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The Warriors | Os verdadeiros ‘Selvagens da Noite’

Minha paixão por The Warriors ocorreu meio que tardia, queria eu ter conhecido essa obra prima de Sol Yurick antes de completar a maioridade, por exemplo, assim, eu teria uma juventude um pouco mais empolgante e sonhadora, acredito eu.

Falo isso, pois nos prefácios do livro lançado recentemente pela nossa parceira DarkSide Books, com tradução de Fábio M. Barreto, mostra o lado de algumas pessoas que foram tocadas pela obra deste sujeito e passaram um juventude pautada por ela. Falo de Ferréz, escritor e autor de obras como: Capão Pecado, Ninguém é inocente em São Paulo e Os ricos também morrem. Falo também de Beto Estrada do Matando Robos Gigantes. Para eles The Warriors foi marcante em suas vidas, o livro começa com o prefácio de ambos contando a relação que tiveram com o filme dirigido por Walter Hill e posteriormente com o livro, algo mais ou menos parecido com o que aconteceu comigo mesmo que de forma tardia.

The Warriors – Os Selvagens da Noite foi um livro escrito por Sol Yurick em 1965, a trajetória para a feitura e a relação dele com o filme que foi lançado no final dos anos 70 e inicio dos anos 80 é contada em um prefácio também desta edição da DarkSide Books. Através dele é possível entender tudo que girou em torno desta obra e como a mesma afetou as novas gerações e ganhou notoriedade com a Paramount, que apostou na ideia e resolveu lançar o filme. Neste prefácio o autor situa o leitor e cria uma espécie de prévia de preparação, algo para você encarar a leitura com as informações necessárias e assim, não se sentir muito perdido.

the-warriors-os-verdadeiros-selvagens-da-noiteThe Warriors – Os Selvagens da Noite parte do mesmo ponto que muitos conhecem no filme, todas as gangues se preparando para o grande encontro na cidade de Nova Iorque, mais precisamente no Bronx, sem armas, na calada da noite, escoltados pela maior gangue da cidade, sem saber o que viria a acontecer e o que estavam lhe esperando. O discurso aqui não é de Cyrus, mas sim de Ismael e ao longo do livro você vai perceber que a adaptação para o cinema não passou de algo levemente inspirado nesta obra.

Aqui, a gangue que sai de Coney Island não se chama “Warriors”, mas sim “Os Dominadores”, a “Família” como eles se chamam entre si, é formada em sua maioria por negros e garotos entre 14 e 16 anos. Com nomes bem peculiares como: Lesadão, Pavão, Hinton, Hector, Dewey, Junior e Arnold. “Guerreiros” é um termo no livro usado para denominar qualquer membro de uma gangue e não de apenas uma. Já o discurso para unir todas as gangues não é feito por Cyrus e sim por Ismael e o desfecho deste momento é um pouco diferente do que vimos no cinema.

O inicio do livro tem uma leitura pesada e confusa, não sei se isso se deu ao processo de tentar achar na obra um ponto de ligação com o filme ou até mesmo pelo fato de tentar buscar em cada um dos personagens uma referência com o Swan, Ajax, Cleon, Snow, ou seja, com os Warriors. Passando os primeiros capítulos entre o chamado para a aventura e o momento da reviravolta que dá inicio a jornada dos Dominadores de volta para Coney Island, é bem arrastado, porém é necessário seguir, pois dali em diante, o livro tem outra pegada.

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Livros datados e que tiveram uma adaptação para o cinema é sempre um bom documento acima de tudo, carregam em si a essência da obra que passou tantas vezes diante dos nossos olhos, com The Warriors – Os Selvagens da Noite não é diferente. Nele não existe pudores, nem alterações da linha do tempo, muito menos a perfumaria usada no cinema. É algo cru e por vezes chega a ser pesado e intragável, assim como o clima entre as gangues da cidade de Nova York. Sol Yurick consegue reproduzir com muita autenticidade e ferocidade em alguns momentos, o comportamentos dos jovens que optaram por criarem um conceito de “família” das ruas. Em sua maioria, eles são jovens igualmente aos que estão na periferia das grandes cidades, sem perspectivas de vida, assediados pela vida do crime ou das drogas e com total ausência de politicas públicas e sociais.

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A jornada dos Dominadores de volta para casa se passa na noite do 4 de julho, dia em que os americanos comemoram a Independência, e vai ao longo da madrugada e manhã do dia 5 de julho. Nesse tempo Yurick vai mostrando como é o relacionamento de irmandade entre eles, o respeito que eles tem pela ierarquia dentro da “família”, um pouco da união e outros momentos como a selvageria e valentia presente no instinto de alguns. Um dos momentos mais marcantes do livro e com certeza um dos mais belos de se ver (nem sei se posso chamar assim), são os rituais de preparação para o combate e o ritual de cumplicidade quando estão de fato estraçalhando um membro de outra gangue.

Leia mais: Curiosidades sobre o filme “The Warriors – Os Selvagens da Noite” (1979)

Sol Yurick estampa um pouco a cultura da época, que mostra com realidade a cultura do machismo e de outros conceitos que norteiam a cabeça daqueles jovens. Cultura marginalizada sempre vai trazer elementos que fazem parte dela, assim como os quadrinhos, como as pichações nas estações, as TAGs que ficavam a cargo de Junior deixar por onde passava, jogos de fliperamas e tantas outras coisas que surgem dos guetos.

The Warriors | Livro que deu origem ao filme será lançado pela DarkSide® Books
O acabamento do livro é em capadura com um projeto gráfico fenomenal, algo característico nos livros lançados pela DarkSide Books.

A malha viária de Nova York serve como pano de fundo, a volta para Coney Island é um complemento a história, mas está na personalidade e no comportamento de cada um o grande destaque deste livro. Eles mostram realmente que são os verdadeiros Selvagens da Noite e que as suas vidas fora do contexto de “gangue” não tem muito sentido. Yurick  escracha tudo com frieza e de forma nua a trajetória destes moleques.

A leitura de The Warriors – Os Selvagens da noite é muito importante para aqueles que conhecem apenas a visão de Walter Hill, uma visão muito, mas muito mínima da grandiosidade que tem Os Dominadores. Talvez a polêmica da época não deixou o diretor se aprofundar na obra do autor, mas se fosse um filme feito hoje, acredito que a história não seria apenas  “inspirada” e sim totalmente baseada na vida daqueles jovens que mesmo à margem da sociedade construíram algo digno de virar uma história. Mesmo que o final de cada um deles não seja edificante, nem heroico, muito menos promissor.

Sol Yurick expõe algo desolador que pode causar até um pouco de repulsa por parte do leitor.  Can You Dig It?

Se interessou pelo livro? Compre através deste link: The Warriors. Os Selvagens da Noite.

 

 

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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