HQ do Dia | O Homem Que Passeia - Jiro Taniguchi
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Mangá do Dia | O Homem Que Passeia – Jiro Taniguchi

A correria não nos permite ter os mesmos olhos do homem que passeia

A linha fina desta análise resume bem o que o mangá de Jiro Taniguchi pretende mostrar. Quantas vezes você decidiu sair de casa sem destino e apenas com o objetivo de andar pela vizinhança?

Eu aposto que são poucas ou nenhuma. Quando eu falo em sair, é vagar sem rumo, a passos longos, leves e quase lentos. Passos que vão te fazer enxergar as pedras, a arquitetura, o asfalto e até mesmo as árvores ao seu redor. Nada de sair pra ir de um ponto a ou ponto b, isso não é passeio. É um destino pré-estabelecido.

Nós não temos essa cultura aqui, não pra quem mora nas grandes cidades do País. É tudo muito louco e insano para termos tempo de parar por meia hora e respirarmos fundo até sentir a cidade dentro de nós. Não tem como. Quer dizer, até tem, mas geralmente o pensamento de estar jogando tempo fora vai aparecer como cobrança e você pode desistir antes mesmo de começar.

HQ do Dia | O Homem Que Passeia - Jiro Taniguchi

Mas relaxa, isso é normal. Porém, para Taniguchi, a vida é muito mais que correr, ela é também para parar e apreciar um belo passeio. Seja descendo uma estação antes do seu destino para completar o caminho a pé ou se sentar debaixo de uma arvore e ver as pessoas passando. Passear pra ele é filosófico e esta filosofia ele explica muito bem em “O Homem Que Passeia”.

No mangá, um homem contempla os subúrbios de sua cidade. Caminhando devagar, ele escuta e cheira. Para e observa. É impossível não nos sentirmos alheios e indiferentes ao mundo, em contraste com este olhar puro. Passeando por estas páginas, reaprendemos a olhar e, quem sabe, a vivenciar com mais atenção as pequenas coisas. Com desenhos e roteiro de Taniguchi, “O homem que passeia” é formado por oito passeios de um mesmo homem por sua cidade japonesa.

HQ do Dia | O Homem Que Passeia - Jiro Taniguchi

Pode parecer meio sem graça, mas pode ficar tranquilo que não é não. Foi um dos mangás mais belos que eu já li. Os desenhos de Taniguchi são simples, mas tão expressivos quanto os mais técnicos e complexos de grandes ilustradores. É no singelo traço do mangaká que somos contemplados com o melhor de sua poesia. E nem precisa de muitos balões pra se fazer entender.

Você vai ler “O Homem Que Passeia” numa tacada só, e talvez seja capaz até de sair e dar um rolê pelo bairro sem se preocupar com nada. Quem sabe, né?

“O Homem Que Passeia” faz parte do selo “Tsuru”, é publicado pela editora Devir, e além da história em quadrinhos, há uma entrevista com o autor nos extras. Ela complementa a leitura e amplia a compreensão de tudo que passou pelos seus olhos em 244 páginas.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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