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Bumblebee (2018) | Quando Travis Knight salvou Michael Bay

Apesar da franquia Transformers ser bilionária e ter rendido inúmeras sequências e ramificações, é um fato dizer que a série em questão não agradou grande parte do público e da crítica – e isso possui uma explicação: megalomania. Tendo ficado às mãos do diretor Michael Bay desde 2007, ano de chegada dos gigantescos robôs-soldados ao cinema, os filmes transformaram-se, talvez com exceção do primeiro, em uma convulsão cinematográfica de batidas de carro, tiros e explosões para todos os lados, afastando-se brutalmente de algo que se assemelhasse a uma narrativa competente e mergulhando na mesmice conforme nos aproximávamos da “aguardada” conclusão. Tal qual foi nossa surpresa quando a Paramount anunciou um spin-off para a franquia focando em um dos Autobots mais adorados pelos fãs: Bumblebee.

A notícia inesperada causou tumulto e dividiu todos que já haviam acompanhado a saga fracassada de Bay nos cinemas. Porém, as coisas seriam bem diferentes, uma vez que Travis Knight ficaria a encargo da direção, supervisionado não apenas pelo insano cineasta, mas também pelo conhecido nome de Steven Spielberg, cuja perspectiva para blockbusters é, sem sombra de dúvida, uma das mais coesas do cinema contemporâneo. O resultado foi surpreendente de todos os jeitos possíveis: além de trazer uma glória desconhecida para a franquia, a história e o elenco criam uma fusão perfeita que perpassa pelos classicismos narrativos, além de inserir certas ironias e sarcasmos dialógicos deliciosos de serem vistos e ouvidos.

O pano de fundo se respalda nos últimos anos da Guerra Fria, ao menos na Terra. Em Cybertron, lar das gigantescas máquinas, uma batalha pela supremacia do universo se desenrola. De um lado, a última resistência Autobot tenta permanecer em pé e salvar seu mundo; de outro, a investida Decepticon varre qualquer um que ousar se colocar em sua frente. Duas facções inimigas lutando entre si, até que o conhecido Optimus Prime (Peter Cullen) ordena a um de seus soldados, B-127 ou, como ficaria conhecido, Bumblebee (Dylan O’Brien), a entrar em um dos módulos de fuga, fugindo para o nosso planeta e instalando uma base até que o restante dos rebeldes conseguisse se juntar a ele e arquitetar um contra-ataque para exterminar os Decepticons de uma vez por todas.

Apenas nesse breve prólogo, é possível ver uma considerável evolução em relação à franquia original. A prequela tem um enfoque bem mais dramático, com arcos bem delineados que prezem pela complexidade de cada um dos personagens e, principalmente, não mergulhem os incríveis robôs em uma compulsoriedade bélica excessiva e desnecessária. Knight traz bastante de seus projetos anteriores, como ParaNorman (2012) e Kubo e as Cordas Mágicas (2016), seja na construção dos personagens ou na concepção cênica. As investidas imagéticas e artísticas encontram uma sonoridade quase onírica, levando para o centro dos holofotes a amizade improvável entre um alienígena, por assim dizer, e uma adolescente do subúrbio de São Francisco, deixando bem clara a afinidade que o diretor possui quanto à inocência e à ingenuidade.

De qualquer forma, essas sutilezas também vêm acompanhadas de uma das coisas mais adoradas pelo público: ação. Após uma breve sequência que tenta explicar as intenções de Bumblebee para os humanos, em especial às forças militares dos Estados Unidos comandadas pelo Agente Burns (John Cena), o soldado cede a uma falha sistêmica de suas configurações e transforma-se no famoso fusca amarelo até ser redescoberto pela curiosidade e pelo desejo de independência da jovem Charlie (Hailee Steinfeld). O primeiro encontro entre os dois, se não se reduz ao convencionalismo do susto e do pavor, é porque torna-se apaixonante, marcando uma quase instantânea e recíproca afeição.

É possível dizer que os dois primeiros atos são construídos de forma bastante equilibrada. Baseando-se no longa original, porém repaginado com uma sustância bem maior e renegando inclusive estereótipos de gênero, a amizade entre os dois cresce exponencialmente. Enquanto Bumblebee não se recorda de quem realmente é, Charlie mostra-se como uma forte garota, apaixonada por mecânica e com um doloroso saudosismo da época em que seu pai estava vivo. Seu conhecimento sobre carros é insuperável e seu backstory não existe por acaso: cada elemento é utilizado e reaproveitado conforme a narrativa caminha para a resolução. Ademais, a roteirista Christina Hodson também abre espaço para explorar diversas irreverências, brincando com a acidez das falas e das próprias personas para adicionar um toque único ao longa-metragem.

Eventualmente, as forças antagônicas dão as suas caras e, a partir daqui, as fórmulas de gênero começam a falar um pouco mais alto. Ainda que se passe décadas antes dos eventos principais, a trama é conhecida e pode ser premeditada no momento em que Burns encara Charlie e o robô disfarçado. Ambos continuam trilhando seus caminhos até alcançaram uma mudança irreversível no modo de encarar as coisas, principalmente no tocante à confiança. Tanto a menina quanto o agente mergulham em um coming-of-age, por mais simples que seja, e acabam por não trazer muitas surpresas. É a técnica fílmica que fala mais alto e reinventa a franquia – isso sem falar no carisma irretocável de Steinfeld, que rouba a cena o tempo todo e até mesmo ofusca a presença de Cena em diversos momentos.

Bumblebee é, sem sombra de dúvida, uma ótima surpresa de fim de ano e uma ótima opção para se ver com a família. Recheado de sequências incríveis e não se esquecendo dos ápices infalíveis da ação e da aventura, o longa inova ao trazer um humor decente para as telonas e por, mesmo ambientado no passado, tornar-se mais moderno e original que a franquia predecessora.

Escrito por Equipe Proibido Ler

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