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A Travessia (2015) | Tensão, vertigem e um pouco de ousadia

Alguns meses atrás eu estava comentando sobre a temporada de filmes com premissas parecidas. Vivemos a temporada dos filmes de espionagem e agora estamos na temporada dos filmes de superação de limites e sobrevivência. Tivemos, no final do mês, Everest , no início de outubro Perdido em Marte e agora temos A Travessia.

Nesses filmes de sobrevivência/superação de limites, a pergunta que eu sempre faço é: por qual motivo o ser humano tem que se lançar ao desconhecido para superar algo que ele julga ser exacerbadamente maior que ele? Qual é o resultado de conquistar os sete cumes do Himalaia, de se lançar ao espaço numa missão que vai durar uma eternidade para pisar em outro planeta ou atravessar o vão entre as saudosas Torres Gêmeas, traz para aqueles que se sujeitam a tal? O que leva-as a colocar a própria vida em risco em troca de conquistas quê, aos olhos de muitos, são efêmeras?

A Travessia (2015) | Tensão, vertigem e um pouco de ousadiaTodos esses questionamentos são respondidos logo de cara pelo francês Philippe Petit, interpretado por Joseph Gordon-Levitt  (500 Dias Com Ela). Ele explica muito bem quais motivações o levaram a cometer um feito que ficou marcado na história do século passado. A Travessia conta a história deste francês, um homem muito audacioso.

Philippe Peti é um artista de rua do tipo completo, que sabe encantar o público se equilibrando, fazendo malabarismos ou às vezes não usando palavra alguma. Sua paixão pela arte começou ainda na infância, quando viu pela primeira vez um circo e ficou fascinado pelos equilibristas que se apresentavam no picadeiro. Daí em diante, Philippe sabia que certa parte do seu destino estava traçada. Ele seria o maior equilibrista que o mundo já viu, e para chegar nesse status, começou a treinar desde cedo.

Como de costume, e um tanto clichê, a atitude de pais que tem filhos artistas em casa não é das mais agradáveis. Quando chega uma certa idade e o filho não escolhe o caminho tradicional dos homens que tem profissões que, segundo eles, movimentam a economia e darão um futuro para sua família, são chutados para fora de casa. Com Philippe não foi diferente. O artista foi expulso da casa de seus pais, que ficava numa cidade interiorana da França, e foi para a capital de seu país, onde ganharia a vida como artista e receberia o chamado para iniciar os 12 passos de Joseph Campbell – ou a velha conhecida Jornada do Herói.

Por qual motivo eu falo tanto da Jornada do Herói? Simples: “A Travessia” é uma jornada do herói de forma pura e clássica. Tanto é que já existe um outro filme que conta a mesma história do homem que atravessou o World Trade Center no ano de 1974. Este filme se chama “Man on Wire (2008)” e foi dirigido por James Marsh, que ganhou o prêmio BAFTA de 2008 e o Oscar de 2009, ambos na categoria documentário. Em 2014, na ocasião, em uma aula de perfil literário na faculdade de jornalismo que eu cursava, uma professora deu uma aula inteira sobre a Jornada do Herói baseada no filme de James Marsh. Pois bem, na versão dirigida por Robert Zemeckis não foi  diferente.

A Travessia (2015) | Tensão, vertigem e um pouco de ousadia

Filmes que contam um determinado fato histórico como “Última Parada 174 (2008)” de Bruno Barreto, por exemplo, tendem a ser baseados em flashbacks narrados, muitas vezes, pelo próprio protagonista ou, em certos casos, pelo viés de um terceiro. No caso de A Travessia, a história é contada pelo viés de Philippe Peti e de formar circular (presente, passado e futuro). Zemeckis permeia o longa neste ritmo e assim nós somos apresentados à versão romanceada de um feito real que aconteceu na década de 70, e que fez os nortes americanos e o mundo todo baterem palmas para um desconhecido equilibrista.

Seu trabalho neste filme está legal, Zemeckis sabe contar boas histórias – vide “Forrest Gump (1994)”, “De Volta Para o Futuro (1989)”, “O Náufrago (2000)”, “Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988)” e tantos outros. É a dose certa entre a tensão e o que conduz a trama que deixa você ligado na história.

Os efeitos especiais são maravilhosos, principalmente pelo fato de reconstruírem de forma perfeita, as Torres Gêmeas em CGI e, principalmente, as cenas em que Joseph Gordon-Levitt está sobre a corda bamba. Os efeitos em 3D foram a sensação do filme, chegaram a causar vertigem em alguns espectadores, que relataram até ocorrência de vômito em algumas salas de cinemas norte americanas. Se você tem medo de altura, sentirá uma tensão muito maior, pode ter certeza.

A fotografia tem uma paleta de cores cinzas, tanto em Paris quanto em todas as cenas rodadas em Nova Iorque. Este é o tom predominante do longa.

A Travessia (2015) | Tensão, vertigem e um pouco de ousadia

A atuação de Joseph Gordon-Levitt está perfeita e o que particularmente me surpreendeu foi ver o ator falando o idioma local em quase todo o filme. Eu sei que isso não é (ou não deveria ser) motivo para surpresa, pois se trata da história de um homem que nasceu na França, logo, ele tinha que falar francês. Mas assisti recentemente “Os 33”, filme que conta a história dos chilenos que ficaram presos em uma mina que explorava minérios no Chile, e todo mundo falava inglês naquele filme, ou seja, o idioma é um ponto que merece ser destacado.

Gordon-Levitt transmite a essência de um artista, de um cara que veio praticamente do circo em seus trejeitos e também na forma como deu vida a Philippe Petit. A única parte que me incomodou foi a lente azul em seus olhos, que ficou artificial. Tudo bem que o acessório foi utilizado para aumentar a fidelidade das aparências entre o ator e o verdadeiro Philippe Petit, mas ficou muito estranho em Joseph.

A Travessia (2015) | Tensão, vertigem e um pouco de ousadia

A atuação da coadjuvante Charlotte Le Bom no papel de Annie, também foi muito boa. A atriz, que nasceu em Montreal, Quebéc, no Canadá, a parte francesa de lá, foi extremamente importante no apoio e na conquista do grande sonho de Philippe.

A Travessia (2015) | Tensão, vertigem e um pouco de ousadia

O elenco de apoio, chamado carinhosamente de “Os cúmplices”, é formado pelos franceses Clément Sibony que interpretou o fotógrafo Jean-Louis e César Domboy que fez o entusiasta da matemática Jean-François. Eles cumprem com as suas funções tranquilamente, mas o destaque nesse setor, além, claro, de Charllotte, vai para Ben Kingsley – o Papa Rudy, mentor de Philippe. É aquela típica situação de produção de filme que chama um ator com uma vasta experiência no ramo para dar uma levantada no elenco e também na produção de uma forma geral. Esse tipo de ator dá força à trama e faz tudo fluir melhor.

A Travessia é um filme fascinante, quem assina o roteiro também é Robert Zemeckis e, além de uma jornada um tanto ousada que pode causar vertigens, as duas horas e alguns minutos que o filme tem trazem uma bela homenagem ao que foi o maior monumento que os Estados Unidos da América já possuiu. O único problema de filmes como este é ter que encontrar subtramas interessantes para se contar enquanto o auge do filme não á atingido.

A Travessia (2015) | Tensão, vertigem e um pouco de ousadia
Imagem real de Philippe Petit em uma das torres do WTC em 7 de agosto de 1974.

Zemeckis consegue prender  o espectador entre o primeiro e o segundo ato, e é bem-sucedido em entregar um desfecho maravilhoso.


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Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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