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HQ do Dia | The Multiversity: Pax Americana #1

Antes de começar a ler a resenha um aviso: Se você não curte as “viagens” de Grant Morrison e acha a maioria das coisas que o roteirista escreve extremamente confusas/pedantes/superestimadas fuja de Pax Americana. Nesta edição de The Multiversisty o autor entra em modo “Full Morrison”. Então não precisa nem ler o resto do artigo se você não tem paciência para seus conceitos e formatos. Falando sério. Dito isto podemos começa a dissecar a obra.

Antes de mais nada sejam bem vindos a Terra 4 do novo Multiverso DC. Um mundo muito parecido com o nosso, no qual os super heróis são usados em um programa governamental de paz mundial pela administração dos Estados Unidos. A trama nesta edição gira em torno do assassinato do presidente Harley, um dos mais populares governantes do país em anos e o responsável pela implementação da força tarefa super-heroica chamada Pax Americana.

A loucura desta edição começa em seu formato. A história é contada em uma ordem cronológica aparentemente regressiva, no entanto logo percebe-se que as cenasHQ do Dia | The Multiversity: Pax Americana #1 são ordenadas de forma embaralhada e randômica, indo e voltando através do tempo para mostrar os acontecimentos mais relevantes na história da equipe. Ao final da leitura temos um ciclo que se fecha em oposição ao formato tradicional linear de arcos narrativos de quadrinhos. A forma como as cenas são escritas e ordenadas pelo autor fazem com que esta HQ possa ser lida em qualquer ordem que o leitor escolher e em loop sem nunca ter um início ou um fim definido. Pegue uma cena que começa na página 21 por exemplo, leia e retorne ao início da HQ. A cena fará o mesmo sentido para o contexto geral lida assim ou na ordem em que foi colocada no título. Este formato de roteiro desafia o leitor a ler Pax Americana da maneira que achar mais conveniente e isso quebra o paradigma supremo da arte sequencial chamada quadrinhos, que é sua sequência. O final explica os acontecimentos misteriosos, no entanto inevitavelmente você terá de voltar em algumas páginas para entender a relação entre as cenas que parecem não ter muito sentido a princípio. Isto pode ser frustrante para alguns leitores mais acostumados com o formato clássico de HQ.

Os personagens e acontecimentos na Terra 4 são claríssimas referências a uma das obras quintessenciais da nossa mídia. Não cabe a esta resenha estragar a surpresa do leitor ao se deparar com cenas e personagens clássicos que são homenageados e/ou corrompidos pela imaginação do autor. No entanto vale ressaltar o uso de uma das HQs mais importantes da história da humanidade para contar esta história.

Os diálogos em Pax Americana, assim como todo o roteiro parte de um pressuposto de que o leitor já sabe quem é quem e o autor não perde tempo algum com explicações e apresentações. Da série The MultiversityPax Americana é a revista menos amistosa com seu público. Tudo aqui é intencionalmente jogado na sua cara sem explicação e isso força uma releitura para total compreensão de todo o contexto. Isso pode ser visto como um ponto negativo ou como um incentivo a um aprofundamento do público em suas 38 páginas.

Vamos falar de Frank Quitely então. Esta edição nos coloca a relembrar uma das colaborações mais frutíferas entre roteiro e arte dos últimos anos. Quitely continua o mesmo de Novos X-MenGrandes Astros Superman Flex Mentallo. A diagramação do artista nesta edição tem inovações sutis e geniais como a cena de diálogo nas escadas ou o lamento no cemitério que deixam sua marca na mente do leitor e enriquecem demais a loucura do roteiro. O número 8 é um mantra recorrente em quase que todas as páginas da HQ e é ponto central da trama desde seu início. O uso dos quadros para evidenciar o número é feito de maneira brilhante pelo artista. A caracterização desde rostos, cenários (pequenos ou grandes) e vestimentas é perfeita. Quitely alterna sem esforço entre doçura e brutalidade no decorrer da história. A arte choca e emociona a todo o momento. Os ecos fotográficos da obra original homenageada por Morrison em Pax Americana são de extremo bom gosto e em momento algum parecem caricatos ou satíricos. Quitely é perfeito nesta edição.

Pax Americana é uma leitura complicada. Não dá para comparar isso aqui com um Homem-Aranha ou um Batman por exemplo. A HQ é desafiadora e impiedosa com novos e antigos leitores, não muito pelas referências (que são bem claras), mas sim pelo formato e apresentação da história. O sujeito pode nunca ter lido nada da DC e vai ter a mesma dificuldade para “entrar”na história que um leitor de HQ mais experiente. No entanto, após a imersão (que acaba sendo inevitável pela qualidade deste roteiro) a leitura é uma das mais envolventes que o roteirista pôde conceber em The Multiversity. A quebra de formato é estranha e genial como se espera deste autor, as referências e a metalinguagem está lá te fazendo sorrir a todo o momento e a arte é de um bom gosto que raramente se vê no mercado. Pax Americana não é uma leitura para todo mundo, no entanto o mundo precisa de mais coisas como Pax Americana. Se você quiser ter sua mente estuprada completamente, seja bem vindo a Terra 4.

Leia as resenhas individuais de cada uma das partes de “The Multiversity”:

– The Multiversity #1
– The Multiversity: Society of Super-Heroes
– The Multiveristy: The Just
– The Multiversity: Thunderworld Adventures
– The Multiversity Guidebook
– The Multiversity: Mastermen
– The Multiversity: Ultra Comis
– The Multiversity #2

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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