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Livro vs Filme vs Filme | Millennium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

De todos os elementos podem ser analisados no primeiro livro da série Millenium, escrita por Stieg Larsson, sem dúvida o que mais se destaca é a construção impecável dos personagens. “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” além de ter uma temática polêmica e atrativa, uma trama deslumbrante e uma edição que beira a excelência, possui dois dos mais significativos e transcendentes personagens da ficção contemporânea: Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander.

Leia o primeiro artigo desta série: Livro vs Filme | “O Iluminado” – por Stephen King e Stanley Kubrick

Essa análise foi mais complicada do que a anterior, da obra “O Iluminado”, porque não se trata de “Livro vs Filme”, e sim, de “Livro vs Filme vs Filme”.

O livro “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” foi lançado em 2005.
O filme sueco “Män som hatar kvinnor” foi lançado em 2009.
O filme americano “The Girl with the Dragon Tattoo” foi lançado em 2011.

Três obras contando a mesma história, mas sob interpretações diferentes. Quem se saiu melhor, o escritor Stieg Larsson, o diretor Niels Arden Oplev ou o diretor David Fincher? Vamos analisar:

LISBETH SALANDER, por Stieg Larsson

“…uma jovem pálida, de magreza anoréxica, com cabelos quase raspados e piercings no nariz e nas sobrancelhas. Tinha a tatuagem de uma vespa no pescoço e uma faixa tatuada ao redor do bíceps do braço esquerdo. […] ela tinha uma tatuagem maior na omoplata, representando um dragão. Originalmente ruiva, tingira os cabelos de preto. […] Tinha vinte e quatro anos, mas parecia ter catorze.” (LARSSON, S. 2005, p. 42)

Além das características físicas, Lisbeth também é descrita como quieta, introvertida, muito inteligente, que não possui nenhum senso de moda e não se importa com ninguém. Também é mencionada sua postura defensiva quando se trata do convívio com outras pessoas, tendo muita dificuldade em confiar nos outros – na verdade ela nem tenta se esforçar para isso, muito pelo contrário. Lisbeth afasta as pessoas de si e nunca demonstra interesse em tê-las por perto, devido a um passado traumático (que só é trabalhado no segundo livro, então não vou mencionar).

LISBETH SALANDER, por Niels Arden Oplev

Livro vs Filme vs Filme | Millennium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

A versão sueca da personagem é interpretada por Noomi Rapace. Esta Lisbeth é consideravelmente mais feminina, intimidante, impaciente e até mal-educada. Seu cabelo curto e preto possui uma franja que cobre parte do seu rosto. Bastante maquiada, ela usa batom preto, maquiagem preta nos olhos, dois piercings no nariz e vários na orelha, correntes e sobrancelha desenhada. Ela também é bastante rude e hostil, sendo ainda mais hipnótica, intransigente e egoísta do que sua contraparte literária. Seu corpo é maior e mais curvilíneo do que o descrito no livro, e é bastante explorado no filme.

LISBETH SALANDER, por David Fincher

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A versão americana da personagem é interpretada por Rooney Mara. Esta Lisbeth é introvertida, passiva-agressiva e obscura. Apresenta comportamento antissocial e é brutalmente honesta – mas ao mesmo tempo inteligente e comprometida com os casos que lhe interessam. Sua caracterização segue fielmente o que o livro descreve como “pálida, de magreza anoréxica, com cabelos quase raspados e piercings no nariz e nas sobrancelhas”. Usa pouca ou nenhuma maquiagem, tinge as sobrancelhas de modo que elas são praticamente invisíveis, tem vários piercings na orelha e uma postura fortemente andrógina. Possui uma completa falta de sutileza para se expressar, e é o tipo de pessoa que prefere passar despercebida, apesar do seu visual peculiar.

MIKAEL BLOMKVIST, por Stieg Larsson

O personagem Mikael é um mulherengo no livro. Jornalista, divorciado e pai de uma filha, ele coleciona amantes, sendo Erika Berger, sua colega de trabalho na revista Millenium, a mais antiga (se relacionam há 20 anos). Mikael ainda tem um caso com um dos membros da Família Vanger, Cecilia, uma das suspeitas do crime. E claro, com Lisbeth.

