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HQ do Dia | The Multiversity: Ultra Comics #1

No penúltimo capítulo do passeio de Grant Morrison pelo Multiverso DC somos levados até a Terra 33 mais conhecida como Terra Prime ou Primordial. Um mundo no qual as leis da física impossibilitam a existência de super-heróis. Portanto, para defender este universo de uma misteriosa e iminente ameaça é criado um ser que é meio meta-humano e meio revista em quadrinhos (Sim!). Este ser se chama Ultra Comics e é o protagonista que dá nome a esta verdadeira “Morrisagem” em forma de HQ.

hq-do-dia-the-multiversity-ultra-comics-1Esqueça Homem-Animal, esqueça Sete Soldados, esqueça todas as demais edições de The Multiversity lançadas até o momento. Ultra Comics é a mais ousada, experimental e insana incursão de Grant Morrison na sua própria história como autor de arte sequencial e você ao ler este material fará parte disso tudo. A revista começa com um aviso direto ao leitor de que o que está prestes a ler é uma armadilha e que nas próximas páginas tudo vai dar errado. Isso serve tanto como chacota quanto como alerta para os detratores do roteirista, do tipo: “Nem comecem a ler isso e se começarem estejam avisados.” Durante o curso da história conhecemos a origem de Ultra Comics e como sua fisiologia é baseada fisicamente e mentalmente em histórias em quadrinhos e nas pessoas que estão lendo a história naquele momento (Sim, você!). Isso vai desde a composição de seu corpo até a constituição de sua personalidade e memórias. Aqui somos apresentados a ameaças alegóricas que devem ser combatidas pelo protagonista para salvar a Terra-33 e todo o Multiverso. A todo momento o autor envolve o próprio leitor como parte da história, seja com chamadas diretas a quem está lendo ou mesmo citações nas quais a pessoa que está lendo é mencionada (não nominalmente, é claro). A mente de Ultra é um coletivo de pensamentos de todos que estão lendo a revista naquele momento e o herói se utiliza disso para combater os antagonistas. Existe uma tênue espinha dorsal quase que invisível que guia a história em direção a seu próprio início e torna esta aventura cíclica e quase que infinita (Chegue ao final e leia de novo. Com certeza haverá alguma coisa que você interpretará de outra forma ou que não percebeu anteriormente), no entanto as páginas tem tanta (muita mesmo) alegoria, crítica em relação ao mercado atual de quadrinhos e metalinguagem que o leitor pode facilmente perder o fio da meada e se ver envolvido completamente pelos temas abordados esquecendo o roteiro básico.

Tudo aqui descrito, escrito e mostrado tem um significado maior e faz referência ao nosso Universo aqui do outro lado das páginas. Afinal, a Terra 33 teoricamente é onde nós leitores vivemos. Em determinado momento o herói é inquirido com um comentário extremamente pertinente que você fará lendo (Sim. Você vai pensar EXATAMENTE isso no meio da história) e Morrison simplesmente leu a sua mente e colocou ali na página. Por outro lado para quem quer somente ler uma aventura de super-heróis Ultra Comics não deixa a desejar, apesar da confusão aparente a trama pode sim ser lida como uma mera aventura linear e tem um final bem dramático até.

Doug Mahnke é um dos maiores talentos da DC Comics atualmente e sua colaboração aqui comChristian Alamy, Mark Irwin, Keith Champagne, Jaime Mendoza traduzindo em imagens a loucura do autor é nada menos que perfeita. Ultra está vivo nessas páginas. Quando ele falar com você, tu vai ouvir sua voz na tua cabeça. A equipe de arte faz um trabalho magnífico evocando e homenageando eras, clichês e origens dos quadrinhos sempre mantendo o louco roteiro de Morrison amarrado, sob controle e tão concreto que dá vontade de falar com a revista. O que poderia ser um desastre visual nas mãos de uma equipe de arte que resolvesse viajar nas composições de páginas torna-se uma das edições single mais bem desenhadas do ano na editora.
Ultra Comics é um legado de Grant Morrison. Não é exatamente um legado vitorioso nem fracassado pois esta edição particularmente é muito controversa, extremamente experimental e plausível de inúmeros argumentos a seu favor e contra. Talvez por isso esta HQ tenha sido mostrada em todas as outras partes de The Multiversity como “infectada”, “amaldiçoada” e como a danação do Multiverso. A história é um legado no sentido de que será discutida daqui pra frente infinitamente pelos fãs. A história é um legado no sentido de que dissolve amarras narrativas que pareciam invisíveis para este autor até o momento.
A história é um legado principalmente no sentido de que demonstra como o roteirista se esforça para se reinventar e com isso reinventar o tipo de arte que se propõe a trabalhar. Morrison aqui é como um cientista buscando uma fonte alternativa de energia ou uma novo meio de transporte para a humanidade. O roteirista tenta a sorte, bota a cara a tapa e não tem medo da crítica (inclusive fazendo piada com a reação do público no meio da história). O fato é que gostando, não gostando, odiando ou mesmo escarnecendo com o popular “Meh” é impossível ler esta edição e passar incólume e não ficar pensando “o que diabos essa porra desse Careca Escocês quis dizer ali?”.
No final das contas qualquer material que te põe pra pensar da forma que Ultra Comics faz tem sim seus méritos.

Leia as resenhas individuais de cada uma das partes de “The Multiversity”:

– The Multiversity #1
– The Multiversity: Society of Super-Heroes
– The Multiveristy: The Just
– The Multiversity: Pax Americana
– The Multiversity: Thunderworld Adventures
– The Multiversity Guidebook
– The Multiversity: Mastermen
– The Multiversity #2

Escrito por Igor Tavares

Carioca do Penhão. HQ e Videogames desde 1988. Bateria desde 1996. Figuras de ação desde 1997. Impropérios aleatórios desde 1983.

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