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Quarteto Fantástico (2015) | Um barco largado à deriva

O grande dia chegou. Finalmente o famigerado reboot do Quarteto Fantástico estreou, olha… Até rimou! Um novo filme, uma nova roupagem, a equipe clássica de super-heróis da Marvel ganharia mais um longa em seu currículo.

A expectativa para este filme estava positiva, diante dos rumores, dos fatos, dos problemas e de tudo que cercou a produção. Tudo que eu esperava era um filme mediano, sem grandes ações ou efeitos especiais mirabolantes, aguardava algo enxuto e bem mais simples que os filmes da Casa das Ideias costumam apresentar. Mas no geral esperava algo bom, principalmente depois de assistir os trailers.

No roteiro, assinado por Josh Trank, Simon Kimberg e Jeremy Slater, o jovem Reed Richards (Miles Teller) sai do subúrbio e vai parar na megalópole de Nova York, graças a tudo que conseguiu fazer dentro da garagem da sua casa com a ajuda de seu amigo Ben Grimm (Jamie Bell). Numa feira de ciências eles conhecem o Dr. Storm (Reg E. Cathey) e sua filha, Sue Storm (Kate Mara) e tudo passa a acontecer como Reed sempre sonhara. Estava em suas mãos a oportunidade do mundo parar de zombar da sua cara e reconhecer os avanços que ele trouxe para a comunidade científica. No Instituto Baxter, Reed conhece seus novos companheiros de trabalho: Sue Storm, Johnny Storm (Michael B. Jordan) e Victor von Doom (Toby Kebbell). Juntos eles vão trabalhar para desvendar os segredos do tecido do espaço e estabelecer uma portal para outra dimensão, onde possam ir e voltar em segurança. E assim, juntos, eles iniciam a jornada que vai levá-los ao desconhecido.

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Em sua primeira hora, o Quarteto Fantástico segue o universo Ultimate dos quadrinhos. A história do longa é contada do ponto de vista de Reed Richards, desde sua infância até o dia em que ele pisa no edifício Baxter e passa a integrar a equipe de jovens cientistas do Dr. Storm. Reed ajuda a sua equipe a encontrar a porta para a dimensão que culmina em um lugar chamado de “Planeta Zero” e lá, acontece o esperado – a obtenção dos super poderes por conta de uma reação em cadeia no novo planeta. Até aí tudo bem! A justificativa para o Ben Grimm ser o Coisa e Johnny Storm se tornar o Tocha Humana foi bem elaborada e fez muito sentido. A reação de estranheza aos super poderes entre eles e a culpa que Reed carrega por ter causado tudo isso aos seus amigos segue dentro do esperado.

Depois disso, o Quarteto Fantástico segue ladeira abaixo. Assim como eu disse na resenha de Pixels, repito aqui. Parece que o diretor Josh Trank abandonou a embarcação e o longa ficou à deriva. Tudo bem que ele não é o único responsável por isso e tudo bem também que o filme teve um orçamento de 120 milhões de dólares (o mais baixo para um filme da Marvel, sendo mais baixo que “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado” lançado em 2007), entretanto, ele foi o cara de “Poder Sem Limites”, ou seja, era esperado um empenho maior.

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Victor von Doom deveria ser um dos pontos altos deste longa, afinal, ele é o vilão da Latvéria, o grande Dr. Destino, o cara que causou na vida de muita gente do Universo 616. Mas no reboot do Quarteto Fantástico, ele não é o mesmo Destino que eu e você conhecemos. Mesmo que sua origem seja de outro universo (Ultimate), ele não tem motivação para ser tão mau quanto aparenta. Seus poderes se confundem bastante com os de outro vilão – aquele que comandou um império de dentro de uma estrela – ele não tem motivação nem para acabar com a vida daqueles que estavam com o mesmo objetivo que ele. Sem falar em sua caracterização…

Sue Storm é uma moça sem palavras, sem sal, que mal abre a boca para criar diálogos que possam gerar um envolvimento, uma química ou uma ligação com Reed e/ou Victor. Ela é muito na dela, seus super poderes tem uma origem estranha (o choque causado pela máquina de transporte entre as dimensões). Sua evolução está mal contada e você não entende como ela se torna tão forte de uma hora para outra.

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Reed Richards até que convence em boa parte do filme. O ator que tem ganhado um grande destaque desde 2014, se esforça para não parecer insosso, se esforça ainda mais para ser um grande Reed Richards, mas não emplaca. Eu friso nessa coisa de motivação e parece que faltou muito disso para todos eles. Motivações reais para as suas ações e não algo simplesmente jogado na sua cara como aconteceu.

Tocha Humana era um cara que poderia carregar o filme nas costas, poderia ser o quebra gelo, o cara das piadinhas, seu temperamento e rebeldia fariam uma grande diferença em tudo. Mas sua chama estava apagada. Ele me pareceu calmo demais para viver um Johnny Storm. Não vi problema nenhum com a troca de etnia, mas vi problema com a essência do personagem.

O grande ato ficou para o Coisa, que é o ponto positivo desse filme. Ben Grimm está ótimo, Jamie Bell como criança e na fase adulta casou legal. Você nem liga para o fato dele não usar uma bermuda. Os efeitos especiais na caracterização do personagem foram surpreendentes, mas também pecaram na essência. Ben aceita sua condição muito fácil e carrega uma apatia muito estranha.

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Enfim, o Quarteto Fantástico poderia ser um grande filme, aliás, tinha tudo para seguir essa linha, porém não se sustentou. Faltou carisma por parte do elenco, faltou um aprofundamento no roteiro, não existe alívio cômico – não que isso seja uma receita de sucesso por causa das coisas que estamos acostumados a ver nas produções da Marvel Studios, mas é necessário dar uma quebrada no ritmo em determinado momento do filme, e quando tentam fazer isso não funciona. O Quarteto Fantástico segue uma linha mais racional, mais realista, uma ficção científica que em dado momento tenta trazer incrementos de outros gêneros como suspense e o terror, sem conseguir conversar verdadeiramente com seu público-alvo e salvo o fato pedante dos clichês. Tudo ficou pior e estranho  com o desfecho apresentado. Um final que não surpreende e não empolga ninguém.

Quarteto Fantástico estreia dia 06 de agosto de 2015.


Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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