in

HQ do Dia | 1602: Witch Hunter Angela

Quando o mestre Neil Gaiman foi sondado pelo então editor-chefe da Marvel, Joe Quesada, em meados de 2002 para desenvolver o projeto futuramente batizado de “1602”, ele nunca poderia imaginar que uma de suas criações mais populares na Image Comics, a caçadora de demônios conhecida como Angela estaria envolvida neste universo em algum momento.

Mas esta é a “magia” de Guerras Secretas (e dos advogados da Marvel) e seus improváveis tie-ins: em pleno ano de 2015 temos duas criações distintas do mesmo autor, em dois momentos e editoras diferentes misturadas em uma mesma história em quadrinhos.

Em 1602: Witch Hunter Angela a dupla Kieron Gillen e Marguerite Bennett (que já conversou com a nossahq-do-dia-1602-witch-hunter-angela (1) equipe e atualmente escreve o título Angela da Marvel) nos leva de volta ao universo “Elizabetano” da corte do Rei James criado por Gaiman. Com poucas referências à série original, aqui Angela e a adorável fanfarrona Serah pertencem ao clã de caçadoras de bruxas que trabalham duro para livrar os domínios do rei das pragas amaldiçoadas.

Mas nem só de bruxas e criaturas infernais vivem as duas moças. Uma nova ameaça surge no reino de James, os chamados “Faustianos” – seres humanos que fizeram pactos com entidades arcanas obscuras em troca de poderes e são o novo alvo da perigosa caçada que se inicia na primeira edição de “Witch Hunter”.

Em termos de linguagem e formato, Gillen retorna a seu estilo “irônico/rebuscado” muito popularizado em sua passagem por “Journey into Mystery” também da Marvel que “contamina” totalmente sua co-autora. Então, se você for ler o material na língua original, prepare-se para diálogos levemente rebuscados, mas cheios do veneno típico do autor.

A dupla de roteiristas divide o roteiro entre cenas, mas para o leitor a transição é quase que imperceptível. A estrutura de roteiro vai direto ao ponto e logo nas primeiras páginas já surpreende com uma revelação muito inesperada sobre um dos personagens mais importantes deste elenco de apoio. Daí para frente, a dupla de protagonistas parte em sua jornada à caça dos tais Faustianos e os autores balanceiam muito bem o tom levemente sombrio e, por vezes, meio violento, com doses de humor ácido e sutil tipicamente britânico.

Bennett constrói uma ponte irretocável para o clímax e apresentação do antagonista na primeira edição e, apesar deste ser mais um daqueles tie-ins que não tem quase que relação alguma com o conceito principal (excluindo as interjeições citando o “Deus Destino”) de Guerras Secretas, é uma leitura fluida e bastante agradável. Vale destacar também as pontuais presenças e referências a autores da literatura anglo saxônica clássica como personagens vivos deste universo.

Assim como no título regular de Angela, a ilustradora Stephanie Hans alterna seus trabalhos com outro artista, desta vez a talentosa Marguerite Sauvage. E que combinação afortunada! O traço mais cartunesco (porém detalhista) de Hans nos introduz à história, enquanto Sauvage que tem uma pegada visual mais épica lida com a parte da ação mística da segunda parte da história de maneira brilhante.

Witch Hunter é visualmente impecável tanto no redesenho de seu elenco (a indumentária de Angela é digna de entrar na continuidade “normal” da editora) quanto na divisão de estilos no decorrer da história. Dois estilos diametralmente opostos de ilustração que se complementam perfeitamente.

1602: Witch Hunter traz o que temos de melhor no título mensal de Angela (o dualismo entre as duas protagonistas e os diálogos “espertinhos”) para dentro de um universo épico fantasioso com a dose certa de humor ácido, misticismo e violência.

Apesar do roteiro praticamente isolado do plano geral de Guerras Secretas, os roteiristas aproveitam uma linha temporal da Marvel que não está entre as preferidas dos leitores e criam uma história movimentada, divertida e com certo grau de imprevisibilidade. O roteiro é apresentado de maneira magnífica pela dupla de artistas com uma alternância brusca entre estilos que só beneficia a leitura. Para quem quer aproveitar a “pausa” na continuidade atual da Marvel e curtir um tie-in agradável e bem feito Witch Hunter é uma boa pedida.


Veja as demais resenhas de tie-ins de Guerras Secretas:

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Loading…

Uncharted: The Nathan Drake Collection | Disponibilizado trailer do modo história

The Comic Book Story of Beer | HQ sobre a história da cerveja será lançada em setembro