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A balada de The Wicked + The Divine chega ao fim

Quando comecei a ler “The Wicked + The Divine” não sabia bem o que esperar. Eu já havia lido “Jovens Vingadores” e “Phonogram” em que o trio Kieron Gillen (roteiros), Jamie McKelvie (arte) e Matt Wilson (cores), tinham feito, porém toda vez que eles falavam desse novo gibi,  eu ficava empolgadíssimo. A parte boa é que “The Wicked + The Divine” é tudo que a gente (você também) precisam para entender uma geração.

“The Wicked + The Divine” estreou pela editora Image em junho de 2014 e instantaneamente se tornou um sucesso dentro do universo de leitores de quadrinhos. No Brasil o título é publicado pela Geektopia, selo de quadrinhos da editora Novo Século. O gibi fala sobre vida e morte, mistura a vida glamourosa de astros pop e te joga em uma trama mágica que mistura escolhidos e deuses messiânicos. Garanto que você não entendeu nada, mas não se preocupe, durante a leitura tudo fará sentido.

Na história você acaba conhecendo Laura, uma adolescente normal, viciada em redes sociais, cheia de sonhos e apaixonada por seres que vivem numa espécie de Olimpo. Celebridades que vivem em um mundo muito diferente que nós mortais estamos acostumados. Pelos olhos dessa protagonista, acabamos mergulhando em uma trama que mistura traições, seres excêntricos, muita música pop em uma excelente representação do mundo que vivemos. Esse para mim é o maior acerto dessa série. A forma que cada personagem é construído e como a partir de clichês, Gillen, McKelvie e Wilson desconstroem muitos preconceitos que temos.

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A balada de The Wicked + The Divine chega ao fim
The Wicked + The Divine

A equipe artística faz questão de desenhar os personagens que estão no panteão inspirados em astros da música reais. Temos David Bowie, Tove Lo, Kayne West e muitos outros. Uma das grande preocupações da série é ser o mais diversa possível sem ser panfletária. Estamos acompanhando pessoas e não interessa a raça, orientação sexual ou gênero. Isso faz parte daqueles personagens e já estavam lá antes de começarmos acompanha-los. Esse é um traço extremamente interessante no texto de Gillen.

No mundo de deuses do pop, vamos entender que existe um tipo de mágica que cria um panteão de seres com poderes, porém em troca da metamorfose, os jovens escolhidos trocam uma vida normal por uma vida que terá o limite de dois anos. Seriam os 730 dias mais alucinantes de suas vidas. Essa alusão é bastante interessante pelo lado de Gillen, pois ele acaba falando sobre o prazo de validade dos astros musicais que hoje são construídos pela mídia. Sempre com uma carreira meteórica no real sentido da palavra.

Quando paro para pensar em “The Wicked + The Divine”, gosta de lembrar que somos facilmente atraídos pela fama, dinheiro e glamour. Muitas vezes caímos na armadilha de querer viver esse tipo de vida e não entendemos o impacto que ela pode ter. Outras vezes tentando ser aquele alpinista social e usando as pessoas para conseguir ir mais longe, cagar para as pessoas a sua volta e passar dos limites. É algo que sempre penso quando acompanho Laura em sua vida em torno do Panteão.

A balada de The Wicked + The Divine chega ao fim
The Wicked + The Divine

“The Wicked + The Divine” comenta a forma que cada vez nos espelhamos em pessoas que não conhecemos para viver nossas vidas. Copiamos vida, cores, roupas, amores e coisas de pessoas que sequer sabem que existimos. Ficamos gratos com um pouco de atenção, um tuíte, um like, um coração na mensagem. Sempre me pego pensando nisso. Como eu, você e mais um mar de pessoas podem estar presos nesse estilo de vida. As nossas conquistas são apenas troféus para ostentarmos em redes sociais? Não deveríamos ir além disso? Contra quem lutamos? Existe um inimigo? Não somos nosso maior obstáculo? Essas são dúvidas que permeavam minha cabeça, após cada edição desse gibi.

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Essas questões de certa forma são abordadas no texto de Gillen muito por estar passando uma fase delicada da sua vida após a morte de seu pai. O autor resolveu exorcizar esses demônios em forma de gibi e bota gibi bom nisso. Um quadrinho que cresceu de forma tão coesa e com uma mística tão interessante em seu entorno, que durou 45 edições mensais e mais seis especiais. Um conceito tão surpreendente que não surpreende quando a série produzida pelo Canal Universal chegar. 

A balada de The Wicked + The Divine chega ao fim
The Wicked + The Divine

Escrevi, escrevi e escrevi sobre “The Wicked + The Divine” e consegui falar muito dele, sem entregar uma linha da sua história, porque esse é um quadrinho que merece ser lido e relido. Ele é tão importante para nossa geração, um grito musical de liberdade para um bando de pessoas que devem entender que existe muito mais além de um glamour. No fundo, tanto as pessoas famosas quando as anônimas, são iguais e estão no mesmo barco. Coloque seu fone de ouvido e dance até amanhecer! Ninguém pode te tirar esse momento. Aproveite sua vida ao máximo, pois o fim a gente sabe que está logo ali. 

Escrito por Pablo Sarmento

Oi! Eu sou Pablo Sarmento, inventei de escrevi sobre gibis e acabei me tornando meu pior inimigo dentro de um multiverso de versões de eu(s) mesmo(s).

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