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O Crítico (2013) | Uma crítica ao cinema e aos pseudo-cinéfilos

Um filme de Hernán Guerschuny.

“O Crítico” é uma comédia argentina – meio que romântica – que critica o cinema, as comédias românticas, os críticos e a vida real. Mas como assim? Eu sei que isso parece um pouco confuso, mas o resultado é uma dose certa de humor, inteligência, cinema e sarcasmo.

Se você não suporta mais “críticos” de cinema –  ou pseudo cinéfilos – que se acham o gás da coca, esse é o filme perfeito para rir da sua indignação.

Sabe aquele “cinéfilo” chato, prepotente, que acha que tudo que ele sabe sobre cinema, é melhor do que tudo que você sabe? Que se o filme é blockbuster, ele com certeza não irá gostar, mesmo sem assisti-lo? Pois bem, “O Crítico” é basicamente sobre isso – e mais um pouco – do excesso de filmes ruins lançados atualmente até o saudosismo pelos clássicos do passado, o filme se desmonta e monta seus personagens interessantes.

Crítica aos críticos, ao romance água com açúcar, e principalmente um roteiro sobre a vida real. Embora o filme seja feito a partir de fragmentos que mostram que o cinema está praticamente agonizando – e está mesmo – é impossível não se surpreender com o desenrolar dessa trama que aborda o cinema.

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A profissão de crítico de cinema pode ser um tanto que solitária, Víctor Tellez – personagem que ganha vida com a bela atuação de Rafael Spregelburd – ilustra isso. A rotina dele é bem agitada com a presença em cabines de cinema – exibições prévias de filmes para a imprensa sem a inclusão do público – mas falta um pouco do tato do mesmo para com a realidade.

A profissão de crítico, o leva para um mundo cheio de pseudo-cinéfilos, aqueles que sempre sabem mais do que os outros, porque viram aquele filme iraniano e não o mais aclamado do cinema. Sabe como é? E ai dele se gostar de um filme que nenhum dos amigos intelectuais gostam, pode apostar que será tão criticado quanto os filmes. Insensível. Ranzinza. Cineasta frustrado. Pessimista. Arrogante. Prepotente que odeia filme popular. Todos os estereótipos são utilizados na figura desse crítico de cinema, e dos “amigos” que o rodeiam.

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Deixo claro que: nem todo crítico de cinema é parecido com Victor Tellez, por mais que algumas características se encaixem com muitos cinéfilos, ou melhor, pseudo cinéfilos. A critica não é sobre os críticos, e sim sobre a morte do cinema e da crítica imparcial.

O diretor Hernán Guerschuny é um dos críticos que provam que nem só de críticos prepotentes vive a sétima arte. Editor de uma revista cultural na Argentina – onde também publica críticas – Hernán conhece bem o meio abordado em seu filme de estreia e, justamente por isso, resolveu exagerá-lo ao máximo para, mais do que falar sobre a função do crítico, tratar dos vários clichês que envolvem o cinema e os cinéfilos. E é justamente essa abordagem – meio que descomprometida – que torna o roteiro do longa-metragem tão interessante.

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Victor não é uma pessoa fácil de se lidar, sempre de mal com a vida, o crítico tem problemas em se relacionar. O que explica o moto dele ter acabado de desfazer um relacionamento com uma mulher que está o usando para escrever sua tese. Sendo pressionado por seu editor para ser menos “chato” com os filmes que crítica, pois sua opinião – quase sempre negativa – é o motivo de muitas cadeiras estarem vazias no cinema.

Ele não consegue se desligar do jeito crítico nunca. Ele não consegue nem encontrar um novo apartamento para viver, nada é bom o bastante para ele. Somente a sua sobrinha Ágatha (Telma Crisanti) consegue lidar com ele e com seu jeitão duro de ser. Ágatha é um doce, apaixonada por romances – que o tio não suporta – ela sempre vê a vida como se fosse um filme, sempre o faz rir, mesmo que seja uma tarefa árdua.

Até o momento, a trama parece caminhar para a vida de um lobo solitário, cinéfilo odiador de Hollywood e dos romances. Momento esse que você é surpreendido com a beleza e inteligência peculiar de Sofía (Dolores Fonzi), com quem Victor inicia uma disputa para obter um apartamento que finalmente gostou.

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O odiador das comédias românticas, sente que está sendo inserido no gênero ao se aproximar da excêntrica Sofía, uma mulher capaz de virar sua vida de pernas pro ar, sem perder o charme. Como você bem deve saber, comédias românticas são feitas de mocinhos e mocinhas. Em geral tímidos, bem educados e românticos. O que torna esse filme mais interessante ainda, tendo em vista que Victor é um baita pé no saco, e Sofía uma mulher problemática e cheia de assuntos pendentes.

Quando todos os chavões do gênero – comentados com desprezo em suas críticas cinematográficas – começam a moldar a própria vida, o crítico parece se desesperar, e se perder no próprio roteiro. Os melhores momentos da própria história, são aqueles em que Victor se deixa levar por acontecimentos que não suporta ver nos filmes, tais como: ver Sofía caminhando ao seu encontro em câmera lenta.

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Com o esforço em contestar as fórmulas manjadas do cinema, e a prepotência de alguns críticos que se esquecem da própria vida, da opinião alheia, e acham tudo uma droga. O diretor e roteirista estreante Hernán Guerschuny, dá um banho de bom humor em seu filme – que mesmo com alguns momentos cansativos – torna-se um prato cheio.

“O Crítico” consegue ser irresistível e compreende a importância da inversão de papéis – como fuga de uma realidade chata, para os encantos da sétima arte. Uma crítica aos críticos, que se dedicam a causar boas e más impressões de um filme através da escrita, muitas vezes sem imparcialidade.

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Tendo em vista que, nós, seres humanos, temos a péssima mania de dramatizar e romantizar tudo, como se nossos dias fossem uma espécie de roteiro. O crítico se torna uma crítica até para isso. Eu sei e você sabe. Comparamos nossos dias, nossos dramas, nossas vidas com a vida dos personagens que nos encantam. O que é lindo, ao mesmo tempo que é só uma distração da realidade: a vida real não é um filme. Eu bem que gostaria que fosse – assim como muitos admiradores da sétima arte, ou cinéfilos – como queira chamar.

“O Crítico” é uma análise da vida, do cinema e do cinéfilo atual, e não merece menos do que uma boa crítica sobre esse observar. Existem camadas de personalidade dentro da trama – que ganham vida – assim como um personagem em um roteiro. O filme une elementos e monta uma desconstrução da comédia romântica, dentro de uma comédia romântica. Uma crítica sublime sobre a prepotência de quem acha que sabe sempre mais, do que tem mil e uma maneiras de se observar: a vida e o cinema.


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Escrito por Juliane Rodrigues (Exuliane)

Serial killer não praticante, produtora audiovisual de formação e redatora por vocação. Falo sério mas tô brincando no twitter @exuliane

manda nudes: [email protected]

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