HQ Do Dia | Homem Animal – Origem Das Espécies

No segundo encadernado da Panini que traz o mitológico Homem Animal de Grant Morrison de volta, podemos conhecer melhor o seu desenvolvimento como autor que se referencia em suas obras.

Se Morrison acreditava estar escrevendo a sua sentença de morte como roteirista em “O Evangelho Do Coiote“, agora ele passa a extrapolar e ousar mais. A quarta parede agora é a sua casa de ideias e ele nem mesmo precisa quebrá-la totalmente para se referenciar ao público.

Em O Mito Da Criação, Caça À raposa, Fora Da África e Origens Secretas, Morrison traz os criadores do Homem Animal, alienígenas, em sua tentativa de consertar erros paradoxais na realidade. Estes alienígenas por sua vez, são óbvias personas referenciais do criador do universo quadrinístico que tenta consertar as falhas dos reboots da DC Comics. Morrison se aproveita da era de ouro, onde tudo era mais puro e infantil, para criar uma estória complexa na atualidade.

“Não deixa de ser tocante a fé cega com que eles recebem o impossível.”

Neste momento existem dois Homens Animais, o da era de ouro e o da era moderna. É trabalho dos criadores unificá-los e todo este arco serve exatamente para isso. As referências com o criador são jogadas na sua cara pelos diálogos e até mesmo pela arte, e temos aqui também mais um mistério envolvendo todo o universo. Tudo leva a crer que os limites do fictício não existem. Talvez o louco seja o único que consiga enxergar a realidade.

“Somos todos palavras numa página, achei que você precisava saber.”

Este mistério por sua vez, vai tomando forma até o fim do encadernado.

Mas Homem Animal não é só isso, ele nunca foi SÓ isso. Em tempos onde todos nós queremos mais, resgatar esta obra que faz ode a rebeldia contra os opressores é perfeito.

 Tanto que em “Hora do Fera”, encontramos novamente com o Fera Buana em busca do seu sucessor, em tempos de Apartheid e silenciamento na África Do Sul, o escolhido para cuidar de seu povo só poderia ser alguém inconformado. Um revolucionário fotógrafo que quer mostrar ao mundo, a realidade cruel mascarada pelos brancos que tomaram para si tudo. Que controlam toda a nação por meio de violência e segregação.

“A política de hoje é a mitologia de amanhã.”

Em Assombrações, temos um misterioso homem que se esconde pelas sombras. A verdade é que não sabemos quem ele é, mas tudo faz crer que sejam fantasmas do passado do próprio Buddy Baker, uma referencia a nossa nostalgia talvez? Talvez conheceremos mais, mas tudo leva a crer que sim. É impossível criar algo novo sem o passado como base, e talvez este mesmo passado seja assustador para alguns, mas temos que encará-lo e nos apoiarmos nele para construir o futuro.

Já em Entre o Demônio E O Azul Do Mar, temos dois pontos de vista, sendo um deles muito interessante e característico.

Com Homem Animal, Grant Morrison sempre possuiu um grande poder de incitar empatia em nossos corações, sem ter que forçar nada para esse sentimento ecoar dentro da gente. Neste capitulo, o Homem Animal tenta salvar golfinhos de um massacre anual e, é claro, cultural. Os pais levam seus filhos, todos contentes, bebendo e se divertindo a custa de sangue inocente derramado.

“É estranho chegar a minha idade e descobrir que virei terrorista.”

Como disse anteriormente, temos aqui dois pontos de vista, sendo um deles o dos humanos e outro deles, pasmem, de um golfinho. Este ser muito inteligente consegue ver a fragilidade humana com facilidade e a repudia. A dor que nós, seres humanos causamos a todas as coisas (e até mesmo semelhantes) por puro entretenimento, é indescritível.

Os crimes cronológicos do Homem do tempo: Se no primeiro encadernado nos encontramos com um vilão fora da caixa como o Mascara Vermelha, agora nos encontramos com o Homem Do Tempo, este que por sua vez tem a habilidade de… controlar o tempo. Mas o seu ideal torna tudo mais complexo. Quem de nós não queria, nem que fosse por alguns segundos, resgatar memórias, trazer tudo aquilo de bom que passou e enfim, não soubemos aproveitar? Se soubéssemos nosso fim, aproveitaríamos melhor o hoje?

Em conjunto com a insana Liga Da Justiça Europa (Homem Elástico, Metamorfo e Dmitri), o Homem Animal entra em conflito enquanto tenta comemorar com sua mulher, Ellen, em Paris, o fato de que o livro dela será publicado.

Em Consequências, Buddy Baker entra em conflito consigo mesmo. É verdade que o mundo não é preto e branco, é cinza, e mesmo que seus ideais sejam certos, se você não realizá-los prevendo as consequências, inocentes se machucarão. Buddy se mostra aqui, um dos heróis mais responsáveis e revoltados, indo além da lei dos homens, pois a lei moral, de acordo com ele, está acima de todas as coisas. Mas as consequências de seus atos falhos o tornam frágil, tão frágil ao ponto de desistir, mas então o mistério que nos envolvia desde “O Mito Da Criação”, ganha a frente e assim, veremos o que acontece na próxima edição. Mas é evidente que a linha que separa o mundo dos quadrinhos do mundo real, está cada vez mais frágil, a ponto de se desfazer.

Quanto ao encadernado como um todo, posso dizer que a arte se manteve, mas ao mesmo tempo abraçou, em conjunto com o roteirista, aos novos e velhos “deuses”. O enquadramento continua lembrando o estilo europeu e tudo se mostra cada vez mais amadurecido, sem medo de mostrar aquilo que não vemos porque não queremos ver. Apesar do amadurecimento, Homem Animal continua divertido pela grandessíssima cara de pau do autor. Em todos os fatores, tanto aos gregos, quanto aos troianos, a HQ continua valendo, e muito.

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