Que saudade que deu dos fliperamas de boteco
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Que saudade que deu dos fliperamas de boteco

Apesar de estarem num ambiente um pouco hostil, jogar as grandes máquinas valiam a pena!

Houve um tempo em que não existiam videogames na casa das pessoas. Eram tempos difíceis! Não tinha essa coisa de fácil acesso ao consoles como ocorre atualmente. 

Enfim, há uma várias histórias de pessoas que compraram o primeiro videogame fazendo consórcio. Hoje em dia, isso nem passa pela cabeça de ninguém, mas lá no final dos anos 80 e começo da década de 90, era a única forma de conseguir comprar esse tipo de bem.

E quando a gente não conseguia jogar videogame em casa, o jeito era correr para um lugar pouco usual pros jovens daquela época. Geralmente ele tinha um piso de cor avermelhada, um aroma cítrico característico da mistura de pinga com limão e um monte de adultos conversando coisas que muitos de nós nem fazíamos ideia do que se tratava. E ainda bem que era assim!

Que saudade que deu dos fliperamas de boteco

Mas se tinha uma coisa que a gente conseguia entender bem, era como um gabinete com uma televisão dentro, duas direcionais, alguns botões e um cinzeiro no meio delas, prendia a nossa atenção e fazia a nossa imaginação viajar em várias delas. Algumas como: um lutador americano ou japonês saíam de suas nações para enfrentar uma entidade quase que folclórica no Brasil; ou para as ruas de uma cidade dominada por gangues, onde você tinha que resgatar a filha do delegado de polícia; rolava até pilotar um Cadillac em meio a punks e dinossauros.

Era um universo que nós não estávamos acostumados a ter, mas a partir do momento em que o conhecíamos, percebíamos o quão essencial ele seria pras nossas vidas.

Sair de casa pra jogar fliperama no boteco da esquina, era uma das melhores coisas que nós podíamos fazer na época. Além do universo imaginário apresentado pelos jogos, existiam coisas únicas que somente um ambiente como aquele poderia proporcionar.

Tudo começava quando você guardava o dinheiro que seus pais te davam pra comprar lanche na escola pra gastar com fichas de fliperama. Ao bater o sinal avisando que a aula daquele dia tinha acabado, você pegava as suas coisas e saía correndo pra casa. Trocava de roupa como se fosse o Barry Allen (The Flash), almoçava como se fosse o Toretto (Velozes & Furiosos) dirigindo seu Dodge Charger e chegava no bar como se tivesse viajado num Concorde.

Naquele ambiente hostil, você tinha que lidar com o mau humor do dono do boteco ou com o cara que se achava o bonzão, e só ficava esperando você colocar a ficha na máquina para aproveitar o momento de mostrar suas habilidades no X1.

Que saudade que deu dos fliperamas de boteco

Tinha também tiozão bêbado dizendo que você não podia perder pra determinado inimigo, além dos colegas que ficavam ao lado do fliperama acompanhando o seu jogo só pra saber como era o final. Isso era o que nós poderíamos chamar na época, de assistir ao gameplay de um jogo ou a “live” de alguém. Quando os primeiros botecos passaram a disponibilizar em seus fliperamas um jogo chamado “Mortal Kombat”, você aprendeu que dali em diante ficava cada vez mais difícil manter certas amizades.

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A disputa era tão acirrada, que muitas vezes saía do ambiente eletrônico para o físico num piscar de olhos. Chegar nesse ponto por causa de um jogo é lamentável até mesmo nos dias de hoje, mas a coisa piorava quando o valentão da escola não aguentava a zoeira e acabava desligando a máquina só de raiva. Geral chamava o cara de pato, mas quando era você o cara que perdia, o vencedor era apelão.

Sem falar no ápice da vergonha, que era quando a sua mãe percebia que você tinha sumido de casa e saía correndo pra te resgatar do bar com um puxão de orelha. Mas nem só de problemas vivia o frequentador assíduo de bares com fliperamas. Grandes amizades foram feitas, as já existentes eram fortalecidas e o universo dos games jogados, sempre se estendia para as ruas.

Com certeza você já foi o Jimmy Lee e seu melhor amigo o Billy Lee (Double Dragon) ou vice versa. Todos os fatalities de “Mortal Kombat” foram aprendidos sozinho por você ou por um amigo, e o conhecimento foi passando de mãos em mãos. Todos os combos e golpes aprendidos, eram pautados pelos golpes dos personagens de “Street Fighter”. Atualmente, ainda é assim e acredito que será pela eternidade.

“- Como eu faço pra soltar o especial do Terry (KOF)?

– O especial são dois hadouken + o soco forte.”

E assim a vida seguia e o mundo ao nosso redor ficava um pouco mais colorido. Muitas das vezes quando não havia dinheiro pra comprar uma ficha, “planos infalíveis” eram bolados para tentar fraudar o fliperama de alguma forma – e todas eles falhavam miseravelmente. Tudo que restava, era admirar a apresentação do jogo e ficar triste com a mensagem “insert the coin” piscando ao final dela.

Que saudade que deu dos fliperamas de boteco

Com o tempo, chegaram os consoles de 16 bits e muito dos jogos de beat ‘em up que nós só víamos nos fliperamas, passaram a figurar a televisão da nossa casa. Depois, apareceu o tão sonhado Neo-Geo CD e os jogos da franquia “The King of Fighters”, PSone com os crossovers da Marvel e “Street Fighter”.

Toda a magia que nós emulávamos em casa, era pra lembrar dos tempos dourados da época em que saíamos de casa geralmente escondidos de nossos pais para passar horas jogando um fliperama no boteco.

Escrito por Bruno Fonseca

Fundador e editor-chefe do PL. Jornalista apaixonado por quadrinhos, filmes, games e séries.

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