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O Tempo Desconjuntado | Um livro que dividirá opniões

Apos ouvir muito se falar sobre o livro “O Tempo Desconjuntado“, do Philip K. Dick, me rendi a leitura tentando ultrapassar um preconceito inicial baseado em alguns comentários e tirar a prova sobre esse escritor que divide opniões.

O Tempo Desconjuntado” conta a história de Ragle Gumm, um cidadão comum e popular de uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Ganhador invicto de um concurso de um jornal local, ele passa várias horas por dia envolvido por gráficos, tabelas, cálculos e reconhecimento de padrões. É assim que ele vence o concurso todos os dias: analisando os padrões entre as respostas anteriores e as possíveis novas resposta. Mas essa sua vida perfeita vai se modificando e em pouco tempo Ragle não se sente mais no controle. Em um jantar, seu cunhado, Victor, vai ao banheiro e insiste em dizer que lembrava de um interruptor de luz no teto, e não na parede.

Ragle e Victor ficam realmente incomodado com o déjà-vu, até que Ragle começa a ter experiências estranhas: lugares que antes existiam agora deram lugar a nomes escritos em papel, listas telefônicas com números que não chamam ninguém, revistas de celebridades que ele sequer ouvira falar, lembranças de pessoas e lugares que jamais conheceu. Acreditando estar perdendo a sanidade, ele decide viajar para longe e conhecer outro lugar para por as ideias no lugar. Ao tentar efetuar essa viagem junto ao seu cunhado, tudo fica cada vez mais estranho, desconjuntado e perigoso.

O mote do livro parece extremamente interessante e na primeira metade do livro, a construção da narrativa apesar de completamente confusa, prende a atenção e nos faz ficar ansiosos por respostas querendo entender onde tudo vai parar. Os personagens são bem construídos, com certa profundidade e criados de forma que nos pareça verdadeiros. Quem temos que gostar, nós gostamos de cara, quem são os “inimigos”, nós desconfiamos do caráter de começo, e isso é um ponto muito positivo do livro. Outro ponto que achei ótimo, é que a trama é apresentada com calma, criando-se primeiro o cenário perfeito para os acontecimentos, sem pressa e com detalhes importantes para a historia, sem perder tempo com lenga-lenga.

Porém nem tudo são flores, todos os elogios acima se referem à primeira metade do livro. A segunda metade é uma zona, acontecimentos corridos sem sentido, e que fazem com que pareça que Philip K. Dick teve que correr pra entregar o livro pra editora. E aí, vira uma verdadeira decepção! Pois você entra nessa parte do livro completamente envolvido na trama, com certas expectativas, e alguns dos capítulos são muito desnecessários para a historia, arrisco dizer que parece até outro livro, outra historia que em nada tem a ver com a historia principal. Acabei o livro com certa raiva, pois o maior mistério de todos fica sem explicação. Partes da conclusão até são interessantes, não são uma completa perda de tempo, mas poderia ser muito mais do que foi.

A brincadeira do livro, meio matriz, onde a realidade não é a realidade, onde vivemos dentro da verdade que nos é dada é muito bacana, e realmente nos faz pensar sobre nossas certezas sobre nossa historia, nossa vida e nosso universo. Até mesmo a paranoia de Ragle é algo que podemos nos identificar. Como eu disse, essa parte da história é muito boa mesmo. Chega a ser surpreendente, pois começamos a questionar se o que sabemos da historia e da nossa vida não está sendo manipulada por outros. O único problema é a conclusão da história. Pra quem gosta de definições pode ser frustrante.

A edição por outro lado está lindíssima, aliás, a Suma de Letras fez um trabalho lindíssimo para todos os livros do autor, com capas coloridíssimas, vivas e que tem muito a ver com o universo do escritor. A escrita e tabulação também são fenomenais, fácil de ler, uma ficção cientifica doida mas clara e inteligível com certeza.

A verdade é que tudo que lemos a respeito de Philip K. Dick é verdade, é um autor de amor e ódio, que divide opniões. É uma escrita que chega a ser perturbadora, e talvez alguém que não tenha tanta crise com ordem consiga aproveitar melhor a leitura do livro. Não vou dizer que é perda total, acho que é um livro que todos deveriam ler e tirar suas próprias conclusões, pois este com certeza é um desses livros que vai “bater” de forma completamente diferente pra cada leitor.

Escrito por Débora Mello

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