qualquer outra vítima de bullying, ser invisível servia como escudo. Antes de se tornar Falcão e ser um dos mais porra louca de “Cobra Kai”, Eli tinha Demetri (Gianni Decenzo) como seu único e melhor amigo. Eles eram unha e carne, cresceram juntos e passavam a maior parte do tempo.

Até Miguel Diaz (Xolo Maridueña) aparecer em sua vida e o defender das ações dos valentões, Eli era um garoto doce e um ótimo amigo. Mas tudo muda quando ele, cansado de sofrer, entra para o dojô de Johnny Lawrence, aprende os lemas de “Cobra Kai” como bater primeiro, bater com força e sem piedade, além de deixar de ser “mulherzinha” e não ser mais um bundão, troca de nome e passa a ser chamado de Falcão.

Tudo que ele aprende no dojô é aplicado na vida e vai totalmente contra ao que ele sofria, o personagem passa a transformar a vida do próprio amigo em um inferno. Não apenas praticando bullying contra ele, mas fazendo o mesmo com outros alunos da escola onde estuda. A série deixa claro que os ensinamentos de Johnny Lawrence são ultrapassados e que existe um limite pra tudo, principalmente quando o assunto é não ter piedade.

Cobra Kai | Eli ‘Falcão’ Moskowitz, de oprimido a opressor

Mas o tanto que Eli sofreu durante a adolescência, faz com que ele esqueça totalmente dessa fase da vida e retira a palavra compaixão do seu vocabulário. O caminho é bem comum se pararmos para refletir sobre a jornada dele em “Cobra Kai” e espelhar em nerds que sofreram tanto no passado e hoje agem até pior que seus antigos “inimigos”. E não falo apenas de nerds, isso serve pra qualquer pessoa que um dia foi oprimida e hoje é o opressor.

Dos anos 80 até 2010, mais ou menos, ser nerd não significava ser cool. Por aqui, a pessoa que era centrada nos estudos, que gostava de videogames, filmes de ficção cientifica, computador etc., era chamado de CDF. Depois que o nerd deixou de ser uma minoria e passou a ganhar status, o comportamento também mudou. Agora é legal ser nerd, também é legal sair gritando pra todo mundo que é nerd, mas os valores mudaram e essa galera passou a ser mais tóxica que andar nos arredores de Chernobyl.

Daniel LaRusso em “Karate Kid – A Hora da Verdade” (1984) era uma espécie de nerd no primeiro “Karate Kid”, veja só o que ele se tornou em “Cobra Kai”. É muito fácil perder um pouco do brilho que tínhamos da jornada de LaRusso nos filmes e passar a encará-la com outros olhos após conhecer a vida de Lawrence. Mas isso é um papo pra outro texto.

Cobra Kai | Eli ‘Falcão’ Moskowitz, de oprimido a opressor

Fato é que pessoas como o Falcão estão espalhadas pelo mundo e vivem nas redes sociais propagando um ódio que ele mesmo já sentiu, mas acha que a melhor defesa é o ataque. Então, para se proteger, ele vive nessa de atacar, atacar e atacar. Sem compaixão, sem empatia, sem leitura de contexto. Da aparência física a orientação sexual, nada escapa aos olhos do opressor.

Portanto, é importante compreender a trajetória do Falcão e saber que seu tipo de comportamento atual é tóxico e não deve ser reproduzido. Umas das principais lições de “Cobra Kai” é que quem apanha nunca esquece, Johnny Lawrence sabe bem disso.

Cobra Kai | Eli ‘Falcão’ Moskowitz, de oprimido a opressor

Ações de bullying causadas por pessoas como o Falcão pode deixar sequelas pra sempre. Mas e as sequelas que deixaram em Falcão? Bom, ele poderia usar qualquer filosofia de vida para combate-las.

Se identificar com o comportamento do Falcão é atestar que ser como um valentão é o que o mundo precisa.

As duas primeiras temporadas de “Cobra Kai” estão disponíveis na Netflix.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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