MIKAEL BLOMKVIST, por Niels Arden Oplev

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A versão sueca do personagem é interpretada por Michael Nyqvist. Este Mikael é bastante ingênuo e até mesmo apático. Sua relação com Erika Berger não é mostrada tão profundamente quanto deveria, e ele rejeita as investidas de Cecilia, focando-se totalmente no seu trabalho como detetive. Em relação a Lisbeth, Mikael se torna, de certa forma, dependente sentimental e seu emocional é bastante exposto. Quando atacado por Martin Vanger, esta versão mostra-se mais vulnerável, e suas expressões apresentam mais sensibilidade para com o caso que está investigando.

MIKAEL BLOMKVIST, por David Fincher

Livro vs Filme vs Filme | Millennium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

A versão americana do personagem é interpretada por Daniel Craig. Este é um um Mikael mais metódico e intelectual. Seus relacionamentos com Erika Berger e Lisbeth são mostrados, porém seu caso com Cecilia é ignorado. Sua postura é soturna e sagaz, seus gestos e dicção são mais firmes e esta versão não passa muita vulnerabilidade ou sensibilidade ao público.

Vamos analisar alguns pontos interessantes e diferentes de cada obra:

Erika Berger

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No livro: a editora e sócia de Mikael na revista Millenium, Erika Berger, tem um caso com ele há 20 anos. Erika é casada e seu marido não apenas sabe de sua relação com Mikael, como aceita. É deixado claro que a mulher ama os dois homens da mesma maneira.
Na versão sueca: o relacionamento entre Erika e Mikael é mostrado superficialmente.
Na versão americana: não fica claro se o marido de Erika sabe do seu caso com Mikael, até porque ele mal aparece. Também há sinais de que ela não ama os dois da mesma maneira.

Prisão e multa de Mikael

No livro: Mikael é condenado por difamação no caso Wennerström, e é obrigado a pagar uma multa (que acaba com boa parte das suas economias) e cumprir uma pena de três meses na cadeia – a qual ele cumpre enquanto ainda investiga a Família Vanger.
Na versão sueca: o jornalista cumpre a pena somente quando termina as investigações.
Na versão americana: ele paga a multa, mas não é preso.

A proposta

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No livro: um dos elementos-chave que Henrik Vanger utiliza para persuadir Mikael a trabalhar para ele na investigação do desaparecimento de Harriet, é a promessa de informações incriminatórias sobre Wennerström, de quando ele trabalhou para as Empresas Vanger.
Na versão sueca: Vanger não promete informações sobre Wennerström a Mikael para convencê-lo a aceitar o trabalho.
Na versão americana: acontece igual ao livro.

O notebook de Lisbeth

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No livro: Lisbeth está na garagem de seu apartamento e coloca sua mochila no chão para trancar sua bicicleta. Enquanto ela estava de costas, um carro vizinho, enquanto se retirava de uma vaga, passou por cima da mochila, quebrando o notebook.
Na versão sueca: enquanto caminhava na estação de metrô, Lisbeth é surpreendida por um grupo de caras aparentemente bêbados. Ela esbarra em um deles sem querer, e o mesmo toma isso como ofensa pessoal. A turma de homens a circunda, mas Lisbeth não recua, não importa quantos socos receba ou quantas vezes é jogada no chão. A cena termina com ela perseguindo os agressores com uma garrafa quebrada na mão, sangrando e com o notebook esmagado.
Na versão americana: um cara rouba sua mochila na estação de metrô e Lisbeth o persegue até a escada rolante, onde consegue alcança-lo. Uma rápida briga acontece e ela consegue roubar a mochila de volta, mas ao entrar no metrô percebe que seu notebook está quebrado.

A tatuagem de Dragão

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No livro: é uma pequena tatuagem no ombro.
Na versão sueca: é uma tatuagem que cobre as costas de Lisbeth.
Na versão americana: é uma tatuagem que cobre o lado esquerdo das costas de Lisbeth.

