Bruno Fonseca Engana-se quem assiste ao “Modo Avião” e acha que se trata de mais uma comédia romântica sem graça produzida pela Netflix. De certo, é muito pior se você também chegar ao filme já com a certeza de que seria mais um longa ruim com a atriz que arrasta multidões de adolescentes nas telas da TV, do Cinema e do celular.
Em “Modo Avião” conhecemos a história de Ana (Larissa Manoela), a garota tinha o sonho de se tornar uma estilista de muito sucesso. Porém, ao receber uma proposta de ser influenciadora digital de uma marca renomada, ela larga a faculdade para investir todo o seu tempo registrando tudo via stories e publicações no Instagram.
O trabalho que a princípio seria incrível, foi ficando cada vez mais nocivo para ela mesma: certo dia, de tanto manter os olhos somente na tela do celular, a jovem sofre um sério acidente de carro, o que a leva a deixar sua função de influenciadora de lado e passar um tempo na casa de seu avô Germano (Erasmo Carlos), no interior da cidade. Nessa volta às origens, Ana entra em um profundo processo de autoconhecimento e estabelece mais proximidade e afeto pela sua família e por ela própria.
A sinopse demonstra uma história comum, se você ler novamente vai perceber que não tem nada demais, mas é ai que vem o ponto alto do filme. Após o acidente mais grave que ela sofre depois de levar um pé na bunda, a vida da garota começa a ser ditada pela atitude dos pais em realizar um mega acordão com o avô Germano, um suposto oficial de justiça que confisca o celular da menina e diz que se ela pegar em qualquer outro celular poderia ser presa, além de toda a cidade do interior pela qual a garota vai fazer o detox digital. Ou seja, todo mundo está sabendo o que a Ana fez e como agir quando estiver com ela por perto.
A partir daí, tudo que a garota vai fazer na casa do avô e na cidade dele, faz parte de um roteiro. E não é o roteiro do filme, é um roteiro pré estabelecido para ela não pôr as mão no celular. É tipo um acordão com o supremo com tudo.
Enquanto Ana tenta descobrir coisas simples da vida como, por exemplo, desligar um despertador analógico ou apertar um parafuso, está todo mundo em volta dela se preparando para dar o próximo passo na vida artificial que a garota vai viver no interior.
“Modo Avião” é como se fosse “O Show de Truman” (1998), só que no lugar de Jim Carrey, nós temos a Larissa Manoela sendo manipulada por todo mundo, inclusive pelo novo interesse afetivo que ela se encanta logo de cara. Eles fizeram esse esquema tão bem, que demora muito pra Ana desconfiar do que está rolando.
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A garota acha que finalmente encontrou uma vida fora da internet, fora dos holofotes digitais e da carreira de influenciadora. Melhor ainda, é quando ela descobre que seus avós tiveram uma vida brilhante enquanto viveram juntos e isso serve de combustível pra Ana encontrar um novo sentido na carreira e passa a dar os primeiros passos para realizar seu sonho de ser uma fashionista.
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Mesmo quando ela descobre que tudo foi arranjado e que ela estava vivendo o seu próprio “Show de Truman” (se você não assistiu, assista. Tem na Netflix), ela percebe lá no fundo que de certa forma ter vivido essa experiência a fez enxergar o que a vida plástica de influenciadora é efêmera e o que vale são as coisas que construímos com amor e que nos retroalimenta.
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“Modo Avião” tem outros destaques como a bela atuação do Tremendão (Erasmo Carlos) como o avô Germano. As vezes ele nem precisa abrir a boca para transmitir a mensagem, o auxiliar da vilã Carola (Katiuscia Canoro) faz caras e bocas típicas de quem trabalha com influencers (eu sei porque eu já vi muita gente igual a ele), e o trabalho da direção de César Rodrigues em tirar o máximo da Larissa e transformar uma comédia que carrega o estigma de boba em um filme denso e que passa uma mensagem tão importante para os jovens da atual geração foi brilhante.
Cada um tem “O Show de Truman” que merece.
“Modo Avião” é o nosso.
“Modo Avião” já está disponível no catálogo Netflix.
