in

Não Estou Lá (2007)| Um documentário nunca foi tão artístico

Bob Dylan é certamente conhecido por todos nós. Mesmo que você pense que não, com certeza esbarrou em alguma versão de suas músicas. Ele é um compositor e músico sensacional e revolucionou o mundo de várias formas, seja musicalmente, seja por suas letras marcantes e deveras “tapa na cara”, seja simplesmente pela sua personalidade forte ou ainda por sempre lutar por alguma causa. Ele é com certeza uma lenda e, como é mostrado em Não Estou Lá (2007) de Todd Haynes (Carol, Velvet Goldmine),  sua personalidade foi e é tão única que extrapola um personagem.

Em toda a sua vida de reinvenções, Dylan se divide em:

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico

Poeta

Ben Whishaw (Perfume: A História De Um Assassino) interpreta Arthur Rimbaud. Rimbaud responde a várias perguntas que são citações de Dylan em entrevistas. Dylan explica em sua autobiografia “Chronicles: Volume Um” ter sido influenciado pela aparência do poeta que assim como Dylan era uma alma inquieta, um gênio muito jovem comparado em sua época a Shakespeare.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 2
Profeta

Christian Bale (Psicopata Americano) interpreta Jack Rollins e o Pastor John. Jack Rollins é um Dylan da fase acústica, de protesto que canta The Freewheelin’ Bob Dylan e The Times They Are a-Changin’. Pastor John remete ao período em que o cantor “nasceu de novo” como Cristão convertido e gravou Slow Train Coming e Saved.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 3

Marginal

Richard Gere (Sempre Ao Seu Lado) é Billy the Kid. Billy se refere ao papel de Dylan no filme de Sam Peckinpah de 1973, o faroeste Pat Garrett and Billy the Kid. Mas ao mesmo tempo mostra o tempo em que ele ficou recluso, parando de produzir por um bom tempo.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 4Falso

Marcus Carl Franklin interpreta Woody. O personagem reflete a obsessão da juventude de Dylan pelo cantor norte-americano de música folk Woody Guthrie. Como uma criança imatura que idolatra seu ídolo e quer ser como ele. O personagem também se refere as autobiografias fictícias que o cantor construiu durante sua carreira inicial e como ele estabeleceu a sua identidade artística. Marcus recebeu um Independent Spirit Award por sua atuação.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 18

Astro

Heath Ledger (Batman: O Cavaleiro Das Trevas) é Robbie Clark. Um ator que interpreta um filme biográfico sobre Jack Rollin; as experiências com um casamento em deterioração reflete a vida pessoal de Dylan por volta de 1975, quando gravou Blood on the Tracks.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 40

Rockstar

Por último, mas não menos importante – talvez até mais – Cate Blanchett (O Estranho Caso de Benjamin Button), interpretando Jude Quinn. O personagem reflete Dylan de 1965–1966, durante a controvérsia criada quando o cantor passou a usar guitarras elétricas (o “Dylan Elétrico”) a partir do Festival Folk de Newport (Rhode Island), e viajou até a Inglaterra com uma banda e foi vaiado. O período foi documentado por D. A. Pennebaker em Eat the Document. Este personagem é o mais marcante, tanto que a atriz recebeu um globo de ouro e foi indicada ao Oscar em 2008. Sinceramente, quando assisti ao filme, não percebi de maneira nenhuma que se tratasse de uma atriz, o tempo todo ela passa a sensação de ser um rockstar jovem, bem “moleque”. A semelhança com Dylan também se faz presente (e digo isso não só pela aparência, mas muito pela sensação que a atriz nos transmite):

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 14


Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 11

O longa conta, através de vários personagens distintos, sua vida, e a forma ao qual a sua história é contada também se divide, transitando pelos personagens por todo o filme. Nada é tão linear que possa se encarar diretamente, pois um personagem não anula o outro. Tudo que Dylan já foi um dia sempre permanecerá com ele – assim como acontece conosco, mesmo que mudemos, sempre teremos um resquício do que fomos um dia.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 12

O longa por si só tem dois sabores diferentes: Um que te faz querer conhecer Dylan por toda a essência que ele traz e outro para quem já o conhece. Isso acontece porque acima de tudo, tudo é simbolizado de forma muito artística, mudando sempre de acordo. Temos preto e branco, temos drama, romance, cenas teatrais, fantasiosas, com clima de faroeste, circenses, com trejeitos de Blues, enfim, de tudo mesmo. É uma simbologia com a realidade como pano de fundo. O filme nunca se mantém o mesmo. ele muda, junto com Dylan. E ele transita impecavelmente, a fotografia é tão bonita que você sente vontade de guardar tudo em algum lugar. Por vezes parece até um filme francês.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 1

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 3

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 15

Simplificando, tudo é simbolista e fantasioso, misturado com reportagens, é um devaneio filmado que fantasia a vida de Bob, pois essa merece ser fantasiada. Alguém que deixa a sua marca em todo lugar que passa, pois não tem nenhum receio de dizer o que pensa, de criticar, fazer valer sua voz. Alguém que respira e inspira poesia sem nunca deixar de ser um espirito livre.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 13

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 17
A trilha sonora é um ponto altíssimo. Ela é toda baseada nas músicas do cantor, muitas originais e muitas versões feitas especialmente para o filme. Um bom exemplo é a Ballad Of A Thin Man, confira:

Tudo é tão artístico, poético e critico que com certeza vale a pena para todos. Se você não conhece Dylan, vai querer conhecer, e se conhece, vai sacar todas às referencias e ficar realmente satisfeito. Eu particularmente sou apaixonado por ele e quanto mais o conheço e conheço sua obra, mais fã me torno.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 5

Além dos “Dylans”, também podemos contar com grandes nomes como Charlotte Gainsbourg (Ninfomaníaca), Julianne Moore (Para Sempre Alice) Bruce Greenwood (Star Trek: Into The Darkness), Michelle Williams (Ilha Do Medo) . Todos interpretando pessoas que passaram pela vida de Dylan, da forma que se representaram na vida dele. Muito bem representadas.

Não Estou Lá (2007) Um documentário nunca foi tão artistico 19

 Com um elenco impecável, trilha sonora de qualidade e muita genialidade, Não Estou Lá se mostra como algo muito além de um documentário, é um longa que se vale sozinho. Tudo o que o cantor representa vai mexer contigo, conhecendo-o ou não. Ah sim, você pode encontrar o filme no catalogo da Netflix!


Gostou? Tem mais:

Escrito por Jefferson Venancius

Escritor, redator, roteirista e músico. https://conde.carrd.co

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Loading…

HQ do Dia | Invincible Iron Man 1-5

Mad Max | George Miller diz que não fará mais filmes