A família Vanger

No livro: a família Vanger pensa que Mikael fora contratado para escrever as memórias de Henrik Vanger, por isso permite que o jornalista entreviste cada membro e tenha acesso a todo arquivo histórico da família. Mas essa é só uma desculpa para que ele possa pesquisar e investigar o desaparecimento de Harriet.
Na versão sueca: a família Vanger sabe o verdadeiro objetivo para o qual Mikael foi contratado.
Na versão americana: acontece igual ao livro.

Lembranças de Harriet Vanger

No livro: Harriet Vanger foi babá de Mikael quando ele tinha 3 anos de idade. O vínculo entre os dois existe, mas o jornalista não tem nenhuma lembrança dela.
Na versão sueca: ao ver uma foto de Harriet, ele não apenas a reconhece, como tem recordações dos momentos que passou com ela. Essas lembranças são mostradas por meio de flashbacks quentes e romantizados.
Na versão americana: Mikael nunca havia ouvido falar em Harriet antes de pegar o trabalho.

A parceria entre Lisbeth e Mikael

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No livro: Mikael diz a Frode que precisa de um assistente. Frode indica Lisbeth e, acidentalmente, conta ao jornalista sobre a investigação que a hacker havia feito sobre ele. Mikael pede para ver o relatório, e encontra um documento tirado de seu computador que expôs Lisbeth como hacker. Então ele vai até a casa dela e lhe oferece o emprego.
Na versão sueca: Lisbeth se interessa e quer fazer parte da investigação. Para isso, ela invade o computador de Mikael e tem acesso a todas as informações. O jornalista não conseguia decifrar o enigma numérico do diário de Harriet Vanger, mas Lisbeth decifra e envia um e-mail anônimo para ele com a explicação. Mikael então rastreia o e-mail e encontra Lisbeth.
Na versão americana: acontece igual ao livro.

O enigma do diário de Harriet Vanger

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No livro: a filha de Mikael faz uma visita surpresa ao pai, e eles conversam bastante sobre o fato dela estar se dedicando a estudos religiosos. Antes de sair, a adolescente menciona versículos da Bíblia e diz a seu pai para não ser tão pessimista. Mikael pensava, até então, que os números misteriosos do diário de Harriet eram uma lista de números telefônicos, mas o comentário de sua filha fez com que descobrisse que eram versículos da Bíblia.
Na versão sueca: Lisbeth hackeia o computador de Mikael, tendo acesso a todos os detalhes da investigação sem que ele saiba. Ela interpreta, sozinha, o significado dos números, encontrando vários casos que se enquadram na categoria “assassinatos em rituais religiosos”. A filha de Mikael não é mencionada.
Na versão americana: acontece igual ao livro.

Cecilia Vanger

No livro: Mikael e Cecilia vivem um romance tórrido.
Na versão sueca: Mikael rejeita as investidas de Cecilia, focando-se totalmente no seu trabalho.
Na versão americana: Cecilia nem sequer demonstra interesse pelo jornalista.

Anita Vanger

No livro: a verdadeira Anita Vanger mora em Londres e é rastreada por Lisbeth. Mikael vai até a casa de Anita, grampeia o lugar e escuta uma conversa entre Anita e outra mulher após sair. Pouco tempo depois, Mikael viaja até a Austrália e encontra Harriet, que se mudou para lá e usa o nome de Anita.
Na versão sueca: a verdadeira Anita Vanger faleceu e Harriet assumiu seu nome na Austrália.
Na versão americana: Harriet é encontrada em Londres. Não há nenhuma viagem à Austrália.

O gato

No livro: um gato de rua faz companhia a Mikael na cabana, e acaba se tornando seu animal de estimação. Até que ele é brutalmente assassinado (queimado vivo) e largado na porta de Mikael. Um momento visualmente desagradável e chocante, que gera a desconfiança de Mikael e Lisbeth nos membros da família Vanger.
Na versão sueca: não há essa cena.
Na versão americana: o gato é decapitado e tem suas patas arrancadas. É largado na porta de Mikael.

