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Festa no Céu (2014) | Uma homenagem à cultura mexicana

Eu sempre assisti animações com o olhar de uma criança, mesmo quando atingi a maioridade. Teve um tempo que só o que encabeçava a minha lista de filmes era algum título deste gênero. Cheguei até a frequentar festivais de animações, como um dos mais conhecidos no Brasil, o Anima Mundi. Festa no céu foi um filme que me cativou, não só por ser fã de animação, mas por trazer algo diferente do que estamos acostumados a ver todos os anos. Na verdade, o duopólio entre Disney e Dreamworks saiu de cena e o que apareceu foi uma daquelas obras que ganham destaque por serem distintas e, obviamente, únicas. É o caso de Estranho Mundo de Jack, Coraline, Persépolis, Ponyo e Festa no Céu.

O filme da FOX  é dirigido por Jorge R. Gutierrez e o roteiro ficou por conta dele e Douglas Langdale. A produção é de Guillermo Del Toro (Pacific Rim, O Labirinto do Fauno), acredito que por conta dele e dos demais, Festa no Céu seja uma homenagem à cultura mexicana.

Faltava na lista de trabalhos de Guillermo Del Toro, algo que pudesse representar a grandiosidade cultural de seu país. O crescente interesse das pessoas pela cultura mexicana não é de hoje, e envolve gastronomia, “lucha libre”, música e as famosas caveiras mexicanas. Tudo isso está espalhado aos montes pelo mundo. Acredito que Guillermo queria, finalmente, mostrar a beleza de alguma dessas coisas para o público.

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Festa no Céu começa quando um grupo de crianças bagunceiras é encaminhado a uma visita guiada ao museu, como “punição” pelo mau comportamento. Lá, uma guia um tanto quanto diferente, resolve percorrer um caminho alternativo e os apresenta ao “Livro da Vida“, que contém todas as histórias. A mais simbólica delas, baseada nas tradições mexicanas, envolve três mundos. Catrina/La Muerte é uma adorada deusa ancestral, que governa a Terra dos Lembrados. Ela é ex-mulher de Xibalba, o governante da Terra dos Esquecidos, um trapaceiro. Em uma visita à Terra dos Vivos, eles fazem uma aposta: se a jovem e bela Maria, filha da maior autoridade da cidade de San Angel, escolher se casar com o emotivo violinista Manolo, Catrina ganha, e Xibalba não poderá mais interferir no Mundo dos Vivos, como gosta de fazer; se o preferido for o valente Joaquim, Xibalba passa a governar, também, o Mundo dos Lembrados.

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A animação faz uma releitura bastante interessante do clássico “Shakespeareano” Romeu & Julieta e não segue o que estamos acostumados a ver, a não ser pelas cenas em que mostra as crianças no museu. De resto, é um filme em que os personagens parecem bonecos talhados em madeira colorida e extremamente alegre. Afinal, falar de morte e trazer caveiras para as telas de um cinema não é algo muito fácil de se fazer, quando a intenção não é passar uma mensagem de dor, desamparo, tristeza ou alguma sensação macabra.

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Festa no céu, apesar de falar do Dia dos Mortos, mostra em cada cena, a vida sendo celebrada de uma forma totalmente diferente. Não só a vida, mas a questão de continuar existindo, mesmo que seja em uma vaga lembrança. O colorido traz essa notoriedade à animação e faz com que o assunto “morte”, que sempre é carregado de coisas ruins, seja algo confortável de se assimilar.

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Isso é uma coisa bacana que tem sido feita em outras animações, mesmo que tragam elementos perturbadores, como em O Estranho Mundo de Jack e Coraline.

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Além do colorido, os detalhes são impressionantes, não só dos personagens, mas de cada mundo visitado por Manolo e sua família. As caveiras mexicanas então, nem se fala. Se você se atrai por elas, vai amar esta animação. Algo que eu gostei bastante foi a leve crítica às touradas, em relação à necessidade de matar o touro. Tudo bem que muitos ativistas e pessoas ligadas a proteção dos animais criticam muito mais que isso ou até mesmo a existência dela, mas algo que existe desde o século XII, infelizmente, é meio difícil de se extinguir de uma vez por todas. Por isso, achei interessante a coragem de ao menos mostrar que isso pode acabar e, talvez, o que foi criticado seja o primeiro passo para isso acontecer.

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O que eu ainda acho ruim, se tratando de animações, é a questão do apelo à criança. Ultimante se tem feito cada vez menos animações para crianças assistirem, e sim, roteiros, piadas e enredo para os adultos. Claramente isso vai acontecer, pela maioria dos filmes deste gênero serem feitos para elas, mas não achei que foi o caso de Festa no Céu, talvez exceto pelas crianças no início do filme. Tirando esse pequeno começo, todo o resto agrada mais o adulto do que a criança, e isso não acontece apenas neste filme, mas em todos os outros que se assemelham a ele.

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Outro ponto a ser considerado é a questão da dublagem brasileira, não é o meu caso, mas é algo que eu ouvi de muitas pessoas quando questionei sobre o que tinham achado do filme, e a unanimidade fica por conta da voz utilizada para dublar “Joaquim“, feita pelo Thiago Lacerda. Cheguei até escutar algo do tipo: “Espero que a Fox nunca mais chame o Thiago Lacerda para dublar um filme de novo“. Contudo, sinceramente, eu não vi problema nisso, apenas achei algo essencial a ser citado aqui, pois a sua opinião nem sempre será igual à minha.

 No mais, Festa no Céu é uma ótima animação e se você gosta, tem curiosidade ou algum tipo de interesse sobre a cultura mexicana, vai amar esse filme. Não só vale o ingresso, mas vale cada momento que é festejado no dia dos mortos.


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Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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