A morte de Martin Vanger

No livro: Lisbeth entra na sala de tortura e ataca Martin com um taco de golfe. O primeiro golpe acerta na clavícula e ela bate nele mais 3 vezes antes de resgatar Mikael. Martin foge em sua caminhonete. Ele bate em um caminhão de transporte e morre instantaneamente.
Na versão sueca: tudo ocorre da mesma forma, até o momento em que Martin se acidenta. Ele não morre instantaneamente, mas é queimado vivo, gritando e implorando por socorro, enquanto Lisbeth apenas observa e sorri.
Na versão americana: Lisbeth bate uma vez no rosto de Martin com o taco de golfe, deixa-o cair e resgata Mikael. Quando Martin parte de carro, Lisbeth pergunta a Mikael antes de sair se pode matar Martin, e quando ocorre o acidente, ela não chega a tempo de atirar no assassino, que queima até a morte.

Harriet Vanger

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No livro: Anita cai numa armadilha de Mikael e revela que Harriet está na Austrália. Harriet usou o nome de Anita para fugir do país, é casada e tem dois filhos. O jornalista viaja até lá e a traz para reencontrar Henrik.
Na versão sueca: Lisbeth encontra registros comprovando que Harriet vive na Austrália sob a identidade de Anita (que está morta, nesta versão).
Na versão americana: é montada uma operação parecida com a do livro, mas o plot twist revela que a mulher que Mikael visitou em Londres pensando ser Anita, no início do filme, era Harriet o todo o tempo.

O fim

No livro: Lisbeth limpa as contas de Wennerström, e Mikael escreve um livro que derruba a corporação (com a ajuda das técnicas hackers de Lisbeth, é claro). Ela então retorna para casa, sentindo-se finalmente pronta para aceitar alguém em sua vida. Ela compra um presente de Natal para Mikael, mas o vê ir embora beijando Erica, joga fora o presente e vai embora.
Na versão sueca: Lisbeth viaja para as Ilhas Cayman para limpar as contas de Wennerström e desaparece.
Na versão americana: Lisbeth retorna, compra uma jaqueta para Mikael e sente-se pronta para um relacionamento. Então ela o vê com Erica, joga a jaqueta no lixo e vai embora.


Para designar o que é bom e o que é ruim, é preciso definir quais serão as prioridades. Fidelidade ao livro? Atuações? Trilha sonora? Efeitos especiais? Plot twists?

O que torna algo bom para você?

Livro vs Filme vs Filme | Millennium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

Neste momento me encontro na mesma corda bamba que fiquei na análise de O Iluminado: todas as obras são espetaculares e mesmo que tomem certas liberdades, é impossível apontar uma como a melhor. Na mais fácil das hipóteses, eu diria que o livro é o melhor entre os três, já que foi o que originou dois filmes tão maravilhosos.

Embora a versão americana seja consideravelmente mais fiel ao livro, sempre haverá o seleto grupo de saudosistas que apontarão mil defeitos e idolatrarão a película sueca. Da mesma forma, por mais que o filme sueco tenha um roteiro magnífico, terão aqueles que dirão que não é fiel ao livro ou não tem tanta qualidade quanto o americano. Este é um dos casos onde você deve apreciar sem moderação, e torcer para que as produtoras americanas tragam as próximas adaptações logo (se é que vão trazer). No caso da adaptação sueca, todos os 3 livros foram adaptados. Faça bom proveito!

Livro vs Filme vs Filme | Millennium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres


Gostou? Indique nos comentários alguns filmes inspirados em livros para a nossa próxima análise!

Veja também: Twin Peaks Vs. The Killing | Investigações e semelhanças além do bem e do mal

Escrito por Louise

Amo, respiro e me alimento de quadrinhos, acho completamente normal se envolver emocionalmente com personagens de séries e filmes, e já vou avisando: NÃO MEXA COM MEUS HERÓIS!

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